VIRALIZOU NAS REDES
Artista baiano Eduardo Lima faz exposição em Londres
No mês de julho, artista apresenta novas obras no Museu Solar Ferrão, em Salvador
Por Vinícius Marques
Aos oito anos de idade, na cidade de Capim Grosso, o filho de um oleiro e de uma cozinheira teve seu primeiro contato com o fazer arte. Acompanhando o pai no trabalho, durante as férias escolares, Eduardo Lima colocou a mão na argila e esculpiu um rosto pela primeira vez.
A partir daquele momento, algo despertou no menino. Hoje, com 45 anos de idade, ele continua seu trabalho com a arte e já expôs suas obras em diversas cidades do Brasil e em outros países também.
Mais recentemente, o artista esteve presente com uma exposição em Londres e já se prepara para levar seus trabalhos para Paris, Estados Unidos, Dubai e Suíça. Em julho, ele apresenta novas obras em Salvador, no Museu Solar Ferrão, localizado no Pelourinho.
A inspiração de Eduardo foi mesmo os colegas de trabalho do pai dele na olaria, assistindo tantas pessoas realizando diversos produtos a partir do barro. “Via as pessoas fazendo aquelas panelas e todos aqueles objetos e me apaixonei por aquilo”, lembra.
Apesar de ter começado com esculturas, o trabalho de Eduardo é mais centrado nas telas. Ele conta que estava sempre desenhando na escola e recebia muito incentivo dos professores. Mas o trabalho com a arte ficou em segundo plano por um tempo.
Foi somente aos 20 anos que Eduardo pintou a primeira tela. Na época, ele trabalhava como frentista em um posto de combustível e o desenho era apenas um hobby. “Sempre que eu não estava trabalhando, estava em casa fazendo desenhos. Dos desenhos, criei o desejo de pintar telas, pintei, e no início era apenas para decorar as paredes da minha casa”.
As pinturas não eram produzidas com a intenção de venda ou exposição. Mas os amigos que visitavam Eduardo e sua esposa saíam de lá encantados e, muitas vezes, pediam para comprar uma das obras. Com o tempo, ele entendeu que precisava dedicar mais tempo à arte e divulgar o trabalho que produzia.
“Esse interesse dos amigos foi me motivando. Fui pintando cada vez mais, e no início vale lembrar que eu pintava de tudo: paisagem, casario, cavalo, tudo. Mas eu tinha a necessidade de ter algo que tivesse a minha cara, minha identidade”, diz o artista.
Sertanejo
Foi então que, observando as pessoas da região de Capim Grosso, as pessoas do sertão, criou um tipo que representa a figura do sertanejo. É essa figura que agora compõe todos os trabalhos do artista e é sua marca registrada.
“Esse personagem eu via constantemente chegando no posto, às vezes nos ônibus que chegavam de madrugada quando eu pegava o turno da noite, e sempre desciam aquelas pessoas que iam muitas vezes de Pernambuco para São Paulo”, lembra.
“Eles desciam para dormir no pátio do posto, às vezes eu conversava com eles. Essa figura nasce também dos retirantes, mas também das pessoas que trabalham na roça, dos feirantes, pessoas de vida simples”, explica.
Eduardo pintou repetidamente essas figuras enquanto ainda trabalhava como frentista. Logo, ele percebeu que precisava de mais tempo para se dedicar a esse trabalho e pediu demissão.
Com o dinheiro que tinha, comprou um carro e junto com sua esposa foram desbravar o sertão na tentativa de vender as obras que tinha produzido.
A dupla parava nas praças públicas da região e esse era o ponto de comércio deles. O artista lembra que, no primeiro momento, foi muito complicado, principalmente porque, em dado momento, o carro usado que eles compraram pegou fogo.
“Ficamos desanimados sem ter como levar essas pinturas adiante, mas mesmo assim eu não desisti. Fiquei trabalhando apenas na minha cidade mesmo, porque não tinha como levar”.
Por conta disso, em certo momento, o artista precisou achar um outro emprego para conciliar com a vida de artista. Eduardo, então, começou a trabalhar na construção civil, e no final do dia voltava a dar atenção à arte, produzindo mais quadros.
Quando não estava na construção civil e nem de frente para um cavalete, ele estava ligando ou mandando e-mails para galerias. “Sempre acreditei no que eu fazia, e queria que as pessoas vissem esse trabalho meu”.
Pandemia
Mas foi só nos primeiros meses da pandemia que Eduardo viu sua vida mudar completamente. Em junho de 2020, quando o influencer Felipe Neto encontrou o trabalho do artista na internet e compartilhou para seus milhares de seguidores, todos os olhos se voltaram para Eduardo.
“Acordei pela manhã e em meu WhatsApp não paravam de chegar mensagens. As outras redes sociais também bombando. Eu não sabia o que estava acontecendo, até ver os posts do Felipe Neto”, lembra o artista.
Depois da divulgação do influencer, que durou 30 dias, diversos convites de galerias chegaram para o artista, além de vários novos clientes de todo o Brasil. Eduardo também teve seu trabalho em destaque em programas de TV.
Hoje, o artista possui mais de 80 mil seguidores no Instagram, seu principal meio de divulgação, e 147 mil seguidores no Facebook. Celebridades como Emicida e Xico Sá reúnem-se aos cerca de 30 mil seguidores que Eduardo possui no Twitter.
Na recente viagem do artista para Londres, neste mês, ele expôs na galeria de arte contemporânea All Visual Arts, dirigida por Graciella Harger. Ela conta que conheceu o trabalho de Eduardo num período pré-pandêmico, ainda no Facebook, mas que somente agora puderam trabalhar juntos.
“Nós ficamos muito felizes quando ele aceitou expor em Londres devido à grande admiração que temos pelo artista e sua grandiosidade, e pelo que estamos prevendo, que o Eduardo Lima será um dos maiores artistas do Brasil em pouquíssimo tempo. A gente com certeza queria ter ele como parte dos artistas que exibem com a gente”, conta Harger.
Para a diretora da All Visual Arts, o interesse pela obra de Eduardo surgiu pela forma como ele retrata a beleza do povo nordestino de uma forma colorida: “Ele desmitifica aquela imagem negativa que as pessoas têm do Nordeste, da seca. Ele dá cor a tudo isso, ele dá uma cara diferente ao nordeste”, afirma.
Eduardo Lima mora em Barreiras desde 2006, mas apenas no ano passado construiu um ateliê para continuar produzindo sua arte.
Ele já está com agenda cheia até o final de 2022, com exposições no Brasil e exterior, mas outro convite para expor em Londres também já pintou e o artista baiano deve tentar encaixar esse retorno ainda neste ano.
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