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A luminosidade de Xenia França no novo álbum, Em Nome da Estrela

Cantora baiana de 36 anos lança seu segundo trabalho solo

Publicado segunda-feira, 20 de junho de 2022 às 06:00 h | Autor: Vinicius Marques
Para Xenia, trabalho recente foi um mergulho nas próprias sombras, para também reconhecer sua luz
Para Xenia, trabalho recente foi um mergulho nas próprias sombras, para também reconhecer sua luz -

A cantora baiana Xenia França declara-se uma pessoa que está sempre em busca. Uma busca de si mesma, principalmente. Esotérica, acredita que é possível viver em ressonância com a força e os elementos da natureza. “Tentando me colocar em primeiro plano na criação”, ratifica. Isso, é claro, acaba reverberando com muita força no seu trabalho musical.

 Aos 36 anos, a pisciana lançou recentemente seu segundo trabalho solo, o álbum Em Nome da Estrela, que chegou na última sexta-feira com show em Salvador, se apresentando pela primeira vez no palco do Teatro Castro Alves.

Nascida em Candeias, no recôncavo baiano, Xenia Érica Estrela França se considera praticamente uma camaçariense, isso porque, apesar de ter nascido no recôncavo, com menos de um mês de vida foi para Camaçari, cidade onde a mãe e o pai residiam, trabalhando na área petrolífera. E foi com o pai que ela teve o primeiro contato com a música.

Além de químico, ele era músico e tocava nas quermesses de São João, onde, inclusive, conheceu a mãe de Xenia. Mas, apesar dessa vivência com a música, afirma que não teve uma educação musical. Os pais se separaram quando ela tinha apenas três anos e foi criada pela mãe. “Mas tinha aquela aura do meu pai, músico e tal”, diz.

Na adolescência, surgiu a primeira aproximação do que viria a ser seu trabalho hoje em dia. Ela lembra desse momento como “algo alegórico”, participando de fanfarras, entre elas a Bamuca, a Banda Municipal de Camaçari. A paixão pela música surgiu ali: “Sempre fugia dos ensaios coreográficos para assistir os ensaios da orquestra”.

Aos 17 anos, a artista migra para São Paulo na busca por uma carreira como modelo, que resultou numa curta experiência na moda: apenas quatro anos. Em 2008, quando reencontrou o antigo amigo Fred Ouro Preto, no prêmio MTV Video Music Brasil, onde ele defendia o clipe Triunfo, do cantor Emicida, a música a arrebatou para sempre. Fred apresentou Xenia a Emicida, que a convidou para gravar a música Volúpia, no EP Sua Mina Ouve Meu Rap Também.

Neo-rap

Xenia já se apresentava em bares de São Paulo, mas essa foi sua primeira gravação profissional. Desde então, ela começa a circular numa cena rap, o “neo-rap de São Paulo”, como define. Nesse processo, em 2011, conhece o grupo Aláfia, que passou a integrar e chegou a gravar três discos. Nesse período, seu nome ganhou mais reconhecimento e a carreira deslanchou.

“O Aláfia foi muito importante para mim como pesquisa, uma experiência em múltiplas visões, sair por aí tocando, gravamos três discos. A experiência de banda é bem boa, de se relacionar, conhecer pessoas, melhorar nesse relacionamento, deixar de ser uma menina e me tornar uma mulher”.

Enquanto trabalhava com o Aláfia, Xenia sonhava com o momento em que produziria um disco solo, seu próprio canal de expressão. Isso só aconteceu em 2017, com o lançamento do autointitulado Xenia.  Com o primeiro solo, conquistou duas indicações ao Grammy Latino. Uma em Melhor Canção Brasileira, com a música Pra que Me Chamas?, e uma de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro.

Ela diz que essas indicações foram das coisas mais importantes que aconteceram para ela até agora, destacando o fato de ser uma artista independente. E não considera sorte, porque tem consciência do alto nível de todas as fichas que colocou nesse trabalho, mas assume que existia uma certa ingenuidade.

“Ingenuidade por um lado, mas por outro é lógico que a gente sempre quer ganhar novos patamares na vida em termos de carreira. É uma sensação de dois pesos e duas medidas, por um lado eu não esperava, mas por outro eu esperava. Quando recebi a indicação eu falei: ‘Yes!’. Foi a confirmação de que estávamos realmente fazendo a coisa certa”.

Antes do segundo trabalho solo, Xenia se aventurou em outros projetos, como o show de Carnaval ao lado das também baianas Luedji Luna e Larissa Luz, As Ayabass. Nos shows, elas celebravam músicas de cantoras pretas que vieram antes delas.

“Foi a celebração desse momento tão especial, de três cantoras baianas tão diferentes, cada uma com sua trajetória, especificidades, mas tendo êxito nas nossas escolhas”, resume.

O outro projeto foi o Acorda Amor, a convite da jornalista Roberta Martinelli e dos produtores Décio 7 e Devanilson Furlani. O projeto reuniu Xenia com as cantoras Liniker, Maria Gadú e, novamente, Luedji Luna. O projeto rendeu quatro shows e um disco de estúdio.

No meio disso tudo, ela ainda saía em turnê com seu álbum solo. No final de 2019, conseguiu o patrocínio para o novo disco, mas tinha uma pandemia no caminho. “Fiquei em 2020 vivendo esse grande luto e retomei o projeto em 2021”, conta.

Processo longo

Para Xenia, o trabalho mais recente, Em Nome da Estrela, foi um mergulho nas próprias sombras, para também reconhecer sua luz. “O processo foi longo, mas foi bom para poder chegar nesse resultado de agora”, diz.

O primeiro álbum solo de Xenia foi produzido por Pipo Pegoraro e Lourenço Rebetez, parceiros antigos da cantora. Pipo, inclusive, fez parte do Aláfia, mas conta que mesmo antes da parceria musical eles já tinham se encontrado antes em casas de amigos e em shows.

A dupla de produtores retomou a parceria agora no segundo álbum, e Lourenço conta que, para ambos os trabalhos, tudo começou como conversas informais na casa da cantora. “A gente começa a trabalhar com o que a Xenia traz, a gente opina, mas ela faz muito bem esse trabalho de curadoria de canções. O Pipo gosta de dizer que é muito empírico, colocando a mão na massa”, explica Lourenço.

Com o novo projeto na rua, a cantora e compositora agora se preocupa em mostrá-lo para o mundo. Depois de passar por São Paulo e Salvador com o lançamento do disco, agora vai seguir para os festivais de verão no Canadá.

No novo disco, ela canta 12 músicas, entre canções autorais, como Dádiva, escrito apenas por ela, e outras em parcerias. Também regravou duas canções: Futurível, de Gilberto Gil; e Magia, de Djavan. "Para mim, era muito importante colocar essas músicas no túnel do tempo e trazer para 2022, numa nova linguagem. Faz todo sentido e tem a ver com as outras músicas", explica. A nave de Xenia está a todo momento calculando a próxima rota a partir das narrativas imaginativas e sonhadoras de sua condutora, que quer mesmo é chegar em todo lugar.

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