MUITO
As frequências de Moreno Veloso
Por Eron Rezende

O flash da câmera chega até Moreno, 41, e o faz tamborilar no pedaço de papel que carrega no bolso, uma letra de canção ainda sem nome e fim. Busca, na umidade de um espaço, seu abrigo contra a luz que, como diz, rouba a alma e põe a identidade do homem do tamanho de um parágrafo. Sensação indígena, misturada a resquícios biográficos, a que recorre a cada pedido de pose ou resposta, durante as quase três horas de entrevista. Embora não negue o sorriso sincero e as histórias (Moreno é capaz de estendê-las até o limite), dá para ver o incômodo de quem ainda estranha ocupar o centro."Nunca sei o que querem de mim e sempre acho que tenho pouco a acrescentar", diz, sinalizando as vezes sem conta em que a imprensa o abordou "apenas por ser filho de Caetano Veloso" e as inverdades que já leu sobre o pai, a tia Bethânia e a madrinha Gal. "Vi muita manipulação e pouco pensamento positivo, por isso já recusei todo tipo de entrevista. Mas minha visão ficou mais elaborada: passei a achar lugares acessíveis".
Exercício que deve praticar com intensidade, a partir de maio, quando lança seu novo álbum, Coisa Boa. Embora não goste do termo solo, é assim que Moreno está pela primeira vez na carreira - tem o seu nome estampado em letras cheias e o poder de suas decisões posto à prova sem o escudo da autoria compartilhada, como fez em Máquina de Escrever (2000), o primeiro disco, lançado com os músicos cariocas Domenico Lancellotti e Kassin.
Moreno não se vê solo, ele explica, pelo ônus que a expressão carrega ("não estou sozinho; cada passo é um processo de ajuda mútua") e pela falsa gravidade evocada, que nada tem a ver com o ambiente no qual o álbum foi gestado, sua Salvador natal: em 2009, Clara Flaksman, com quem é casado, recebeu uma proposta de emprego e os dois se mudaram com os filhos, Rosa, hoje com 7 anos, e José, 4, para um apartamento no Rio Vermelho; olhar o mar, "esse espaço hipercondutor por excelência", o fez almejar o projeto.
"A praia é o território das férias, do ócio, da disponibilidade: estados frágeis e ao mesmo tempo promissores, que prolongam e preparam os incidentes que fazem as nossas histórias". A história de Coisa Boa, no caso, é feita de viagens ao mar e ao interior, de memórias geográficas e afetivas. Há a canção de ninar, que batiza o trabalho, além de baladas e sambas de roda que remetem ao Recôncavo. Ao todo, 11 faixas repassam cenários de alguma forma já visitados por Moreno em trabalhos anteriores (incluindo aqui suas funções de instrumentista e produtor). "Talvez seja o disco em que eu esteja mais presente", diz. "Mas claro que não se pode ser diferente daquilo que se é, mas em raros casos estamos de fato inteiros; em Coisa Boa, eu estou".
LEIA A REPORTAGEM COMPLETA NA EDIÇÃO DESTE DOMINGO, 10, DA REVISTA MUITO
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