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ABRE ASPAS

Conselho de Psicologia faz campanha por ética em serviços online

Confira entrevista com a Presidente do Conselho Regional de Psicologia da Bahia

Por Gilson Jorge

27/08/2023 - 4:30 h
Presidenta do CRP-03, Catiana Nogueira
Presidenta do CRP-03, Catiana Nogueira -

Desde os primórdios da indústria da cultura e do entretenimento, crianças carismáticas são incentivadas a seguir uma carreira artística. A atriz Elizabeth Taylor fez o seu primeiro filme em 1942, aos 10 anos de idade, e se tornou uma estrela do cinema. Mas nem sempre funciona a vida toda. Shirley Temple era atriz aos 3 anos de idade, tornou-se uma artista mirim de sucesso e aos 22 já estava fora da indústria.

Atualmente, com as redes sociais, é grande a tentação de transformar a fofura infantil em conteúdo para a internet e tentar impulsionar uma carreira através da internet. O brasileiro Noah Tavares ainda não tem 6 anos de idade, mas sua página no Instagram registra 1,7 milhão de seguidores. Mesmo quando a carreira deslancha, ainda há riscos para o desenvolvimento das pequenas estrelas, como mostra o episódio em torno da atriz e cantora Larissa Manoela, cuja disputa por autonomia com os pais se tornou pública este mês. Os prodígios da mídia estão sendo preparados para lidar com o sucesso ou com o fracasso?

Para discutir essas questões, A TARDE entrevistou a presidente do Conselho Regional de Psicologia da Bahia, Catiana Nogueira dos Santos, mestre em educação, com especialidade em desenvolvimento humano, educação e inclusão social. Hoje é o Dia do Psicólogo e a presidente fala também da campanha lançada este mês pelo Conselho para combater desvios éticos em consultas oferecidas online pelos profissionais da categoria e rebate a declaração da cientista Natália Pasternak de que a psicanálise é uma "pseudociência ".

Há duas semanas, o noticiário nacional aborda a disputa entre a atriz e cantora Larissa Manoela, 22 anos, e seus pais em torno do dinheiro que ela ganhou com o seu trabalho desde criança. É um drama familiar, com implicações no crescimento de uma pessoa jovem, que virou tema das redes sociais. A partir da psicologia, como a senhora enxerga esse conflito, o interesse que ele desperta nas pessoas e o tratamento da mídia ao assunto?

Isso parte muito do meio de comunicação e a necessidade da exposição, principalmente de artistas. Esse caso tem dois aspectos. O primeiro é o financeiro. Pela impossibilidade de a atriz ter acesso aos seus recursos, a exposição acaba lhe dando uma oportunidade de engajamento para ir atrás de novos recursos. E tem o aspecto emocional, em que ela tem essa vivência familiar que chegou a uma questão de conflito insustentável e ela não conseguiu mediar por vias legais. Ela teve que fazer uma quebra desse sigilo de família por não ter mais acesso a recursos financeiros. Mas compreendemos que a intervenção de um profissional da psicologia, se ela estiver tendo acompanhamento psicológico junto com um advogado para ver como fazer essa intervenção no contexto familiar, surtiria um efeito sem a necessidade da exposição. Mas pelo fato de ela ser famosa, uma atriz e cantora, a mídia vai atrás dessa informação.

Há outros casos de artistas mirins, crianças prodígios que ficam famosas muito cedo. Como a senhora acha que os pais devem gerir essa possibilidade de tornar seus filhos celebridades? São adultos decidindo sobre a exposição da imagem de seus filhos. Como avalia isso?

Toda família tem a guarda das crianças, mas independente disso existem as legislações estabelecidas. Dentro do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente há um artigo que trata da garantia da privacidade e da não exposição de crianças a contextos de conotação sexual, por exemplo. Mas as redes sociais permitem uma exposição muito maior dos menores e garantem aos pais a obtenção de recursos financeiros em prol de seu filho ou filha. Mas tem o processo de gerenciamento. Essa criança em algum momento vai se tornar um adulto que precisa, dentro do seu processo de crescimento, ter responsabilidades. E essas responsabilidades dão direito ao gerenciamento de sua própria carreira, para que ela ganhe autonomia e aprenda a administrar os seus gastos e fazer suas escolhas. Não é porque a pessoa é famosa que deve se expor a qualquer situação. Essa autonomia de escolhas na carreira, aliás, já deve começar na adolescência, antes mesmo da autonomia financeira.

Se algum cliente expressa sua dúvida sobre colocar ou não um(a) filho(a) pequeno(a) para trabalhar como ator mirim ou influencer, o que a senhora recomendaria?

Vamos orientar essa família no contexto de estabelecer limites da exposição nos meios de comunicação e nas redes sociais, mas também abordar se a família compreende o quanto esse processo no longo prazo vai impactar no desenvolvimento da criança. A gente não vai dizer o que é certo ou errado, mas garantir que os pais percebam quais são as escolhas que eles têm feito para essa criança e quais são as consequências que isso pode acarretar. Porque a criança não teve ali o seu processo de escolha, mas com o seu desenvolvimento ela pode querer direcionar a carreira para outras questões dentro do seu processo de amadurecimento.

