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CRÔNICA

A força do soluço

Quem quer viver de riscos, pode morrer de repente, num sopro, ou contratempo. Quem não quiser, também

Por Antonia Damásio*

16/07/2023 - 18:00 h
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Quem quer viver de riscos, pode morrer de repente, num sopro, ou contratempo. Quem não quiser, também. Não importa o domínio musical, o conhecimento ancestral, numa noite de blues ou num dia de puro cinza, sem cintilante, quedamos. Não domino a arte por detrás da cortina. Sequer sei contar as peças do dominó. Mas às vezes quem ganha o jogo é brindado pela sorte, apenas. O acaso e o risco andam de mãos dadas e em qualquer esquina você pode acertar a quadra e descobrir que o mais provável encontro é fortuito. Já a fortuna, está reservada ao infante que, com um lápis e papel ou em tela de cristal, desenha e conquista muitos mundos.

Que a vida é um risco sem solução de continuidade, mesmo os menos experientes já o sabem, sentem em cada célula. O tropeço está para a caminhada assim como uma interpretação equivocada do amor pode capotar uma amizade. Pegue a pista. Já trafegamos em vias de alto risco e baixa resolutividade, no mais das vezes.

No auge da complicação, no cruzamento desprovido de preferências, somos instados a nos movimentar. Liga o pisca para a direita, segue pela esquerda e precipita morro abaixo. Haja coração para transitar em Salvador. A vida urge. Às vezes também muge. Seguramente empaca.

É nessa hora que clamamos pela força do soluço. No susto, ocorrem as melhores respostas. De onde brota a iluminação? Do pessoal do backstage. Dos bastidores emergem soluções de contorno impensáveis. Somos expostos a milhares de estímulos todo o tempo e, quando menos atentamos, somos visitados pelo momento criativo. O Id por todo mundo ou é nossa catapulta, ou o bilhete de regresso à posição inicial – chorando com o bumbum de fora.

As luzes da ribalta deveriam repousar sobre o roadie. O pessoal que carrega a bagagem, confere os equipamentos, ajusta o som, segura a onda. Estão sempre camuflados, protegendo e saindo de cena. Deveriam se chamar holdings. Aquele suporte que sustenta nossas performances no palco da vida. Uma salva de palmas para todos os viventes anônimos que sustentam as tramas invisíveis e aguentam nossas inquietações sem cobrar ágio. Vamos tomar a via de mão dupla e nos abrigar na chuva de reciprocidade. Vale a pena parar alguns instantes e homenagear esses entes protetivos.

Para fechar o dia, na esquina da curva de Vinícius avistei o ebó da esperança: havia uma linda rosa vermelha adornada com uma garrafa de champagne. Não entendo nada de oferendas, mas essa linguagem é de domínio universal. O amor está no ar, no mar e na esquina. Mas hoje é outro dia depois do dia dos namorados. Junto à rosa já despetalada jaz um frango assaz depenado e muitos outros ovos quebrados. Acho que o amor desta feita não vingou. E do urubu? Já contei? Fiquei tão preocupada com o avistamento da farofa na esquina que liguei para um amigo do Axé. Perguntei se era um sinal de que a crise afetou os tambores, se era o apocalipse dos pretos ou o que?

Não concatenei e fiquei tentando segurar a minha fluida imaginação. Pensei em todo mal querer que poderia levar alguém a escolher o topo da cadeia alimentar. Sim, porque essa conversa de que nós estamos no topo é pura balela. Quem não corre risco de extinção é o pavão misterioso da carniça. Já repararam quantos habitam os postes da Orla de Salvador? Alguns têm pernoite certeiro em pousadas à beira mar. Eles só esperam e sempre alcançam. O urubu não flerta com a morte. Tem um pacto firme com ela. E não cabe triangulação. Onde ele espreita e coloca intenção, pode ter certeza que vai prosperar.

Na minha infância eu não lembro de ter visto entregas com abutres. Sou do tempo do bode, da galinha preta, gorda penosa e suculenta. Tinha cachaça e muito cigarro também. Pronto. O suficiente pra ficar nostálgica. A infância idílica, os primeiros pets, a descoberta do algodão-doce.

Voltei e não tenho resposta para os urubus. Só sei que os vi em sua jornada além túmulo, o que não aconteceu muitas vezes mais. A essa altura eu sonho com os sequilhos de Vitória da Conquista, trafegando nervosamente e, esperando, ENGORDEI.

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