MUITO
Batalhas de Break: reconhecimento de nova modalidade olímpica
Modalidade vai estrear nos Jogos Olímpicos de 2024, na França
Por Álene Rios
Surgido nas ruas do Bronx, em Nova York, em 1970, com as comunidades negra e latina, o breakdance explodiu nos Estados Unidos por volta de 1980, e deu seus primeiros passos no Brasil nos anos 1990. Assim como outras expressões artísticas que chegaram ao país, recebeu influências do cenário cultural que já existia. Na Bahia, por exemplo, a dança absorveu movimentos da capoeira e o gingado presente em outras expressões regionais.
Os dançarinos são os break-boys ou break-girls, encurtados como b-boy e b-girl, e integram a cultura hip hop, que também se expressa na música, com DJs; na arte, com o grafite; na moda e com os MCs do Rap.
Em Salvador, a história da dança, também conhecida como breaking, começou na região do Subúrbio e, atualmente, os grupos vêm organizando eventos em seus bairros e até mesmo no centro da cidade, onde não somente a dança se faz presente, mas intervenções poéticas e batalhas de MCs ganham espaço.
Grupos como Breakzas, Unidade All Star e Estilo Brasil estão em plena atividade. O Certo pelo Certo e Quebrada 071 são alguns desses eventos, e é possível acompanhar onde cada um é realizado e assistiras b-girls e os b-boys através do Instagram @hiphopagenda.ba. A cena também é altamente influenciada por eventos que promovem Batalhas de Break, como a que ocorreu no último domingo, dia 8 de maio, no Festival Internacional Vivadança, pela 14ª vez.
Coordenador da batalha de break do festival, o dançarino Ananias Break entende o Hip-Hop como uma filosofia de vida. Técnico em dança e teatro e operador de câmera, ele mudou os planos que tinha e investiu tudo no breaking assim que conheceu, em 1995, quando já tinha uma família e outra profissão. “O Subúrbio de Salvador concentrava a maior parte de bailes, o Black, de Peri Peri, era o maior; havia também bailes em Paripe, Plataforma e dois no Lobato. A galera começou a dançar nesses bailes”, recorda.
Numa batalha de break, é possível notar a individualidade de cada dançarino, ainda que seja em dupla ou trio, por exemplo. E o que um dia foi apenas diversão nas ruas, vai estar oficialmente entre as modalidades olímpicas nos Jogos de 2024.
“Não tem como separar o break de outras danças, porque é dança. Na França, é considerado uma das expressões artísticas contemporâneas mais importantes. Porque o b-boy tem que respeitar a batida, o ritmo, a música, e os fundamentos da dança. Mas ele tem a liberdade de acrescentar estilos de qualquer dança. Posso dançar break e incluir os passos de balé, capoeira, posso colocar qualquer outra técnica, respeitando minhas bases”, diz Ananias.
Os b-boys José Augusto e William Conceição formaram a dupla que levou o primeiro lugar da batalha do festival e integram o grupo Breakzas, que há 13 anos movimenta a cena local. Para José Augusto, a cultura hip hop, hoje, só não é sempre bem-vinda porque as pessoas ainda têm preconceito com os movimentos, mas mesmo assim ele acredita que isso vem mudando aos poucos com o hip hop conquistando espaços.
“Fico muito feliz em saber que o break de Salvador partiu do Subúrbio, e o Subúrbio está dando continuidade a tudo isso, então, a ligação que a gente tem é muito forte porque começou aqui, e amo o que faço”, diz ele.
A falta de mais incentivo para dançarinos do estilo talvez seja uma das razões para a modalidade olímpica ainda não estar tão fortalecida. A realidade de muitos b-boys e b-girls é de tentar conciliar uma outra jornada de trabalho à dança, e tirar dinheiro do próprio bolso para conseguir estar em competições.
O b-boy William Conceição começou no Break da mesma forma que José Augusto, em um projeto de escola aberta. Para ele, espaços como o do Vivadança são necessários para que as pessoas compreendam o significado da dança e ela se expanda.
Atualmente, com uma rotina que envolve trabalho, família e menos espaço para praticar os esportes da sua infância, o breaking é a conexão que o b-boy não larga de jeito nenhum.
“O Break impactou a minha vida grandiosamente, de diversas formas, me proporcionou amigos, uma família, que é a minha crew, fiz viagens que nunca imaginei fazer, com a adrenalina boa de estar disputando, diferente dos esportes que a gente faz quando criança. Hoje em dia a minha diversão é essa, antigamente eu fazia capoeira, surf, andava de skate e o break preencheu todos esses espaços. Fui deixando tudo de lado, menos o breaking, ele segue comigo e eu não me imagino mais sem”, diz William.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes