PERFIL
Emília Nuñez vence Prêmio Jabuti de literatura infantil
No dia 5, ela recebeu o Prêmio Jabuti na categoria infantil pelo seu livro Doçura
Por Gilson Jorge

O último mês de 2023 começou intenso para a escritora baiana Emília Nuñez, 37 anos. No dia 5, ela recebeu o Prêmio Jabuti na categoria infantil pelo seu livro Doçura e, na mesma semana, assinou contrato com a editora portuguesa Infinito Particular, que vai imprimir 1.500 exemplares de A Menina da cabeça quadrada, seu livro de estreia.
"Eu acredito que escrever, para crianças, especialmente, é um ato de amor, uma revolução amorosa, que acontece pelo afeto e pelo fortalecimento dos vínculos", afirma Emília, que em sete anos de carreira escreveu 23 livros, incluindo o mais novo trabalho, Chorar é como chover, ilustrado por Lincoln Marinho, baiano radicado em São Paulo.
Doçura, o vencedor do Jabuti, ilustrado por Anna Cunha, é o ápice até o momento dessa trajetória iniciada em 2016. A obra é um livro-imagem que tem como tema a valorização da contação de histórias na formação de leitores mirins.
No livro-imagem, a narrativa é contada apenas por ilustrações. Nesse caso, Emília criou a história e roteirizou. "Anna ilustrou e também trouxe novos olhares para o enredo", diz a escritora.
Voltado a crianças de 2 a 12 anos, o livro também foi agraciado com o Prêmio de Melhor Livro de Imagem em 2023, concedido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), que ainda o classificou como "altamente recomendável ". Doçura já havia recebido o Selo Cátedra 10 – 2022, categoria Distinção, prêmio outorgado pela Unesco e pela PUC-Rio.
A escritora afirma que quando recebeu de Anna Cunha o livro pronto sentiu que era algo especial, mas disse que ainda assim considerava o Prêmio Jabuti uma possibilidade distante.
"Quando saiu a lista dos semifinalistas, eu disse: caramba! E quando saiu a lista dos finalistas a gente gritou tanto!", lembra a escritora.
"Foi um pouco assustador para os vizinhos", completa Eduardo Nuñez, 39 anos, irmão da escritora e editor da empresa Tibi Editora , que funciona em um centro comercial na Avenida Paralela.
Emília conta que ao chegar ao Teatro Municipal de São Paulo para a cerimônia de entrega dos prêmios, o nervosismo foi rapidamente substituído por um sorriso que não se desfazia por motivo algum. "A gente estava ali, em meio a tanta gente que eu admiro. Quando anunciaram o nome do meu livro, Edu me abraçou. Mas a ficha demorou de cair", afirma Emília.
Interagindo
A literatura não foi a primeira escolha da vencedora do prêmio. Quando era criança, Emília gostava não apenas de ler, mas de interagir com outras pessoas em torno de um livro, fosse alguém lendo para ela ou ela mesma lendo para um interlocutor.
"Eu lembro de, pequenininha, escrever e inventar histórias. Mas nunca tinha pensado em ser escritora". A vontade surgiu quando a então advogada, mãe de dois filhos – Gael, de 10 anos, e Malu, de 8 – passou a ler histórias para eles.
A rotina de entreter um menino e uma menina inspirou a genitora a criar suas próprias histórias. "Eu tinha 30 anos quando fiz a transição de carreira, pensando em viver de livros".
Emília afirma que seus filhos consomem muita literatura infantil feita por autores locais: "Temos nesse momento um movimento muito interessante de livros para a infância feitos na Bahia: Ricardo Ishmael, Renata Fernandes, Ana Fátima, Alessandro Marimpietri, Nini Kemba, Caroline Adesewa, muita gente boa".
A atuação de Emília tem outros campos. Na Internet, ela usa a página do Instagram Mãe que lê, atualmente com mais de 135 mil seguidores, para dar dicas de livros infantis escritos por outros autores.
Presencialmente, a escritora tem um programa de visitas a escolas para falar de literatura com estudantes mirins. Nas escolas públicas, as visitas são voluntárias. Mas há parcerias com escolas privadas.
Nesses encontros, ela conversa com os alunos, lê trechos de livros e, às vezes, recebe textos escritos pelas crianças. Agora, Emília leva consigo o Prêmio Jabuti para incentivar as crianças a escrever.
Além disso, Emília participa de um grupo de WhatsApp com 111 criadores de literatura infantil, entre escritores e ilustradores, que também marcam presença física em eventos como o Boa Praça, feira cultural promovida por Lara Kértesz em praças públicas de Salvador, principalmente na Pituba. Desde 2022, os escritores ocupam o estande InBalê - Literatura Baiana para Infâncias.
"Conseguimos um espaço para mostrar livros e levar autores". No início do próximo ano, o grupo deve fazer a primeira reunião presencial para conversar sobre a produção no mercado editorial infantil.
Parceria
Emília e Eduardo têm uma parceria que nasceu na infância. Ambos estudaram no Colégio Antônio Vieira, onde ela disputou inúmeros campeonatos de futebol como goleira. A família morava na Pituba e os irmãos passavam horas buscando novidades literárias na Civilização Brasileira e discos na Flashpoint do Shopping Iguatemi, atual Shopping da Bahia.
O gosto pela música os levou a aprender instrumentos. Emília toca guitarra e tem uma banda de punk rock chamada Macumba Love, e outra de samba reggae, a Bayo, essa em parceria com o marido, Graco, fundador da Skambo, ex-Inkoma e integrante do Bailinho de Quinta. Eduardo canta pop, toca guitarra e violão e já gravou dois discos.
Ambos se formaram em direito e exerceram a advocacia, mas desde 2016 se dedicam à Tibi Editora, que, publicando exclusivamente livros de Emília, mantém seis funcionários. Um alívio para os irmãos, que não gostam de trajes formais.
"Eu tive que alugar um terno para ir à premiação do Jabuti", conta Eduardo. Com apreço pelas inovações tecnológicas, ele destaca que a Tibi tem um perfil diferente de uma editora tradicional.
Os irmãos Nuñez apostaram em um modelo que produz, por exemplo, livros personalizados, em que o protagonista da história pode ganhar o nome e aparência de uma criança real, se esse for o desejo dos pais que encomendarem a impressão. O livro é enviado à casa de quem pedir a personalização. "Somos uma empresa/startup", define Eduardo.
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