OLIMPÍADA
Veja atletas que valem 'ouro' pelo espírito olímpico
Por Paula Pitta

Os melhores atletas são "avaliados" pelas conquistas de medalhas de ouro, prata e bronze, mas os Jogos Olímpicos revelam outras grandezas dos principais esportistas do mundo. Mais do que ser craque no futebol, na piscina, no atletismo ou na ginástica, a Olimpíada revela campeões nos bons valores. São atletas que dão aula de honestidade, esportividade, coletividade, respeito ao adversário; ou seja, representam o espírito olímpico.
O espírito olímpico, se ele pudesse ser personificado, seria representado nesta edição da Olimpíada pelas atletas Nikki Hamblin, da Nova Zelândia, e Abbey D'Agostino, dos EUA. As duas participavam da prova dos 5 mil metros quando se chocaram e caíram.
Hamblin foi a primeira a se levantar, mas, ao voltar a correr para recuperar o tempo perdido, ela parou ao ver a adversária caída chorando e incentivou a americana a se levantar. As duas então voltaram a correr, mas Hamblin começou a sentir a perna, que feriu na queda.
Foi a vez de D'Agostino ajudar a colega a continuar o percurso. As duas terminaram a prova e se abraçaram na linha de chegada. A atitude delas foi reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) com a medalha de Fair Play esportivo.

E o que dizer do esgrimista Jiri Beran? Durante uma disputa com o brasileiro Athos Schwantes, o tcheco corrigiu o árbitro ao perceber que ele tinha dado o ponto de um golpe para ele, mas que, na verdade, não aconteceu.
O duelo estava no tempo extra, quando os esgrimistas tinham mais um minuto para pontuar. O brasileiro tinha aberto a vantagem com a 5 a 3, quando o árbitro marcou um ponto para o tcheco, mas ele corrigiu o erro e acabou eliminado. A atitude foi elogiada pelo brasileiro.

Contrariando árbitros, Simone disse que brasileira fez série melhor (Foto: Agência Reuters)
A norte-americana Simone Biles faturou cinco medalhas (quatro de ouro e uma de bronze) com suas acrobacias na ginástica artística. Mas foi fora do ginásio que ela deu exemplo de esportividade.
Com o bronze na prova de trave, a ginasta reconheceu que a brasileira Flávia Saraiva, que ficou em quinto lugar, foi melhor do que ela na modalidade. Em entrevista, Biles disse que achava que Flavinha merecia ficar com a medalha de bronze.

Mas além do respeito ao adversário, também há o cuidado com o parceiro. Quem chamou atenção nesse quesito foi Nada Meawad, que disputou as provas de vôlei de praia ao lado de Doaa Elghobashy.
A dupla do Egito é muçulmana, mas Elghobashy segue preceitos mais rígidos e usa calça e véu para jogar. Meawad não se incomoda em usar biquíni, mas abriu mão disso em respeito aos costumes da parceira.
No vôlei, as duas jogadoras devem usar roupas semelhantes. Então, Meawad enfrentou as altas temperaturas do Rio jogando de calça, para que a colega pudesse seguir seus preceitos do islamismo.

O baiano Isaquias Queiroz também deu exemplo de valorização do parceiro. Ele, que virou o principal atleta brasileiro ao conquistar três medalhas na canoagem, interrompeu a comemoração pela prata em dupla nos 1000 metros para pedir aplausos para Erlon de Souza.
Ainda dentro da água, discreto e atrás do parceiro, Isaquias o tempo todo apontava para Erlon, mostrando que ele também foi responsável pela conquista da prata e merecia o carinho da torcida. Um bom exemplo, afinal estrelismo não é incomum no mundo esportivo.

Lenda do salto com vara interferiu em "briga" entre brasileiro e francês (Foto: Divulgação)
Outro brasileiro foi um dos personagens de uma bonita cena dessa Olimpíada. A vitória de Thiago Braz no salto com vara deixou o francês Renaud Lavillenie chateado. Ele reclamou das vaias da torcida e disse que isso o desconcentrou.
Além da derrota em si, a relação de Braz e Lavillenie já vinha estremecida. Os dois não se falavam. Após a vitória do brasileiro e revolta do francês, que chorou no pódio, o ucraniano Sergei Bubka resolveu interferir na briga.
Bubka, que é o maior atleta de salto com vara da história - seis vezes campeão do mundo -, chamou os dois atletas para conversar. Ele falou com os dois separadamente e depois colocou ambos frente a frente. Ele falou sobre a importância do respeito e de eles competirem juntos.

Etíope terminou prova mesmo sem uma das sapatilhas (Foto: Agência Reuters)
A Rio 2016 também deu belos exemplos de superação, como o caso da etíope Etenesh Diro, que correu parte da prova de 3000 metros com obstáculos sem uma das sapatilhas. Ela perdeu o calçado durante uma confusão no meio da prova.
Em desvantagem, a atleta não conseguiu vaga na final. Contudo, a Federação Internacional de Atletismo deu uma nova chance para ela por considerar que a etíope não teve culpa no acidente.

Uma equipe em especial chamou a atenção na Rio 2016: o time dos refugiados. Seus atletas receberam o apoio e carinho da torcida brasileira. O judoca Popole Misenga foi um dos acolhidos pelo público.
Misenga nasceu na antiga República Democrática do Congo e veio para o Brasil em 2016, chegando a passar fome no país. Mas com o grito da torcida, ele chegou a glória ao se tornar o 1º refugiado a vencer uma luta olímpica.

Outra cena que chocou pela raça aconteceu durante a maratona do Rio neste domingo, 21. O iraniano Mohammad Moradi caiu a poucos metros da linha de chegada e, sem força para levantar, ele completou a prova engatinhando. Mohammad terminou a prova na 129ª posição e precisou de auxílio dos médicos.
Então mais do que Usain Bolt, Michael Phelps, Neymar e outros grandes nomes da Olimpíada, que esses atletas de "ouro" e seus exemplos sejam lembrados e façam história.
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