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19/11/2023 às 6:10 - há XX semanas | Autor: Renato Alban

MUITO

Criatividade sem fronteiras no Festival Afrofuturismo

Festival Afrofuturismo acontece em Salvador

Ema Ribeiro (de branco) e Gabriela Palha, fotógrafas
Ema Ribeiro (de branco) e Gabriela Palha, fotógrafas -

“África é o passado, presente e futuro do mundo”. É dessa forma que a estilista baiana Isa Isaac Silva explica o Festival Afrofuturismo, que será realizado no Centro Histórico de Salvador, amanhã e terça-feira. Reconhecida no mercado da moda nacional pelas referências afro e indígena, a baiana vai participar de um painel sobre moda e tecnologias sociais no festival.

Outra participante do evento, a escritora e educadora carioca Janine Rodrigues afirma que “é fundamental que a população negra se inteire do afrofuturismo”. “Esta perspectiva nos ajuda a acreditar e construir outros olhares sobre nossas singularidades: quem somos, quem fomos, quem podemos ser”, diz Janine, que vai integrar o painel Afrofuturismo em HQ.

No festival, a designer paulista Karen Santos vai participar de uma discussão sobre mulheres na tecnologia. Karen é cofundadora da organização UX para Minas Pretas, voltada para a educação e empregabilidade de mulheres negras no mercado da tecnologia. “Vejo o futuro das mulheres, principalmente das minas pretas, na tecnologia, com um olhar realista mas cheio de esperança”, diz ela.

Além dos painéis, o festival também terá palestras, oficinas e atividades culturais, como o projeto Estúdio África, que vai fotografar frequentadores do evento em fundos decorativos. O conceito, explica a criadora da iniciativa, a antropóloga baiana e curadora Goli Guerreiro, é recriar a prática antiga de ir a um estúdio fotográfico, trazendo um viés comum aos países africanos.

De acordo com Goli, há uma diferença na interpretação da fotografia no ocidente e na África. “Aqui, a foto é um documento da realidade, já para os africanos a foto é uma simulação da realidade”. Para ela, essa é proposta do conceito do afrofuturismo: “É aquele olhar para as práticas criadas no continente africano e que estão sendo entendidas como algo muito modernizador do nosso modo de vida”.

Experiência

As fotos do Estúdio África, que está na quarta edição, serão feitas por duas fotógrafas baianas, Ema Ribeiro e Gabriela Palha, com quem desejar ter a experiência. E pela primeira vez o projeto vai ocorrer num espaço interno, o Salão da Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus (Pelourinho)

“O afrofuturismo dialoga com meu trabalho quando eu conto histórias de futuros possíveis”, destaca Ema. “Quando falo sobre a perspectiva de a gente poder ter nossos sonhos realizados, fabular novas histórias, para mim, isso é afrofuturismo”, completa.

O festival terá, nesta quinta edição, o mote De volta para o futuro, com temas como sustentabilidade, inovação, tecnologia, diversidade, moda e inclusão. A programação é promovida pelo Promovido pelo Hub de inovação Vale do Dendê, patrocinada pelo Governo do Estado, iFood, YouTube e pela Prefeitura de Salvador.

Cofundador da Vale do Dendê, o publicitário baiano Paulo Rogério Nunes afirma que o festival valoriza Salvador por uma perspectiva pouco representada, que envolve inovação, tecnologia e futurismo. “O evento reúne as principais mentes globais que estão pensando o futurismo e a tecnologia no Centro Histórico de Salvador, nos principais casarões do terreiro de Jesus”.

Esse movimento, diz o publicitário, comprova que a cultura da Bahia dialoga com os mais importantes tópicos e assuntos mundiais. “A nossa criatividade não tem fronteiras”. Entre esses tópicos, Paulo Rogério cita trânsito artificial, blockchain e web3. Segundo ele, o Afrofuturismo vai receber pessoas de 13 países. “Nossa cultura pode alcançar qualquer lugar do mundo”, diz ele.

Driblando desafios

Com atenção às práticas africanas ancestrais e modernas, o festival também vai reunir em Salvador participantes baianos de outros estados. De São Paulo, Karen Santos vem discutir como incluir mulheres, especialmente negras, nas empresas de tecnologia.

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apenas 12,3% dos cargos desse mercado no Brasil são ocupados por mulheres. Para Karen, isso se deve a barreiras sociais, culturais e educacionais, além de estereótipos de raça e gênero.

“Muitas vezes, o ambiente de trabalho é pouco acolhedor, inclusivo e integrador para mulheres negras”, detalha. A proposta da UX para Minas Pretas, criada pela designer, é driblar esses desafios, gerando oportunidades para as mulheres e para o mercado.

“Promover a diversidade na área de tecnologia é muito mais do que fazer o certo em termos de justiça social, é também uma jogada inteligente para qualquer empresa que queira se destacar”, ressalta.

Karen cita uma pesquisa da consultoria McKinsey & Company que aponta que equipes diversas têm melhores desempenhos em comparação a concorrentes menos inclusivos. Com essa inclusão, as empresas também serão mais capazes de usar a tecnologia para resolver problemas sociais, diz a designer. “Com a conscientização aumentando e com o suporte de iniciativas como a UX para Minas Pretas, acredito que a gente vai ver mudanças reais nos próximos anos”, projeta.

