GASTRONOMIA
Festival destaca cachaça baiana como bebida sofisticada
Por Roberto Aguiar*

A cachaça, bebida que está na alma do povo brasileiro, é tema de festival em Salvador. O Moagem – Harmonizar com Arte de Alambique acontece em seis restaurantes da cidade, de terça, 12, até o dia 17, com o intuito de destacar as cachaças artesanais e os produtos de alta qualidade produzidos na Bahia.
"O objetivo é valorizar a principal bebida nacional e elevá-la ao patamar dos grandes destilados mundiais entre os próprios brasileiros. A cachaça é o único produto 100% nosso. Não existe a história do Brasil sem a cachaça", diz Presentación Gonzalez, da importadora de Cachaças Espanhola Engenho Brasil, realizadora do evento.
A ideia do festival nasceu nas conversas com os produtores, nas visitas aos alambiques do interior da Bahia, que encontram obstáculos na recepção dos produtos, pois há uma depreciação à cachaça historicamente construída. O Moagem – Harmonizar com Arte de Alambique é parte da batalha da descontrução do discurso de que cachaça é uma bebida de baixo status.
“Nosso país desenvolveu uma bebida única, de elevado padrão técnico, sofisticada e rica de sabores e de história. Criamos o Moagem justamente para enaltecer a arte dos alambiques e expandir o reconhecimento de sua qualidade e seus atributos. A cachaça artesanal deve ser uma opção natural do brasileiro”, avalia Presentación Gonzalez.
Hoje, a Bahia é o segundo maior produtor de cachaça de alambique do Brasil. No estado, a Chapada Diamantina e o Litoral Sul, nos territórios das Costas do Cacau e do Descobrimento, são as regiões que mais se destacam em produção. O Festival Moagem dará destaque a cinco marcas baianas com grande relevância no mercado nacional: Serra das Almas, Chapada Diamantina, Caraguataí, Matriarca e Abaíra.
Jantar harmonizado
Para incentivar o consumo e criar um circuito de referência para a degustação de boas cachaças artesanais, o Festival Moagem une a mais brasileira das bebidas com boagastronomia.
Seis restaurantes com estilos gastronômicos diferentes abraçaram a ideia: Pysco, no bairro do Santo Antônio Além do Carmo; Amado, no Comércio; Origem, na Pituba; Porto Bardawe, no Imbuí; La Taperia e Santa Maria, Pinta y Nina, no Rio Vermelho.
A cada noite do evento, sempre às 20h, um dos estabelecimentos ofertará um jantar harmonizado, orientado por Isadora Bello Fornari. "Tudo será construído junto com os chefs, levando em consideração o perfil de cada restaurante e do público. Assim decidiremos como a harmonização. Que drinks vamos preparar, o momento em que erá servido, se antes ou depois das refeições", explica Fornari.
Fabrício Gomes, chef do restaurante Origem, defende a iniciativa do festival como forma de ajudar a desfazer a imagem negativa construída em torno da bebida "Vai ajudar que os clientes experimentem a cachaça baiana e percebam que é um produto de qualidade".
Passado e presente
Desde a década de 1990, há um movimento que busca elevar a aguardente ao posto de destilado nobre. O Festival Moagem soma força a este movimento.
A cachaça é um produto com potencial de mercado e relevância econômica. Foi por esse motivo que Portugal buscou inibir a produção no período colonial. A venda e troca do produto representavam uma ameaça para a metrópole e seus lucros. Daí a propaganda negativa, desde o surgimento da cachaça por volta de 1516 na feitoria de Itamaracá, em Pernambuco. Desde então espalhou-se a falsa noticia de que era uma bebida de baixa qualidade, consumida apenas pelos escravos e brancos pobres.
A Semana de Arte Moderna de 1922 foi o ponta pé inicial para questionar a concepção dominante sobre a bebida. Mário de Andrade, um dos maiores expoentes modernistas, dedicou um estudo chamado Os Eufemismos da Cachaça.
O preconceito ainda não foi todo superado, mas os dados do Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC) revelam que o produto tem conquistado cada vez mais brasileiros. É a segunda bebida alcoólica na preferência nacional, perdendo apenas para a cerveja.
Mais de 1,5 bilhão de litros são produzidos anualmente. Na economia, movimenta R$ 7 bilhões e gera 600 mil empregos diretos e indiretos. São cerca de 40 mil fabricantes, localizados em todos os estados do país. “500 anos depois estamos redescobrindo a cachaça. A preocupação com a sua produção é completa, desde o solo, a seleção da cana e a água utilizada. É uma bebida de qualidade, sofisticada e merece seu devido valor. Estamos batalhando por isso”, diz Presentación.
| Serviço |
Festival Moagem – Harmonizar com Arte de Alambique
Quando: de 12 a 17 de dezembro, em Salvador
Onde: Cachaças Artesanais Baianas: Serra das Almas, Chapada Diamantina, Caraguataí, Rio do Engenho e Abaíra
*Sob a supervisão da editora Márcia Moreira
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes