MUITO
Bares temáticos: conheça espaços voltados para apaixonados por motos, fumo, cervejas artesanais e barbas
Por Bruna Castelo Branco

Uniformizadas de camisa polo e colete preto de couro, as nove meninas do motogrupo Styllosas, formado por mulheres, se encontram pelo menos uma vez por semana para celebrar uma paixão em comum: o motociclismo. “Liberdade, cabelos ao vento... É um sentimento que só quem anda de moto conhece. Não dá para explicar”, conta Jane Humildes, 40, presidente do grupo e motociclista há oito anos. Às quintas-feiras, tem criado o hábito de se reunir no Sport House Motorcycle, um bar-oficina em Lauro de Freitas que, nesse dia da semana, reúne entre 500 e 700 pessoas num espaço de 1.500 metros quadrados.
Nas noites de show, que acontecem apenas às quintas, uma mistura de cheiros de cerveja, cigarro e gasolina toma conta do espaço que, em horário comercial, funciona como uma oficina. O sucesso do lugar, é claro, basta ver as centenas de motos paradas na porta – fora as que, talvez inspiradas pelas histórias dos norte-americanos Hells Angels, sobem e descem a Estrada do Coco com motor e velocidade às alturas.
Tudo começou com uma pequena loja de motos de competição. “Abrimos há oito anos. Quatro anos depois começamos a nos voltar para o mercado street e hoje trabalhamos também com customização de motos”, explica Cássio Elsuffi, um dos proprietários.
O happy hour de quinta surgiu naturalmente, com o interesse cada vez maior dos “entusiastas das duas rodas”, como se define Jane, em ter um lugar próprio para parar, sentar, assistir a um show e conversar sobre viagens, estradas e destinos. “Surgiu mesmo como um churrasquinho entre amigos que gostavam de se reunir aqui para falar sobre a vida. Nunca tive a pretensão de que chegasse a esse tamanho, nada foi planejado”, comenta Elsuffi. O crescimento do evento e a consequente curiosidade de quem passa na porta para saber do que se trata, para Elsuffi, têm o seu lado positivo. “Mostra que os motociclistas são gente de bem. O preconceito ainda é muito grande, por causa de uma minoria que não respeita as regras”.
Na cultura motociclista, com origens na década de 1950 nos Estados Unidos, há rígidos códigos de conduta, principalmente entre aqueles que participam de grupos ou clubes, com processos de iniciação tão bem definidos que lembram a trajetória de um seminarista. “O que diferencia um e outro é que os clubes têm sede e os grupos, não”, explica Silvana Santana, 54 anos, vice-presidente do Styllosas.
Entre as regras usuais está respeitar as leis de trânsito – mas também há clubes com normas mais descabidas, como não aceitar homens casados, por exemplo. “Leva até um ano para sabermos se a iniciada tem o nosso perfil. Mas estamos sempre à procura de mais participantes, não posso ver uma mulher de moto que convido para participar”, conclui Jane.
No Sport House, membros de quaisquer círculos são bem-vindos. Elias Fraga, 53, conhecido como Herman no clube Falcões, do qual faz parte há uma década, garante que, enquanto tiver pernas, não deixará o motociclismo. “Eu perdi um irmão em um acidente de moto e, mesmo assim, não consegui parar. Éramos três irmãos motociclistas. Hoje só eu continuo. Deixar de andar de moto não existe”.
Barbaterapia
“Jack é um dos nomes mais conhecidos no mundo, à frente de John e Johnny”, explica Gustavo Vieira, gestor da barbearia Jack Navalha, conhecida não apenas por cortar, mas cuidar dos fios dos barbudos. “Eu não tenho barba, mas, se tivesse, gostaria de ser atendido em um lugar como esse”, diz Vieira.

