CADERNO IMOBILIÁRIO
Retrofit de prédios antigos é uma tendência em Salvador
Edifício Capemi, no Iguatemi, é a mais recente construção da capital baiana a passar pela modernização
Por Fábio Bittencourt

Referência na capital baiana pela localização estratégica, o edifício empresarial Capemi, na avenida Antônio Carlos Magalhães (Iguatemi), vizinho ao Shopping da Bahia, foi inteiramente reformado e reinaugurado esta semana. As obras de requalificação do equipamento duraram seis meses.
A empresa responsável pelo retrofit (modernização) do empreendimento, a Jive Investments, não revela o custo com o projeto, mas especialistas consultados por A TARDE estimam algo em torno de R$ 10 milhões. A Jive é a nova proprietária do prédio de 12,2 mil metros quadrados de área útil, que se encontrava subaproveitado e depreciado.
Atualmente, todo o imóvel está à venda, com exceção das lojas já comercializadas ou em funcionamento. São dez conjuntos de 671 m² cada, sendo sete lajes inteiras com dois conjuntos cada; duas lojas de 100 m² e outra de 100 m², totalizando 10,7 mil m². Ideais para grandes negócios, fala João Oliveira, sócio e responsável pela área de investimentos imobiliários na Jive.
De acordo com o arquiteto Adriano Mascarenhas, o retrofit de prédios antigos ou em mau estado de conservação é uma tendência nas principais metrópoles do mundo, e deve passar a ser cada vez mais recorrente, diante do esgotamento de terrenos bem localizados, ou em áreas centrais.
Segundo ele, não sobra edificação para ser reaproveitada e reutilizada. “Normalmente são construções em áreas com infraestrutura urbana, com transporte público fácil, energia elétrica, bens públicos. É mais barato renovar um edifício do que expandir (a cidade com a criação de bairros)”, diz.
Sócio do escritório Sotero Arquitetos, Mascarenhas cita como exemplos bem-sucedidos de retrofit na capital baiana, a requalificação dos prédios dos hotéis Convento do Carmo (Pestana), Fasano e Fera Palace. E fala do potencial contido em imóveis na Rua Chile, Comércio, o próprio Mercado do Ouro.
“Em áreas paisagísticas de grande valor, com vista mar, monumentos. Edifícios inteiros privados que podem ser convertidos. O retrofit deve entrar com força na pauta do mercado imobiliário por uma questão duas vezes interessante, pela oferta e qualidade. Não se constrói localização”, fala.
A arquiteta Itana Lemos destaca que o retrofit caracteriza-se por “considerar o que foi proposto (originalmente) e adaptá-lo à atual necessidade” de uso do imóvel. “O trabalho interessante é o que leva em conta o que a sociedade demanda, preservando o estilo arquitetônico, e o adaptando”, diz.
“Gentileza urbana”
“Mesmo em um prédio comercial, a modernização precisa atender a necessidade da população, do usuário. Tem de haver inclusão, o chamado bem-viver, com espaço de convivência, lazer, paisagismo”, afima Itana.
Responsável pela obra de requalificação do Capemi, o arquiteto Thiago Sá, do escritório Ferraz Sá, conta que o projeto foi pautado pelos princípios de responsabilidade social e ambiental, e “forte demanda por eficiência energética”. Que a ideia era modernizar o edifício, mas entregar às pessoas um lugar de “pouso”, como “gesto de gentileza urbana”.
Ele pontua que a requalificação contou com o uso de muita madeira, alumínio, vidro; piso do tipo vulget (rústico, com pedrinha), vinílico e porcelanato; recurso de fachada ventilada e brises. E que tirou a “percepção de dois blocos” (A e B), unindo as marquises e revestindo tudo como um “grande invólucro”. A recepção foi ampliada e climatizada, e todo o interior do prédio passou por uma grande intervenção.
“Internamente o prédio estava bem degradado. Foi uma obra bastante complexa na concepção”, fala.
O empresarial ganhou praça com paisagismo, escultura assinada pelo artista plástico Ricardo Cavalcanti, e espaço para embarque e desembarque de passageiro de veículo por aplicativo.
João Oliveira, da Jive, fala que o prédio está pronto para receber novos empreendimentos, como hospital, faculdade, empresa de call center. E que lá vai ter restaurante, cafeteria, e uma rede ainda maior de serviços à população. No local já funcionam cartório de notas, loja da Coelba Neoenergia, clínica oftalmológica, assistência técnica da Motorola.
A Jive é uma gestora especializada em ativos considerados alternativos ou “problemáticos”, indo de crédito podre a imóveis nos quais os proprietários não querem mais investir, caso do Capemi. “O antigo dono não queria mais, já tinha gente em situação de rua passando a noite no local. Com a revitalização, o prédio leva mais segurança ao entorno”, diz Oliveira.
Esse foi o primeiro investimento em retrofit da Jive na região Nordeste. Atualmente, a empresa trabalha em seis edifícios, entre São Paulo e o Rio de Janeiro.
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