MUITO
Equipe baiana Kamikaze Racing Team se prepara para a Fórmula SAE Brasil
Por Adriano Motta*

É inegável que o Brasil é o país do futebol. Isso nunca impediu, no entanto, que outras modalidades buscassem o posto de segundo esporte nacional. O automobilismo é um desses que conseguiu cativar um público fiel.
Há mais de 30 anos, há gerações que acordam cedo aos domingos – ou varam a madrugada, no caso de corridas com fuso horário asiático – para assistir nomes como Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna, Nelson Piquet, entre diversos outros pilotos brasileiros ao longo de 50 anos, correrem pela Fórmula 1, a principal competição do automobilismo mundial.
Se você é uma dessas pessoas, certamente já se perguntou sobre toda a preparação envolvida em tirar um carro de corridas do papel até colocá-lo nas pistas. São muitas e muitas etapas: desenvolver a ideia, testar e retestar, aprimorar os detalhes de mecânica e aerodinâmica para, finalmente, colocá-lo nas pistas.
Definitivamente, o mundo do automobilismo é um caminho bastante difícil de se entrar para seguir carreira: poucos tentam e ainda menos são bem sucedidos.
Um dos passos para quem deseja entrar nesse campo é fazer parte das equipes universitárias de automobilismo – embora essa não seja necessariamente a função delas, mais relacionadas à formação de engenheiros.
As equipes contam com uma competição própria, a Fórmula SAE (Society of Automotive Engineers), com um pequeno carro de Fórmula 1 projetado por elas. Foi criada nos EUA no fim dos anos 70 e é a maior competição de automobilismo universitário mundial. Há etapas nacionais e os dois primeiros ganham a chance de participar da etapa mundial, que ocorre anualmente nos EUA.
Altos e baixos
No Brasil, a Fórmula SAE começou a ser disputada em 2004 e, em junho deste ano, chegará à 16ª edição. Já a equipe de automobilismo da Ufba, a Kamikaze Racing Team, ou KRT, participa da Fórmula SAE desde 2010.
Apesar de muitos altos e baixos nesse tempo, o melhor resultado foi um 11º lugar em 2018. No ano seguinte, problemas envolvendo o carro derrubaram a KRT para a 20ª posição dentre 50 equipes participantes.
Gabriel Requião, capitão da equipe, explica que as oscilações ocorrem devido à alta rotatividade dos membros da equipe. “Todos os anos entra e sai muita gente. O conhecimento que tem agregado nem sempre consegue se manter lá por conta das reestruturações. Isso deixa o processo sempre mais difícil”, afirma.
Fã de corridas desde cedo – ele lembra de sempre assistir a Fórmula Um na TV com o pai durante a infância – elas o inspiraram a entrar na equipe em 2017. “Essas experiências foram também o que me fizeram querer estudar engenharia”, conta.
Já Felipe Martinez, 20, líder do sistema de transmissão do carro, conheceu as pistas através dos volantes virtuais, antes de passar para os reais. “Sempre fui muito fã de jogos de corrida. Isso me inspirou a me envolver nesse meio”.
Embora gostar de automobilismo seja um bom diferencial, não é necessariamente um imperativo. É o caso de Adonias Carneiro, 28, líder do sistema de estrutura, um dos oito sistemas da equipe, que cuida do chassi e tudo relacionado à segurança do piloto no carro.
Quando se inscreveu para entrar, nem era muito chegado em corridas: “Assistia na TV, às vezes, mas era algo pouco apreciado por mim”. Ainda assim, buscou entrar no projeto. E ainda precisou insistir bastante. “Tive que tentar umas três vezes até conseguir”, ri.
Um por ano
A equipe monta um carro por ano para participar da Fórmula SAE, e logo quando termina, começa a trabalhar o do ano seguinte. A montagem é dividida em três partes: a de projetos, que avaliam as melhorias a se fazer no modelo do ano anterior, a testagem e manufatura, em que efetivamente constroem as peças, a parte favorita de Felipe. “É a hora de colocar em prática as coisas que aprendemos”.
Das maiores dificuldades da equipe durante a produção dos modelos, a testagem é uma das principais. Não há muitos espaços disponíveis no estado para corridas, apenas o kartódromo Ayrton Senna, em Lauro de Freitas, onde são realizados os testes, ainda que a pista de kart seja menor e mais estreita que a do SAE.
Pela sigla como a equipe é conhecida, acabam sendo frequentes as confusões sobre o tipo de carro que eles fazem, pensando se tratar de uma equipe de Kart, uma modalidade completamente diferente da SAE. Adonias brinca com isso: “As pessoas sempre são induzidas a pensar que somos uma equipe de kart, por causa do KRT”.
O modelo que disputará em junho a SAE Brasil está ainda na fase de manufatura. Por conta da pandemia, há limitações de pessoas permitidas na oficina – de 15 nos anos anteriores para apenas 4. Além do fato de que boa parte dos membros não moram em Salvador e voltaram para suas cidades em 2020. “Faz com que fique mais desafiador criar o projeto, mas estamos conseguindo”, diz Adonias.
Sob a supervisão do editor Marcos Dias
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