Para Karen, o festival é uma oportunidade de destacar essa importância da inclusão e da representatividade no setor tecnológico. “O evento nos permite reimaginar um futuro em que a tecnologia não apenas inclui, mas é moldada pelas experiências e perspectivas negras”. A paulista ainda elogia a escolha da sede do evento: “Que lugar melhor que Salvador para reimaginar esse futuro, né?”.

Do Rio de Janeiro, Janine Rodrigues trará para o Festival Afrofuturismo a experiência à frente da organização Piraporiando, que, ao mesmo tempo, funciona como uma escola e publica livros e encartes antirracistas, antibullying, antipreconceito e em prol da equidade de gênero. A iniciativa já recebeu o Prêmio Criança da Fundação Abrinq e o Selo Retratos da Leitura do Instituto Patrícia Lordêlo.

Educação

Presente nas listas da revista americana Forbes das 12 pessoas negras inovadoras que estão elevando a educação no Brasil e das 13 mulheres que usam a tecnologia para mudar o mundo, Janine conta que o Piraporiando surgiu de um desejo de infância. “Não tinha esse nome, mas sempre esteve em meu imaginário”. Segundo ela, a iniciativa já alcançou mais de 80 mil crianças.

“Toda semana, a gente recebe relatos dentro e fora do Brasil sobre como nossos personagens e histórias têm potencializado a saúde emocional das pessoas, principalmente negras”, destaca a educadora. A Piraporiando também promove formações de letramento racial para empresas e órgãos públicos. O objetivo, explica Janine, é estimular a autoestima de profissionais negros.

Ela ainda é autora dos livros da organização, como No Reino de Pirapora e Escada. Apesar de dialogarem com crianças e adolescentes, as obras não são elaboradas para determinadas idades.

“Escrevo o que sinto, o que vivo e como tudo me afeta”, diz ela. Nos livros, histórias boas nutrem caminhos positivos para pessoas negras. “Precisamos ter outras possibilidades”.

Pratas da casa

Janine ressalta ainda a participação da amiga Isa Isaac no festival. Para a baiana, pensar em afrofuturismo está relacionado ao investimento em três pilares: sustentabilidade, humanização e diversidade. Com destaque no mercado de moda de São Paulo, Isa afirma que o setor precisa de mais investimento para ser mais sustentável.

“A moda por si só já está pronta, mas não existe investimento governamental, não existe o entendimento que moda é cultura”, afirma a estilista. Para ela, a falta de recursos atravanca o próprio mercado. “Num lugar onde a moda não é tida como cultura, não existe o mercado de moda e nisso o Brasil está patinando, infelizmente”, critica.

A estilista conta que, numa viagem recente para Uagadugu, capital de Burkina Faso, na África Ocidental, teve a percepção de que o futuro do mundo está no saber africano: “Todo meu trabalho dialoga com o afrofuturismo, a existência de qualquer pessoa afro é afrofuturismo, a vida negra existente é afrofuturismo”.

Assim como Isa, a fotógrafa Ema Ribeiro é de Salvador. “Fui criada no bairro de São Marcos, e a periferia atravessa a minha existência”, diz a artista. Ela descreve esse espaço da cidade como “potência”. Foi por meio de uma experiência com a fotógrafa do Mali (país da África Ocidental), Fatoumata Diabaté, na terceira edição do Estúdio África, que ela recebeu o convite para participar neste ano.

“Juntar a minha fotografia, meu olhar, com as inspirações que Fatou provoca e desenvolver algo novo é bem incrível”, afirma Ema. Fatoumata é um dos principais nomes da fotografia contemporânea e o retrato com fundos decorativos faz parte da estética africana presente no trabalho da malinesa. Essa estética estará no Estúdio África do festival.

A proposta faz parte, segundo a idealizadora, Goli Guerreiro, de uma perspectiva sobre a fotografia comum no continente africano: “É um deslocamento. Por exemplo, um nigeriano que sonha em ir à Meca, posa num fundo decorativo que simula a Meca. É uma forma de realizar um sonho”.

No festival, o projeto terá três fundos, um de tecido e dois retratando Senegal e Benim, e roupas garimpadas pelo diretor técnico da ação, Carlos Freitas, no bairro do Nordeste de Amaralina, em Salvador. “As fotógrafas vão montar [a composição] e a foto será enviada na hora para o retratado”, adianta Goli.

O Estúdio África ficará no Salão da Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus (Pelourinho), amanhã, das 13 às 16h, e dia 21 de novembro das 10 às 16h, gratuitamente, para todos os públicos e faixas etárias.

SERVIÇO

O que: 5ª edição do Festival Afrofuturismo, com palestras, painéis, oficinas e atividades culturais sobre inovação, tecnologia e diversidade

Quando: Amanhã, 20, e terça-feira, 21

Onde: Centro Histórico de Salvador (Casa Vale do Dendê, Museu de Energia, Museu Eugênio Teixeira, Casarão Dezessete, Faculdade de Medicina da Bahia, Praça Tereza Batista e Largo Quincas Berro D'Água)

Quanto: R$ 75 (meia-entrada), R$ 150 (inteira) e R$ 600 (passaporte com encontros corporativos no evento para duas pessoas)

Como comprar: pela plataforma de venda online Sympla

Programação: No site www.valedodende.org e no Instagram: @valedodende

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