Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > MUITO
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

MUITO

Antigo prédio de A TARDE dará lugar ao hotel Fasano

Por Ronaldo Jacobina

17/08/2015 - 14:09 h | Atualizada em 21/08/2015 - 15:55
Fasano3
Fasano3 -

Em março de 1930, o jornal A TARDE inaugurava sua primeira sede própria. Das janelas do imponente prédio de sete andares, em estilo art déco, avistava-se a estátua de Castro Alves, erguida na praça que ganhou o nome do poeta, sete anos antes. Nos subsolos e primeiro andar do imóvel - o primeiro construído em concreto armado na Bahia - foram instaladas a redação e as máquinas de impressão. Do segundo ao quarto andares funcionavam consultórios médicos e odontológicos, alem de escritórios de advogados e construtoras, como a Norberto Odebrecht Engenharia.

Nos pisos acima, era grande o entra e sai de turistas que se deslumbravam com os 270 graus de vista para a Baía de Todos-os-Santos. Eram os hóspedes do Hotel Wagner, o primeiro empreendimento hoteleiro a funcionar no prédio erguido pela construtora E. Kemnitz Cia. & Ltda. Após décadas de abandono, a suntuosa construção, tombada pelo patrimônio estadual, voltará a abrigar um hotel. Desta vez, não apenas no quinto e sexto andares, mas em todo o imóvel, que será ampliado para receber a primeira unidade hoteleira do grupo Fasano no Nordeste.

As obras já começaram. A previsão para a conclusão é de 18 meses. De propriedade da Prima Empreendimentos Inovadores, responsável também pelo projeto de construção e restauro, o hotel deverá alavancar - juntamente com o Palace Hotel, que também está sendo recuperado - o projeto de requalificação do Centro Histórico, devolvendo-lhe sua vocação para o turismo.

Cerca de R$ 17 milhões, dos R$ 60 milhões previstos, já foram consumidos em obras de engenharia para preparar a edificação para implementar o projeto arquitetônico desenvolvido pelo paulista Isay Weinfeld, que prevê 70 suítes, todas com vista para o mar. Destas, seis serão masters e terão 176 m². A piscina, assim como o spa, a academia e a área de lazer ficarão no terraço, onde a visão para a Baía de Todos-os-Santos alcança os 360 graus.

O cuidadoso projeto de restauro inclui a recuperação de esquadrias de madeira, escadarias de ferro, mármores italianos, pisos e tetos. A história do jornal, hoje centenário, também promete ser resgatada pelos empreendedores. "Nós vamos trazer um pouco da história da Bahia para dentro do hotel, contada pelas edições do jornal A TARDE, que, até 1975, funcionou aqui", promete Nilson Nóbrega, CEO da Prima. A ideia, conta o executivo, é fazer algumas suítes temáticas que representem os quase 100 anos do prédio.

Adquirido pela construtora em 2007, o imóvel terá toda a sua fundação e estrutura de pilares reforçadas. "Foram sete anos de espera e muita persistência para deslanchar. Quando vejo a obra a todo vapor, a sensação de felicidade é muito grande", comemora Nóbrega.

A alegria não é só do empreendedor. O diretor do grupo Fasano - bandeira que vai operar o hotel -, Constantino Bittencourt, lembra que a longa espera para a retomada das obras foi dura, mas que agora é hora de comemorar e fazer os ajustes no projeto inicial. "Foram três anos sem rever o projeto, agora teremos que fazê-lo".

Resgate

O processo de restauro é delicado. Uma equipe de profissionais contratada pela empresa estudou todos os detalhes para devolver ao prédio sua imponência do passado. A fachada externa, toda feita em pó de pedra, passará por um tratamento e voltará a sua cor original. Nos subsolos funcionará a área de serviço, enquanto no térreo ficarão a recepção, o lobby e o restaurante Gero, ícone da gastronomia italiana gerida pela família Fasano. O Gero ocupará ainda parte da área onde funcionou o Cine Tamoio, antes batizado de Cine Glória.

