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Consumidores garantem ótimo momento para os brechós online

Publicado segunda-feira, 28 de dezembro de 2020 às 08:00 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Maria Clara Andrade*
Fashion designer, Luciana Orrico descobre brechós pelo país | Foto: Uendel Galter | Ag. ATARDE
Fashion designer, Luciana Orrico descobre brechós pelo país | Foto: Uendel Galter | Ag. ATARDE -

Você já assistiu Friends? A série que completou 25 anos de lançamento no ano passado e ainda tem muitos fãs entre os jovens de hoje, deixou sua marca em mais um quesito: o estilo dos personagens. As roupas de Rachel Green, por exemplo, são referências de moda dos anos 1990 que surgem ao pesquisar pelo tema na internet. As peças com cintura alta, o uso e abuso do jeans e da estampa xadrez… Em pleno 2020, esse guarda-roupa é o sonho de muitos jovens que curtem o estilo vintage e tem impulsionado o crescimento do mercado de segunda mão.

Com apenas 15 anos, Luciana Orrico deu início à sua experiência com brechós. Através da página no Instagram da mãe de um amigo que vendia roupas usadas, comprou um biquíni. Cinco anos depois, ela se tornou fashion designer e a paixão por roupas antigas a faz descobrir brechós pelo Brasil.

“Compro muito de Ponta Grossa, no interior do Paraná, porque eles conseguem muita coisa nesse estilo vintage, anos 90. Não sei se é por que são culturas diferentes, o regionalismo, mas lá para o sul e sudeste tem muita roupa vintage, aqui não tem tanta”, considera.

Como fashion designer, Luciana também costuma frequentar brechós físicos de Salvador, mas com o intuito de customizar as roupas. Chega a encontrar peças por até R$ 2, mas para comprar e usar de vez, ela acredita que não vale tanto a pena. “Prefiro o online por praticidade, geralmente as peças que compro ficam entre R$ 30 e R$ 50 e tem o frete ainda”.

Kizzy Lumumba, 23, é outra jovem que entrou na onda dos brechós. A estudante de comunicação comprou pela primeira vez em um brechó em 2017, quando foi com amigas garimpar na Barroquinha. Depois de muito caminhar, encontrou peças do seu gosto e por um preço bem em conta.

Mas hoje, Kizzy também afirma priorizar a praticidade e os atributos da peça: “Eu vou pelo estilo. Antes eu ia muito pela economia, só que dou até um dinheiro razoável se for uma roupa de qualidade, tiver uma boa curadoria. Porque é o que vale, é o que estou procurando”.

Ela comprou em brechó online apenas uma vez, daqui de Salvador mesmo, mas esteve na fila para tentar pegar mais peças em outras páginas durante a quarentena. “Eu ia comprar umas três peças, só que não consegui pegar a tempo porque quando eles lançam a roupa você tem que comentar que está na fila e não deu tempo”, lembra. Mesmo com tal dificuldade, Kizzy diz que, ainda assim, prefere optar pelos brechós online.

“Dá para ver mais o estilo das roupas que tem, o físico você tem que garimpar muito, você não sabe direito qual o estilo de roupa que tem ali. E, geralmente, acho que tem roupas de melhor qualidade nos brechós online, não sei o por quê. Não sei se é por conta de quem administra, não faço ideia”, avalia a estudante.

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Para Marsyta, do Suricatta, “maioria está comprando” || Ag. A TARDE

Qualidade

É justamente por conta da curadoria que as peças dos brechós online se tornam mais atrativas para os consumidores. “A maioria das pessoas acha que o processo de curadoria é só lavagem e reparo. E a curadoria, na verdade, é o ato de cuidar. Quando você fala que um brechó tem curadoria é porque ele tem um cuidado sobre aquelas peças, sobre aquela marca, sobre o que ele quer trazer para o cliente”, explica Marsyta Oliveira, dona do Suricatta Brechó, que funciona através do Instagram.

Quem opta pelo brechó virtual, se depara com peças previamente selecionadas por meio do processo conhecido como “garimpo”. Assim como garimpeiros trabalham à procura de pedras preciosas, Marsyta vai aos bazares em busca de peças para o seu público.

“O primeiro processo quando vou garimpar é que eu sei quem são meus clientes e trago peças para eles. Peças usadas você vai achar nos bazares, só que peças usadas no estilo que você gosta, higienizadas, customizadas, você vai achar naquele brechó”, diz.

Aos 29 anos, formada em design, Marsyta iniciou sua trajetória trabalhando com brechó ainda na faculdade. Junto com outras amigas, ouviram a sugestão dos colegas, pedindo para que vendessem no pátio alguns dos achados que encontravam quando garimpavam. “A gente não conseguiu nem montar as araras porque o pessoal ficou super empolgado. Então, a gente decidiu a partir daí manter as vendas online, pelo Instagram”, lembra.

Depois de concluída a graduação, restaram apenas duas amigas na sociedade, que optaram por se separar, cada uma com o seu brechó. Há pouco mais de um ano, Marsyta mudou-se para uma nova página que já tem mais de 5 mil seguidores e é responsável por gerar 100% de sua renda.

Durante a pandemia, ao invés de ser atingida pela crise, assim como outros setores, ela viu o seu número de vendas saltar. “Eu já acreditava que era uma área que tende a crescer, as pessoas estão passando a ter consciência de que o que vale é o que aquele produto tem para lhe oferecer. Você quer se vestir e passar aquela expressão, não importa se é nova ou usada”, analisa Marsyta, que teve um aumento expressivo em compras. “Às vezes, a gente ganhava muito seguidor e nem todos compravam muito, agora não, a maioria que está ali está comprando realmente”.

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Taís Teixeira, do Pretas Brechó: mais vendas | Foto: lipe Iruatã | Ag. A TARDE

Crescimento

Não foi só para o Suricatta Brechó que os bons ventos sopraram durante a quarentena. Taís Teixeira, dona do Pretas Brechó, também relata um crescimento extraordinário durante o período: “Muito mais pessoas estão comprando, tive um crescimento muito significativo durante a pandemia, foi muito rápido, como nunca tinha tido em outro momento, as pessoas passaram a consumir muito mais mesmo”.

Taís tem 22 anos, é estudante de oceanografia e, para ela, o brechó também surgiu de maneira inesperada. Foi pela necessidade de se livrar de roupas antigas – e de fazer uma graninha – que há quatro anos decidiu criar uma página também no Instagram para anunciar peças junto com a irmã.

“Acabou que as pessoas gostaram, começou a vender significativamente bem, as minhas peças acabaram e aí eu comecei a garimpar. Acabou que minha irmã saiu da sociedade e fiquei sozinha”, conta. Nesse tempo, a página já conquistou mais de 10 mil seguidores.

Ambas as jovens vendem para todo o Brasil. Contam que o seu público está majoritariamente em Salvador, mas costumam vender para os estados do Sudeste e Nordeste, por terem um frete acessível. E nenhuma delas pensa em montar lojas físicas.

“Penso muito nos gastos de ter um espaço e que hoje em dia as pessoas realmente preferem o online. Acho que isso chama atenção das pessoas”, reflete Taís. Marsyta também descarta a possibilidade de uma loja, mas, moradora de Lauro de Freitas, reconhece que gostaria de morar mais próxima de seu público, onde pudesse fazer atendimento agendado.

*Sob a supervisão do editor Marcos Dias

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