SUSTENTÁVEL
Mercado imobiliário aposta em ‘empreendimentos verdes’
Gestão eficiente de recursos naturais, como reúso de água, é um diferencial
A sigla em inglês ESG, que representa sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa, é a palavra de ordem do mercado, inclusive nos setores imobiliário e de construção civil. No cenário em que 37% dos consumidores brasileiros estão dispostos a desembolsar mais dinheiro por produtos ecológicos e sustentáveis, de acordo com o estudo “Tendências de Bens de Consumo para 2024”, conduzido pela Neogrid em parceria com o Opinion Box, as construtoras e incorporadoras têm apostado cada vez mais em soluções de menor impacto ambiental, principalmente no melhor uso dos recursos hídricos e energéticos.
“Quero um IPTU verde” é uma frase cada vez mais ouvida nesse setor, de acordo com Alexandra Landim, presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA). “A escolha por equipamentos para reduzir consumo, o reúso da água, a iluminação com LED e outras alternativas sustentáveis nos condomínios geram economia na manutenção das edificações”, comenta ele. E o desconto de 10% que a Prefeitura de Salvador concede no imposto dos edifícios sustentáveis é mais um incentivo para os clientes.
Em 2015, a própria sede do Sinduscon-BA, em Salvador, se tornou uma referência de sustentabilidade no estado. Além de um telhado verde e jardins verticais com cobertura vegetal nativa, o edifício tem vidros de controle solar e funciona com energia renovável, graças a placas solares e energia eólica, e tem um sistema de captação de água da chuva. “Além disso, utilizamos ar-condicionado ecoeficiente, com um sistema a gás natural, que reduz em 90% a energia. E a própria condensação desse sistema é utilizada nos sanitários. Também fazemos reúso das águas cinzas, provenientes das torneiras e chuveiros”, acrescenta Landim.
Quase 10 anos depois desse edifício ser o primeiro a obter o Selo Ouro do IPTU Verde, outros prédios com proposta similar proliferam pela cidade. Um dos mais recentes é o Residencial Monvert, da OR, no Horto Florestal, que, depois de ter reduzido em pelo menos 20% o uso de água, eletricidade e da energia utilizada na fabricação dos materiais utilizados, recebeu neste mês o selo EDGE Advanced de sustentabilidade. Trata-se do primeiro edifício residencial do país a obter a certificação criada pelo International Finance Corporation (IFC), membro do Grupo Banco Mundial, que reconhece resultados como a redução energética de 40%.
Além de sistemas de reúso de água e geração de energia fotovoltaica, o condomínio conta com equipamentos de baixo consumo, sistemas que garantem maior eficiência térmica dos aparelhos de ar condicionado e dispositivos redutores de vazão de água nos metais e vasos da edificação. A preocupação com a sustentabilidade está presente desde o canteiro de obras, segundo conta Daniel Sampaio, superintendente da OR na Bahia. “Graças a uma parceria com um projeto de reflorestamento, zeramos a pegada de carbono da construção, e furamos um poço artesiano no canteiro, para um uso mais racional da água.” O projeto também incluiu o plantio de 1.500 árvores em Salvador, incluindo árvores frutíferas, para gerar conforto térmico.
A construtora do Monvert também optou por não criar um stand de vendas, uma construção temporária, que gera entulho e outros resíduos que vão parar em aterros. E, apesar dos clientes estarem dispostos a pagar mais por uma moradia verde, Sampaio afirma que a obrigação das empresas é garantir que a sustentabilidade não gere ônus aos clientes. Pelo contrário. “A melhor gestão dos recursos naturais reduz os gastos e faz baixar o condomínio, o que incentiva as pessoas a quererem morar num lugar assim”, diz.
François Rahme, CEO da F2 Construtora e Incorporadora, faz coro. A empresa assina o Alma Maraú, um residencial sustentável composto por 40 casas modulares, em Cassange, no sul do estado, construído, segundo ele, sem derrubar nenhuma árvore do terreno de 40.000 m². “Assim, conservamos sete mil espécies nativas e economizamos R$ 2 milhões com o projeto de paisagismo”, conta.
Depois de conquistar o primeiro lugar como projeto mais inovador e sustentável do Brasil no Green Building Council (GBC), o Alma Maraú ficou entre os 10 melhores colocados do mundo, concorrendo com 73 iniciativas de 23 países. Entre seus maiores diferenciais estão a parceria com o Instituto Lixo Zero, que fez do projeto o primeiro da Bahia a depositar 100% do lixo com coleta seletiva e destinação para um aterro sanitário registrado, e um sistema de esgoto biodigestor autossustentável, que garante que todo o esgoto seja tratado pelo próprio condomínio. “Todo o esgoto e gordura das casas são tratados por esse sistema inteligente e transformados em água limpa, que pode retornar ao solo ou ser reaproveitada pelo empreendimento”, explica Rahme. Segundo ele, o público tem cada vez mais interesse na sustentabilidade como valor agregado aos seus ativos imobiliários. “A sensação do comprador é de que ele está contribuindo para um mundo melhor.”
Além do luxo
Mas essa não é uma realidade exclusiva dos imóveis de luxo. Alexandre Landim, presidente do Sinduscon-BA, comenta que habitações de interesse social, escolas e hospitais, além de outros empreendimentos comerciais, investem cada vez mais em reutilização de materiais, melhor uso dos recursos naturais e gestão de resíduos. “Em programas como o Minha Casa, Minha Vida, a margem de investimento em materiais é tão apertada que, se você não tiver cuidado na gestão para evitar desperdícios, não tem como construir”, afirma.
Na sede do Sinduscon-BA, três dos oito andares se transformaram num hub da construção civil que reúne estudantes, fornecedores, projetistas, construtores e startups para pensar esse mercado dentro da agenda ESG. “O futuro ainda é pensar em melhor aproveitamento da água e energia”. Landim conta que a tendência é que sistemas de controle de consumo para monitorar indicadores e otimizar o uso desses recursos devem se tornar cada vez mais comuns em edificações de diversas faixas socioeconômicas. É uma exigência do mercado. “Quem não pensar nessas soluções, estará fora. Terá uma construção obsoleta em dois ou três anos”, sentencia.
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