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Fábrica Cultural agita a Ribeira com o Mercado Iaô Primavera

A programação na Praça Iaô começa a partir de 12h

Por Gilson Jorge

01/10/2023 - 0:00 h | Atualizada em 01/10/2023 - 8:30
MUITO: Os 20 anos da Fábrica Cultural do Mercado Iaô 

Na foto: Julietta Villas Boas, empreendedora e cozinheira.  

Foto: Uendel Galter/ Ag A Tarde 

Data: 26/09/23
MUITO: Os 20 anos da Fábrica Cultural do Mercado Iaô Na foto: Julietta Villas Boas, empreendedora e cozinheira. Foto: Uendel Galter/ Ag A Tarde Data: 26/09/23 -

Há seis meses, o Instituto Mandarina, que apoia ONGs baianas na organização física de suas sedes, começou o trabalho de reforma nas ruínas do casarão da antiga fábrica de linhos Nossa Senhora de Fátima, na Ribeira, onde desde 2004 funciona a organização social Fábrica Cultural, criada pela cantora Margareth Menezes. É um trabalho dividido em duas etapas e que só será concluído ano que vem, quando o empreendimento, que fomenta a economia criativa entre empreendedores da periferia de Salvador, completa 20 anos.

O custo total da obra, que inclui a estrutura construída ao lado das ruínas, onde funcionam as atividades da Fábrica, como o Mercado Iaô, pode atingir R$ 3 milhões, 50% a mais do que o valor previsto inicialmente pelo Instituto, que se responsabiliza pelos custos.

"Estamos buscando co-investidores no mercado. É uma intervenção que se assemelha ao que foi feita no Trapiche Barnabé", afirma a presidente do Instituto Mandarina, a arquiteta Neila Larangeira, uma soteropolitana que mora há 25 anos em São Paulo e nem conhecia direito a Península de Itapagipe, tornou-se uma mulher de negócios e apoia, entre outras iniciativas, a Afro TV, produtora soteropolitana de conteúdo, e o Vale do Dendê, uma aceleradora de negócios de empreendedores negros, com sede no bairro do Tororó.

No caso da Fábrica Cultural, as conversas começaram no final de 2021. A primeira etapa da reforma deve ser concluída até o fim do ano, a tempo da realização do Mercado Iaô Verão.

Mas hoje, dia 1° de outubro, o centro cultural na Cidade Baixa já está em festa, com a realização do Mercado Iaô Primavera, das 10h às 21h.

A programação na Praça Iaô, com a feira gastronômica e show do grupo Pagode de Bamba, começa a partir de 12h. No mesmo local, acontece o Cortejo Iaô, com os cantores Jorge Fogueirão e a banda Yayá Muxima fazendo um arrastão junino.

No palco Diva Menezes, a programação musical começa às 16h, com o cantor de forró Del Feliz. Na sequência, Escandurras faz show com repertório de samba e pagode, além de sucessos de Ivete Sangalo e Psirico. Groove da Laje encerra a programação com pagodão.

Hoje também serão anunciados, no Galpão das Artes, os 20 empreendedores dos programas Acelera Iaô e Acelera Iaô com Elas que vão receber uma verba de R$ 10 mil, cada um, dinheiro doado pelo Instituto Sementes, uma ONG paulistana voltada à assistência social.

E há outras boas notícias para empreendedores da Fábrica Cultural. Desde julho deste ano, uma loja no terceiro piso do Shopping da Bahia expõe a produção de 50 participantes dos programas Acelera Iaô. E, no ambiente virtual, vai ser lançado esta semana um site de market place para servir de vitrine online aos integrantes.

Até o fechamento desta edição, a coordenadora do Acelera Iaô, a administradora e empreendedora Patrícia Teles – que assumiu o posto este ano, depois que a responsável pelo projeto, Margareth Menezes, se afastou das atividades da Fábrica Cultural para assumir o Ministério da Cultura – ainda não tinha a informação sobre a data de lançamento do site.