Os lambris de madeira que recobrem parte das paredes do primeiro andar, onde ficava a redação, permanecerão lá. Parte deles ainda exibe as marcas de um pequeno incêndio provocado pela tropa do tenente Juracy Magalhães, numa tentativa de queima de documentos durante a Revolução de 30, poucos meses depois da inauguração do prédio-sede.

Palco das grandes manifestações políticas da época, a Praça Castro Alves era o cenário perfeito para a produção jornalística. "Tudo acontecia ali, não precisávamos nos deslocar para termos notícias quentíssimas", conta o jornalista Vítor Hugo Soares. Era ali também que a boemia era mais pulsante. "Vivíamos em contato direto com as fontes. Toda a intelectualidade baiana, artistas e a escória se encontravam no restaurante Cacique, que ficava ao lado da sede do jornal. Era um trabalho duro, mas a esbórnia compensava", lembra, às gargalhadas, a jornalista Heloísa Sampaio.

O anúncio da recuperação do prédio e a sua transformação em hotel de luxo reacendeu uma chama de esperança dos saudosistas que trabalhavam na região. Vítor Hugo acredita que o resgate dessa memória é muito importante para a cidade. "O Fasano e o Palace estão reabrindo os caminhos da boemia no centro". Para além das memórias afetivas, a chegada do hotel está causando ansiedade nos comerciantes locais. Isso porque o empreendimento deve atrair público e movimentar a economia local.

Pelo menos é essa a expectativa geral. O cineasta e gestor do complexo de cinemas Itaú-Glauber Rocha, Cláudio Marques há anos luta por investimentos na área. "Esperamos que esses empreendimentos atraiam novos negócios e garantam segurança e mais infraestrutura para o Centro Histórico", diz.

É esse o desejo do ambulante Adelson Santos, que há mais de 40 anos arma sua banca de guloseimas na região. "Eu vi isso aqui mudar. Testemunhei os tempos bons e a decadência. Agora estamos apostando na volta dos bons tempos", diz sorrindo.

Conhecida mundialmente pelos encontros de trios no Carnaval, a praça, cantada por Caetano Veloso, é o portão de entrada do Centro Antigo e está inserida no perímetro reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial. Do lado direito de quem sobe para a Praça Municipal está o Palácio dos Esportes, inaugurado em 1935 no lugar onde funcionou o primeiro teatro de ópera do Brasil, o Theatro São João, destruído por um incêndio no século 19. Do lado esquerdo está o futuro Fasano. Os dois formam um pórtico - apelidado pelos colonizadores como Portas de Santa Luzia - que antecede a Rua Chile, uma das mais tradicionais da cidade.

Turismo

Nada mal para quem atravessa oceanos em busca de história. Abandonada durante muitos anos pelo poder público, a região promete ressurgir, quase dos escombros, com os novos empreendimentos hoteleiros que se anunciam. O processo requer um esforço conjunto entre iniciativa privada, governos e a população. Cada um fazendo a sua parte.

O empresário Antônio Mazzafera, que está à frente da recuperação do Palace Hotel, garante fazer sua parte. Ele adquiriu 123 imóveis na região, onde pretende implantar restaurantes, galerias de arte, residências, lojas, farmácia etc. Longe de pensar em concorrência, ele diz estar feliz com essa retomada. "O Fasano vem reforçar o projeto de revitalização do entorno da Rua Chile. Junto com o Fera Palace, atrairão novamente o baiano para frequentar esta área tão especial de Salvador", diz. Para o investidor, os hotéis provocarão um novo olhar sobre o turismo na cidade. "Ambos atrairão gente do mundo todo interessada em história, cultura e que não abre mão de se hospedar com sofisticação e conforto".

A movimentação do setor privado impulsionou o poder público a anunciar obras de requalificação da região. O governo do estado anunciou investimentos de R$ 123 milhões para bairros do Centro Antigo. Entre as ações previstas está a mudança das fiações dos postes para o subterrâneo.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Fasano3
Play

Filme sobre o artista visual e cineasta Chico Liberato estreia

Fasano3
Play

A vitrine dos festivais de música para artistas baianos

Fasano3
Play

Estreia do A TARDE Talks dinamiza produções do A TARDE Play

Fasano3
Play

Rir ou não rir: como a pandemia afeta artistas que trabalham com o humor

x