Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > MUITO
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

CEO DO BARCELONA DE ILHÉUS

“Criamos uma metodologia de empresa e aplicamos no clube”

Opinião de Weliton Nascimento, empresário e CEO do Barcelona de Ilhéus

Por Gilson Jorge

20/02/2022 - 6:00 h
Weliton Nascimento, empresário e CEO do Barcelona de Ilhéus
Weliton Nascimento, empresário e CEO do Barcelona de Ilhéus -

Caso vença o Bahia de Feira neste domingo, 20, o Barcelona de Ilhéus ficará muito perto de garantir uma vaga na Série D de 2023 do Campeonato Brasileiro, em seu primeiro ano como integrante da primeira divisão do campeonato baiano. Seria um feito extraordinário para o seu fundador, o empresário Weliton Nascimento, um ilheense aficionado por esportes que trabalhou na roça até os 18 anos. Depois, migrou para São Paulo, virou homem de negócios à frente da Adilis, empresa de mão de obra terceirizada e marketing, além de outras empresas menores, e em 2019 criou uma fundação para atendimento a crianças através de uma escolinha de futebol que, no ano passado, em estreia como time profissional, conquistou a segunda divisão do estadual e garantiu o acesso à primeira divisão.

Por conta das fortes chuvas que causaram grande destruição no sul do estado, o Barcelona de Ilhéus está mandando os seus jogos em Feira de Santana. Mas mesmo longe de casa, o time, fruto de um investimento de R$ 3 milhões, está fazendo bonito. Nas cinco primeiras rodadas, sofreu apenas um gol. E as três vitórias por 1x0 foram suficientes para garantir provisoriamente o terceiro lugar na tabela, à frente do Vitória e do Bahia, que derrotou com um golaço no fim do jogo, em plena Arena Fonte Nova, no último dia 9.

Será o destino de todo time de futebol deixar de ser um clube social e virar empresa? Nesta entrevista, Nascimento fala da sua experiência no futebol, da possibilidade de o Bahia adotar uma gestão empresarial, como Cruzeiro e Botafogo, e comenta o sucesso do Barcelona de Ilhéus, que após estampar em sua camiseta de jogo um pedido de ajuda à cidade natal e outras ações de marketing, atingiu 260 mil seguidores no Instagram, mais de seis vezes o que tem o Atlético de Alagoinhas, atual campeão baiano e com 51 anos de existência.

O senhor é um homem de negócios. Quando surgiu o seu interesse pelo futebol?

Eu sempre joguei bola, a chamada várzea, sempre fui desportista, corro a minimaratona. Mas tenho interesse em desenvolver na cidade de Ilhéus, onde nasci, algo que possa compreender as necessidades de uma sociedade mais justa. Com as condições que criei em São Paulo, eu e os diretores de minha companhia preenchem essa vontade. Em 2018, tive uma experiência dirigindo o Colo-Colo [Outro time de Ilhéus, fundado em 1948, em homenagem ao homônimo chileno e campeão baiano em 2006] como um fã do time. E realmente foi uma experiência muito positiva, mas não avançamos nas questões por ser um time com raízes políticas muito profundas e prejudicava demais qualquer ingresso de qualquer empresa que tem governança, como a minha. A gente não avançou devido a disputas internas muito sérias e complexas dentro de um time tão simples. Questões políticas devastadoras acabaram com qualquer possibilidade, ainda mais para incluir na gestão uma empresa com governança, código de ética, uma série de coisas. Era algo completamente surreal. Nós participamos da Série B de 2018 apenas na gestão. Não tinha participação alguma na diretoria até para não vincular meu nome. Em 2019, fundamos a Fundação Barcelona para fazer esse atendimento às crianças. Descobrimos que podíamos fazer com pouco dinheiro um trabalho muito mais fácil através de uma bola, no final de 2019. Foi um enorme sucesso, porque nos quatro primeiros meses, entre o final e 2019 e o começo de 2020, foram mais de 3.500 crianças atendidas. Foi quando veio a pandemia e Ricardo Lima [presidente da Federação Baiana de Futebol] convidou para formalizar a abertura do clube. E nós já formalizamos a abertura do clube como uma sociedade anônima, Barcelona S/A como nome de fantasia e a razão social é Ilhéus Soccer. Investimos nessa sociedade anônima cerca de R$ 3 milhões na abertura de um modo geral e nas três competições que participamos até o momento. Um torneio em Feira de Santana em 2020, a segunda divisão em 2021 e a primeira divisão este ano. Ainda há limitações profundas. Não há campo em Ilhéus para treinar, enfrentamos distâncias surreais, viajamos quase 4 mil quilômetros de distância para jogar, enfrentamos todo tipo de dificuldades que você possa imaginar para treinar, mas criamos uma metodologia de empresa e aplicamos no clube e acho que nós temos sucesso por causa de alguns targets [objetivos], fechamos alguns gaps [lacunas] que havia na gestão. A falta de mão de obra especializada foi reduzida com algumas pessoas que vieram de São Paulo e, assim, a gente vai levando, com um ponto de vista empresarial, liderança, foco e superando aquilo que a gente não tem, que é ritmo. Nosso time não tem ataque ainda. Tem defesa, força física, mas não tem ataque. A gente supera uma coisa perdendo outra.