Sobre a importância do programa, Patrícia destaca que, na maioria das vezes, não há preparação antes da abertura de um negócio. "Empreender por empreender, todo mundo faz. Mas esse público quando se lança ao mercado sente as dificuldades em comercializar os produtos", afirma a coordenadora.

No fim de semana passado, 10 integrantes do programa participaram da ExpoFavela, feira nacional de empreendedorismo na periferia, que pela primeira vez teve sua versão na Bahia, em Lauro de Freitas. Em Iorubá, 'iaô' designa quem foi iniciado no Candomblé e ainda não completou o ciclo de sete anos de formação espiritual.

"O Acelera Iaô é um programa de bastante relevância para a Fábrica Cultural e para o empreendedorismo negro. Nós atendemos 1.500 empreendimentos este ano. Em 2022, foram 1.000 negócios", conta a coordenadora.

O programa é patrocinado pelo Carrefour e promove a capacitação empresarial para homens e mulheres negras que pretendam abrir um negócio em moda, gastronomia, serviços especializados em gastronomia, música e artesanato, que é um dos destaques da Fábrica Cultural nessas quase duas décadas de existência. "Inclusive nós somos referência em artesanato e temos parceria com o Governo do Estado no programa Artesanato da Bahia", pontua Patrícia.

Este ano, foi criado também o Acelera Iaô com Elas, com o patrocínio do Instituto Nubank, coordenado por Priscila Mércia, que capacita exclusivamente mulheres negras e tem como foco o empreendedorismo no universo digital.

Na soma dos dois programas, cerca de 80% das pessoas atendidas são do sexo feminino. "Uma das questões mais importantes que a gente elencou para esse ano foi trabalhar com um percentual de mulheres negras e chefes de família", afirma Patricia.

Mentoria

Os empreendedores atendidos pelos programas da Fábrica Cultural passam por uma mentoria online de 40 horas, chamada de Iaô Labs. Alguns do Acelera Iaô já estão na estrada há um bom tempo, como Reisivaldo Vilas Boas, que aprendeu a costurar muito cedo, com sua avó, e em 2010 criou informalmente sua marca, Rey Vilas Boas.

Este ano, o criador ficou sabendo através de amigos do programa da Fábrica e se inscreveu. Há dois meses, Rey abriu seu ateliê em Narandiba. Ele ainda trabalha para uma outra empresa, mas vislumbra o momento em que o seu negócio próprio vai ser grande.

"Eu lembro de todas as aulas, todas as conversas. Tive uma mentoria que me acompanhou divinamente bem, me colocando em lugares em que eu não me via", declara Reisivaldo.

Entre as vantagens citadas pelo empreendedor, está a infraestrutura que o programa coloca à disposição dos integrantes, como profissionais de fotografia e vídeo para a produção de conteúdo que vai ser usado nas redes sociais do negócio, locação para a realização de ensaios fotográficos, no caso da moda, e espaço para a realização de reuniões de trabalho.

Uma característica constantemente presente no discurso de quem passa pelo programa, aliás, é essa mudança no estado mental em que a pessoa deixa de se ver como um trabalhador informal para se imaginar alguém que está construindo uma história. Principalmente, quem trabalhava com carteira assinada e começou a produzir algo como renda extra.

Com formação em publicidade, Julieta Villas Bôas era redatora de uma agência quando começou a sonhar com a área de gastronomia. Diferentemente da maioria dos casos nesse ramo, ela nem sabia cozinhar direito. Inicialmente, para complementar a renda, ela vendia biquínis, depois planos de saúde e, finalmente, percebeu que com docinhos era mais fácil vender.

A agência ficava em um edifício com todos os tipos de escritórios e ela conseguiu clientes em praticamente todos os andares. "Eu ia com duas bandejas enormes de doces, que voltavam vazias e o povo depois batia na porta pedindo mais", diverte-se a empreendedora.