À moda do Sport House, em horário comercial o Jack Navalha funciona apenas como uma barbearia com um bar, onde os clientes bebem enquanto esperam a sua vez. Às quintas, transforma-se em um espaço com petiscos, bebidas e shows de rock.
Há quase tantos estilos de barba quanto cortes de cabelo. Entre as opções mais procuradas estão o corte quadrado e o modelo lenhador, comprido e pontiagudo, que para chegar ao comprimento adequado pede uma espera de até nove meses. “É uma febre agora. Muita gente chega aqui querendo uma do tamanho da minha”, diz o barbeador Dinho Soares.
Alheio ao intenso movimento das 20h de uma quinta-feira, causado pela banda que tocaria naquela noite, e pelos clientes e bartenders que circulavam pelo salão, Dinho cuidava da barba de um cliente quase tão longa quanto a dele. Além de cortar e moldar, a barbearia também oferece a chamada barbaterapia, procurada por quem busca ostentar fios brilhantes e sedosos. “Depois que você faz a primeira vez, não quer deixar de fazer. Usamos cremes, esfoliantes, é muito relaxante”, diz Vieira.
No freezer
Mais curioso do que um bar com cerca de 60 rótulos de cerveja artesanal é vestir uma fantasia de urso e entrar em um freezer para pegar a bebida. Na Toca do Urso, os amantes de cerveja são encorajados a ‘desibernar’, levantar da cadeira e enfrentar um frio de 0° C para escolher uma garrafa, que pode custar de R$ 12 (Hoegaarden, 330 ml) a R$ 356 (Deus, 750 ml). “Os preços são mais altos porque a produção é diferente, em uma escala menor e com insumos de qualidade”, explica Débora Matos, sommelier do bar.

Segundo Gustavo Baiardi, proprietário da Toca e do Pereira, há tantos clientes conhecedores de cerveja quanto aqueles que entram no espaço sem nem saber por onde começar. “Muitas pessoas não conheciam essas cervejas porque o acesso era mais limitado, não tinha em tantos bares”.
No universo cervejeiro, ainda há alguns mitos a serem superados. Além das questões de sabor, “muita gente acha que toda cerveja é amarga”, diz Débora, existe a lenda de que cerveja boa é cerveja puro malte. “Quem disse que só é bom se for puro malte? Muitas cervejas, como as belgas, levam vários outros ingredientes na composição. Mas, para esquecer dessa ideia, é importante estar disposto a conhecer novos gostos e a desenvolver o paladar”.
Narguilés
A máxima do artista René Magritte (1898-1967), que afirma que a pintura de um cachimbo não é um cachimbo, vira uma pergunta na tabacaria e head shop (loja especializada em cultura canábica) Isso é um cachimbo?, único espaço fechado em que é permitido fumar em Salvador.

Aberta inicialmente como uma lojinha de produtos ligados ao fumo e objetos de decoração, a casa cresceu e tornou-se um espaço de socialização, com um bar, café e um hookah lounge para quem fuma narguilé. “Sempre tivemos a intenção de fazer um espaço assim. Quem frequentava a loja pedia isso”, comenta Lucas Moura, 34 anos, um dos sócios.
De origem oriental, o narguilé é um tipo de cachimbo a vapor, utilizado para fumar tabaco aromatizado – ou até mesmo o aroma sem tabaco, para não fumantes interessados na experiência. “As pessoas que vêm aqui querem um lugar acolhedor e livre de julgamentos. Existe um estigma em relação aos lugares que carregam o nome head shop”.
Na tabacaria, foge-se dos clichês relacionados à Cannabis, como a figura de Bob Marley e a Jamaica. “Eu ouço Bob Marley, mas não quero reforçar esse estereótipo. Na cultura canábica tem gente de todo tipo, não queremos que pareça que todo mundo é igual”, diz a gerente Luna Nery, 35. Antes de voltarmos à redação, me perguntam: “Quer fumar ou beber alguma coisa?”. “Não, preciso voltar para escrever”, respondo. “Que pena!”.
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