A pandemia trouxe isolamento social, o medo de morrer e de perder pessoas queridas através de uma doença agonizante como a Covid-19. Junte-se a isso a experiência política vivida nos últimos anos e muita gente precisou de apoio psicológico. A procura por psicólogos aumentou, de fato?

Em relação à pandemia, muitas pessoas acabaram entrando em contato com realidades com as quais elas não estavam acostumadas. Às vezes, as pessoas tinham uma relação mas só se viam pela manhã, à noite ou nos finais de semana e, durante o isolamento, passaram a conviver intensamente e enxergaram os erros, as fragilidades, as questões em que, de fato, há divergências. Mães e pais que não conviviam em tempo integral com os filhos passaram a conviver e viram seus processos de desenvolvimento. Quando houve o retorno ao presencial, essas pessoas voltaram de forma acelerada, querendo resolver tudo urgentemente.

Durante a pandemia, tudo foi muito urgente. E foram processos em que as pessoas já tinham questões emocionais, mas não buscavam tratamento. Diante dessa realidade, acabamos constatando que estas pessoas perceberam agora a importância da saúde mental e de fazer a terapia porque havia questões emergentes que vieram à tona. Não vinham 100% à tona antes porque as pessoas não buscavam acesso a essas informações. Desde o ano 2000 a gente vem observando a questão do atendimento online. A pandemia fez aumentar a procura pela prestação de serviços nesse modelo. A pandemia facilitou a busca por essa modalidade, mas queremos que esse serviço seja ampliado através do setor público, pois nem todo mundo vai ter condição de fazer esse serviço online particular. O serviço público precisa se qualificar até para entender se eles podem ou não, devem ou não, se adequar a essa modalidade online.

O Conselho Federal de Psicologia comemorou este mês 50 anos de existência e houve inclusive uma sessão especial na Câmara dos Deputados em homenagem à data. E hoje é o Dia do Psicólogo. Como a senhora avalia a relação dessa profissão com a sociedade? Há uma campanha sobre ética em curso, não é?

O Conselho Regional de Psicologia da Bahia realiza todo mês de agosto uma ação denominada Mês PSI, em que nós conseguimos organizar a realização de diversas atividades, em todo o território baiano, com o propósito de refletir sobre diversas informações importantes para a categoria e a sociedade em relação ao exercício profissional. Este ano, a campanha tem como tema A PSI tá on, debate sobre a ética profissional. Os projetos foram selecionados através de edital público pelo site do CRP 03. Essas ações compreendem mesas temáticas, oficinas, seminários, que vão possibilitar que os profissionais do setor façam uma discussão junto à sociedade sobre a importância da ética na divulgação profissional nas mídias sociais. Os limites éticos na captação de clientes via tecnologia da informação e comunicação (TICs), empreendedorismo e marketing digital na psicologia e a contribuição dessas TICs para a oferta de serviços de Psicologia durante a pandemia.

A nossa proposta é levar reflexão para a categoria sobre a modalidade de prestação de serviços online, mas também conscientizar a sociedade para buscar profissionais que estejam qualificados e inscritos no CRP. Além da divulgação da campanha nas redes sociais do Conselho, nós divulgamos em busdoor, outdoor e outros meios.

O que gerou a necessidade de promover essa campanha?

Na pandemia, houve uma procura muito grande de contratação de profissionais de psicologia pela modalidade online. Esse serviço já era praticado antes da pandemia, mas não tinha muita visibilidade e nem era praticado por muitos profissionais. Esse período serviu para que outros profissionais aderissem a essa modalidade. Mas é preciso garantir que o serviço seja oferecido com qualidade, segurança e ética profissional.

Houve muitos casos de desvio ético durante a pandemia?

Sim. Houve casos como divulgar nome profissional incompleto e sem o número do CRP, promover divulgação taxativa de resultados, atender paciente respondendo mensagens de áudio fora de local de trabalho sigiloso e promover divulgação de casos de pacientes em redes sociais. Utilizar o preço como forma de propaganda também é outra infração ética on line bem recorrente.

A cientista Natália Pasternak, que se notabilizou durante a pandemia pela defesa do tratamento científico, escreveu em seu livro Que bobagem! que a psicanálise é uma "pseudociência". Como a senhora responde a isso?

A nossa própria resolução diz que a psicologia tem a possibilidade de realizar diagnósticos, não é? As pessoas usam uma dinâmica de não compreender que a psicologia tem estudos científicos como embasamento teórico. Mas se você for buscar na literatura vai encontrar documentos que fazem comprovações científicas evidentes. Dentro da psicologia há várias possibilidades a serem executadas. O profissional pode escolher que linha seguir. E uma dessas abordagens é a psicanálise. Só que a psicanálise não é uma atividade privativa do psicólogo. Há pessoas formadas em outras áreas que podem fazer um curso livre de psicanálise e se tornarem psicanalistas. O que a gente recomenda é que quem esteja buscando a psicanálise procure um psicólogo com formação nessa área para ter um profissional mais capacitado.

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