O nome da empresa é Ilhéus Soccer. Pode acontecer o mesmo que ocorreu com o Primeiro Passo de Vitória da Conquista, que assumiu o nome da cidade?

Nenhuma referência.

Já há perspectiva de fechamento de patrocínio?

São valores expressivos e complexos para atrair empresas da região. Em 2022, nossos recursos são próprios e de algumas empresas de São Paulo. Estamos criando motivos e justificativas para procurar empresas de porte grande da região para as próximas temporadas. Infelizmente, o comércio não consegue bancar um time de futebol, mesmo que sejam vários comerciantes. A cinta é bem alta. Pontualmente, alguns recursos financeiros talvez possam vir do comércio. A expectativa de patrocínios é de marcas nacionais, bancos e multinacionais.

Como o senhor vê o futuro do time, com a possibilidade de galgar desafios maiores? Pretende construir um estádio próprio ou manter o mando de campo no Estádio Mário Pessoa, em Ilhéus?

O caminho é muito longo. Vivemos em uma região com deficiências quase oceânicas, em se tratando de futebol de alto rendimento. Nós ainda temos que transpor muitos obstáculos. O estádio vai ser o de Ilhéus. Estamos construindo uma semi-base para ser o centro de treinamento, porque não podemos depender do estádio. A base para formar atletas é bem difícil, mas vamos insistir com atletas da região de Ilhéus e Itabuna. Formar mão de obra e buscar patrocínio. Dificilmente vamos encontrar no comércio da região patrocinadores que garantam uma verba alta para competições que exigem um investimento de pelo menos R$ 1 milhão, para que seja uma competição justa. É um erro muito sério dos gestores de futebol, talvez por falta de alternativa, apostar no comércio. Imagine o dono de uma loja de material de construção te entregar um cheque de R$ 20 mil ou R$ 30 mil todo mês para botar no futebol. Somente bancos, financeiras, multinacionais ou casas de apostas têm potencial para isso. Essa é uma lição que todos os presidentes, antes de inscrever o time na competição, precisam aprender, se não ficam sofrendo no meio do caminho. O futebol, como produto, está cansado. Eu quero renovar para receber investidores. Somos uma empresa de capital fechado. Ainda não é o momento para abrir ações, mas quando for atrativo vamos fazer isso.

Costuma ir ao estádio ver as partidas? Como é a relação cotidiana do empresário com o time? No que a sua gestão difere de outras agremiações esportivas?

Assim como nas empresas, o time tem metas a serem cumpridas. Temos, por exemplo, bônus por aproveitamento e prêmios extras. Raramente acompanho os jogos, por conta da minha agenda de negócios em São Paulo, que é complexa, mas faço videoconferências. Gosto de enviar vídeos para os atletas e para a comissão técnica. Costumo ligar para os jogadores que se destacam nas partidas e cumprimentar os aniversariantes. O clube não tem uma diretoria, nem mesmo diretor ou gerente de futebol. Tem um staff e cada um tem suas funções claras.