O que ela recebia com as vendas era um valor muito próximo do salário da agência. "Foi ali que deu o estalo de que a alimentação é uma área promissora, por enfrentar menos crises", explica.

O sonho

Animada, Julieta entrou numa graduação de gastronomia e pediu para a sua chefia na agência a alteração de sua jornada de trabalho para conciliar com os estudos. Como não era uma área afim à sua atividade profissional, recebeu um não como resposta e decidiu, então, pedir demissão para perseguir seu sonho.

Há oito anos, Julieta trabalha exclusivamente com a sus marca Girassol Alimentação Saudável, em dupla jornada. Como chef e como publicitária de seu negócio. E ainda partiu para a sua terceira graduação, em nutrição.

"Eu tinha vontade de empreender. Vi na gastronomia uma oportunidade e agora vou para a nutrição", declara Julieta.

Desde o começo do negócio, a chef se manteve discreta, sua imagem não aparecia nos posts da empresa no Instagram. Mas um dia ela viu uma entrevista de Patricia Teles em um programa de TV local, mencionando um programa de formação para empreendedores negros e deu vontade, não apenas de participar do Acelera Iaô como de começar a botar sua cara na rua.

"Sozinha é muito mais difícil. Eu fui buscar uma ajuda. Entrar no grupo, fazer networking", diz Julieta, que participou do programa na turma que entrou em junho.

Desgastante

Um outro exemplo de empreendedorismo que surgiu de uma hora para a outra é o de Isis Bittencourt, engenheira que também trabalhava com carteira assinada e descreve sua antiga rotina como "desgastante".

No início deste ano, enquanto coordenava a montagem de um camarote para o Carnaval sentiu que era o momento de mudar de circuito. "O salário era alto, mas não valia muito a pena quando se tratava de minha saúde", explica a engenheira.

Isis, que tinha feito uma grana em 2009, durante a graduação, vendendo trufas, voltou a pensar na possibilidade de ter seu próprio negócio. "Era muito bom quando os clientes vinham dar o feedback sobre a qualidade do produto. Dava uma sensação boa e aquela vontade de empreender permaneceu ali, adormecida. Eu queria ter qualidade de vida e não ficar presa a uma formação só porque a sociedade estabeleceu isso".

Quando pediu demissão, antes do Carnaval, Isis voltou para casa com a sensação agridoce de ter tirado um peso dos ombros e ao mesmo tempo o medo de ter tomado uma decisão ruim. Carnaval lembra pipoca e foi a pipoca, guloseima, que Isis escolheu para botar seu bloco na avenida.

Decisão tomada, a moça procurou a Fábrica Cultural para saber do Mercado Iaô e do que a instituição tinha a oferecer, mas não tinha ainda aquela vibração empreendedora.

"Na minha cabeça, eu era MEI e fazia pipoca. Eu não sei se é cultural. A gente que é negro não se coloca nesse lugar de empreendedor", analisa Ísis, que credita à Fábrica uma "mudança de chave", como se diz, na sua programação mental.

Estilo de vida

A doutoranda em Literatura e corresponsável pela realização da primeira Feira Literária de Lençóis, sua terra natal, Samira Soares se encaixa no que foi pensado para o Acelera Iaô com Elas, voltado para o mercado digital. Sua página no Instagram, Narrativas Negras, com mais de 22 mil seguidores, foca em literatura e estilo de vida. "Durante os cinco meses em que participei da aceleração, fiz cursos para aprimorar minha atuação e também para me enxergar como uma empreendedora negra", afirma Samira.

A influencer digital destaca a estrutura oferecida pela Fábrica por permitir aos empreendedores negros da periferia um local formal apto a abrigar reuniões de trabalho.

"Quando surgiu o edital do Acelera Iaô com Elas, eu me inscrevi pensando justamente em desenvolver o meu trabalho de divulgação da literatura negra", diz ela, que resolveu enveredar por esse caminho no mestrado. Interessados no programa podem obter informações no site fabricacultural.org.br.

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