CRÔNICA
Ano-Novo junino
Junho é mês de São João, e São João é o nosso Natal e Ano-Novo, dois em um, nordestino
Por Luisa Sá Lasserre*
O estouro parecia bem perto. Seria uma bomba caída no meu quintal? Onde não há medo de guerra, só pode ser sinal de festa. Não era final de campeonato nem nada. Não era Réveillon… mas, quase. Me dei conta de que junho havia chegado. E junho é mês de São João, e São João é o nosso Natal e Ano-Novo, dois em um, nordestino.
Percebi que estava na contagem regressiva para o meio do ano, assim como estive lá em dezembro. Quando o ano começa a pesar sobre nossos ombros, chega um novinho pra estrear mais uma temporada de esperanças. Aí vem um mês, outro, o tempo escorrendo apressado pelas frestas dos dias… No fim de junho, já se faz necessário um respiro maior para ganhar mais fôlego.
Deste litoral baiano, vi junho chegando festivo, colorido, menos quente na temperatura, mas bem aquecido nos corações. Não é assim em todo canto do Brasil. Nem todo lugar faz do São João um feriadão prolongado como aqui. Mas seja como for, há férias escolares, algumas começando em junho, outras em julho, muita gente aproveita para viajar.
Eu não sou, nem de longe, uma pessoa festeira, não me animo tanto com quadrilhas, música alta, danças, fogos… Tô mais para um sofá em frente à lareira, lendo um livro e tomando um capuccino no friozinho (quem dera, rs…). Mas, gosto desse clima diferente no ar que junho carrega consigo.
Por aqui, é o mês preferido de muita gente que conheço. Mês de festa e alegria, de mesa farta, de forrozinho. De comer amendoim cozido feito pipoca, sem conseguir largar a travessa… Mais viciante do que a temporada nova da sua série favorita.
Também é o mês das comidas de milho; milho cozido, assado, canjica, pamonha, bolo, mingau. Minha comadre faz até um caldo de milho com frango caipira maravilhoso. É como se tivéssemos passado por uma grave crise alimentar e só sobrasse o milho no mundo. Quem não gosta, feito uma amiga minha, tá lascado.
Só de quebrar um pouco a rotina de despertador, escola, trânsito, já comemoro. Nos Estados Unidos, o meio do ano marca o fim do calendário anual letivo. Entre um semestre e outro, o ano recomeça outra vez. Diferente da nossa cultura daqui, mas, será tão diferente assim?
Acredito que em junho vivemos uma espécie de mini-Réveillon. Repare que é só substituir umas coisinhas por outras, e pronto. No lugar de pular as sete ondinhas, dá para pular as sete brasas da fogueira. Em vez de branco, vestimos o xadrez. O panetone dá lugar ao bolo de milho. Os fogos, esses permanecem queimando as economias do mesmo jeito.
Metade do ano já se foi, a outra metade começa agora. Uma pausa, ainda que menor, para renovar as energias. O que faremos com esses seis meses prestes a inaugurar a segunda parte do calendário? Refazer os planos? Construir novos? Deixar tudo como está?
Não, não vou pensar em planejamento agora. Vou aproveitar esse feriado ali comendo pipoca, quer dizer, amendoim, e assistindo a uma série, enquanto o milho fica pronto. Ano que vem, quer dizer, daqui a uma semana, eu decido o que fazer. Pronto, mais uma bomba no quintal, sinal de que ainda é festa. Feliz Ano-Novo!
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