O Cruzeiro foi comprado por Ronaldo Fenômeno, o Botafogo e o Vasco estão em processo de venda de seus departamentos de futebol e mesmo no Bahia cogita-se a possibilidade de um investidor estrangeiro. Times que estão começando agora podem se beneficiar dessa onda? Considera que para clubes como Bahia e Vitória o modelo empresarial é inevitável?

Sou empresário e estou bem no meu segmento de negócios. Eu diria que o bom de ser empresa para os clubes de futebol é que você é obrigado a ter governança, a seguir orçamento, a respeitar o seu budget, ou seja, o seu orçamento, e você não se aventurar porque daqui a três quatro anos vai ter outro presidente. Quem é S.A. vai cair [ser rebaixado] como qualquer outro cai, vai ser campeão como qualquer outro, mas o respeito a quem vai divulgar a marca no seu uniforme com certeza vai ser melhor porque o clube que é uma empresa vai olhar melhor para o torcedor, vai olhar melhor para as contas, diferente de quem vai só pela paixão. Quem vai pela paixão emite cheque, assina duplicata, promissória e deixa para o próximo presidente. A S.A. vai trazer um pouco de disciplina para aqueles que não são disciplinados.

Vocês fizeram essa campanha agora por causa das enchentes no sul da Bahia, colocando a frase SOS Ilhéus na camisa do time. Qual foi o resultado?

Além de tirarmos nossas duas empresas do espaço publicitário, nós causamos um impacto com o marketing emocional muito forte. Trouxemos para perto da nossa marca muita simpatia, muita gente de outras torcidas, muita gente de outros mercados. As visualizações aumentaram muito e vimos o respeito por parte da sociedade aumentar demais. Além do apelo emocional, isso veio realmente de coração. E o marketing emocional é muito mais forte do que simplesmente divulgar os nomes das nossas empresas.

Esse aumento de visualizações explica, por exemplo, que a conta no Instagram do time já tenha 260 mil seguidores, seis vezes mais do que o Atlético de Alagoinhas tem?

Acho até que poderia estar maior. O Instagram tem uma política muito intensa de aumento de seguidores que represa seguidores, solta aos poucos. Eu não acompanho as redes sociais, mas nós já sabemos pelos nossos controles e medidores que há pelo menos 15 mil seguidores represados, que eles vão colocando aos poucos.

Fale um pouco de sua vida empresarial. O que faz a Adillis e como o senhor começou a empreender em São Paulo.

Comecei de forma muito simples, como toda história de nordestino que mora na roça. Em São Paulo, fui ajudante de pedreiro, mas continuei estudando. Sou contador, sou administrador, sou psicólogo e minha carreira toda é formada em pessoas. Hoje eu tenho empresas do segmento de trade marketing e terceirização. Temos cerca de 10 mil empregados. Os meus negócios como empresário começaram há 24 anos. Tem uma mistura aí de sofrimento, dor, e agora a gente pode comemorar o sucesso e compartilhar isso com a cidade de Ilhéus, com o time do Barcelona. Não falta nada para eles e espero que com esse exemplo de negócio e de resultados a gente consiga investidores para as competições que a gente conseguir vaga.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Weliton Nascimento, empresário e CEO do Barcelona de Ilhéus
Play

Filme sobre o artista visual e cineasta Chico Liberato estreia

Weliton Nascimento, empresário e CEO do Barcelona de Ilhéus
Play

A vitrine dos festivais de música para artistas baianos

Weliton Nascimento, empresário e CEO do Barcelona de Ilhéus
Play

Estreia do A TARDE Talks dinamiza produções do A TARDE Play

Weliton Nascimento, empresário e CEO do Barcelona de Ilhéus
Play

Rir ou não rir: como a pandemia afeta artistas que trabalham com o humor

x