MUITO
Filme sobre o artista visual e cineasta Chico Liberato estreia
Confira o trailer do filme que vai passa a ser exibido no dia 07 de dezembro
Por Renato Alban
Perpetuar a arte foi o objetivo maior da vida do artista visual, cineasta e gestor cultural Chico Liberato, falecido em janeiro deste ano. Pioneiro do cinema de animação da Bahia, ele deixou um legado para o setor, e até mesmo na família. Os cinco filhos dele são artistas: uma produtora cultural, uma atriz, uma dançarina, um músico e um escritor.
Junto com a viúva de Chico, a escritora e artista visual Alba Liberato, os filhos idealizaram um documentário sobre o cineasta. O filme A Vida é da Cor que Pintamos, intitulado com uma frase de Chico, será lançado na próxima quinta-feira, 7, e fica em exibição no cinema do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), na Avenida Contorno, em Salvador, até o dia 13 de dezembro.
Produtora executiva e codiretora do filme, Candida Luz Liberato, filha do casal, contou que o plano surgiu em 2017 e engrenou no ano seguinte, quando a família conseguiu aprovação em um edital. Mas a produção foi interrompida pela pandemia de Covid-19 e só foi retomada há dois anos. Foi daí que surgiu o convite ao cineasta Jorge Alfredo Guimarães (Samba Riachão, Escutando Tom Zé) para assumir a direção do filme.
O diretor conviveu com Chico. Fez gravações do cineasta de 2014 até o fim da vida dele. “Fui me apaixonando pelo artista e pelo ser humano”, diz Jorge, que também presenciou o sofrimento de Chico com a doença de Alzheimer. “Ele passou por um problema existencial profundo; perdeu a capacidade de desenhar. Tudo muito lentamente. Sua memória se apagou aos poucos”.
Quando entrou no projeto do documentário, o filme já estava sendo tocado pelos filhos de Chico. Mas, com ele, as gravações recomeçaram, passando por locais importantes da vida do cineasta, como Salvador, Vitória da Conquista, Mutá, Monte Santo e Canudos. “Foi uma experiência inusitada e enriquecedora”, afirma o diretor. “Com o Jorge, afinei mais a minha pesquisa, visitei lugares que Chico viveu e identificamos o que era mais relevante”, diz Candida.
Junto da dupla de diretores, viajaram outros membros da família e três profissionais que conviveram com Chico: o artista visual Juraci Dórea Falcão, a coreógrafa Lia Robatto e o cantor e compositor Carlos Pitta.
União
Esse grupo unido para contar a história de Chico combina com a união que ele pregava nos trabalhos dele. Assim considera a atriz Ingra Lyberato, filha de Alba e Chico. No documentário, ela colaborou na construção do roteiro original, que mudou conforme o filme foi produzido: “Foi um filme preparado pela família”.
Segundo Candida, a proposta do documentário é mostrar a trajetória de Chico desde o início da carreira. Chico ficou conhecido no movimento cultural de 1960 em Salvador e participou de eventos pioneiros, como a primeira Bienal de Artes Plásticas da Bahia, em 1966. Nos anos 60 e 70, fez filmes como Caipora e Carnaval, com estética de xilogravura de cordel.
Foi em 1983 que Chico fez o filme Boi Aruá, primeiro longa-metragem de animação do Nordeste. O longa conta a história do mito de mesmo nome e retrata o cotidiano no sertão nordestino. Para Candida, Boi Aruá foi “uma catarse e quase uma biografia de Chico”. A última produção do cineasta, lançada em 2012, foi o filme Ritos de Passagem.
As referências para os filmes vinham das experiências e inquietações de Chico. A infância no Recôncavo Baiano, a convivência com indígenas no sul da Bahia enquanto trabalhava com extração de borracha na juventude, a revolta com a fome no Nordeste e o interesse por lendas e mitologias do folclore fazem parte da formação pessoal e profissional do artista.
Rememorando a década de 1960, Alba Liberato conta que a principal inspiração do casal vinha da contemplação da vida. “Nós tínhamos um processo contínuo de observação de tipos humanos, da natureza, de nós mesmos. Nossa arte era baseada no sentimento”, destaca a viúva. Já com os filhos, Alba define a vivência como a de uma “família típica”.
“Morávamos num sítio que era, também, um estúdio. Nossos filhos tinham uma vida normal indo para escola, mas com aquele contato frequente com a arte”, lembra a escritora.
A casa da família, no bairro do Trobogy, em Salvador, segue com Alba, que eventualmente guia visitantes pelo local. Pelo site www.chicoliberato.com.br, também é possível fazer uma visita virtual.
Casa sempre aberta
Chico e Alba viveram na casa por 40 anos, até a morte do cineasta. Foi lá, lembra Candida, que Boi Aruá foi desenvolvido: “O storyboard foi todo colorido com tinta acrílica e quem coloriu fui eu e Ingra, com 14 anos”.
A casa, diz Alba, vivia sempre aberta: “Era outra Salvador naquela época, onde tudo era tudo muito transparente, com menos muros e grades”.
A liberdade estava também na criação dos filhos. Chico era contra a padronização da arte e estimulou a família a desbravar novos caminhos.
“Tenho essa sede de ir além e de me arriscar na própria arte, não me interesso em fazer o que já fiz”, diz Ingra. A atriz destaca o pioneirismo de Chico na animação. “Na década de 1980, ele criou máquinas para fotometrar os desenhos”.
Músico e professor da graduação em Música da Universidade Federal de Sergipe, João Liberato, filho de Alba e Chico, lembra da equipe de produção do filme circulando na casa. João nasceu em 1979, ano que filme começou a ser desenvolvido: “Até meus quase quatro anos de idade, vivi nesse fluxo de desenhos e acetatos”.
Responsável pela trilha sonora do documentário sobre o pai, o músico relata que a convivência com a produção de Boi Aruá teve um impacto direto na vida dele. “Meu pai tinha uma relação com os filhos muito presente, estimulava cada um a acreditar em seu potencial e acreditava no potencial de cada um dos filhos”.
Sobre o documentário, João revela que o foco da trilha é na relação de Chico com o sertão nordestino. “A música se baseia em elementos dessa cultura medieval do Nordeste, que tem instrumentos específicos de corda, sopro e percussão”. De 2004 a 2012, o filho trabalhou nas trilhas sonoras dos projetos do pai.
Estímulo
Candida revela que o pai assistiu ao filme. “Houve momentos em que ele dava risada, se emocionava, mas já estava no processo de Alzheimer, então, a gente foi tomar um café e ele já não se lembrava de mais nada”, relata a filha. O artista morreu pouco tempo depois, por complicações de uma sedação para aliviar dores causadas por uma queda.
A escolha do MAM para abrir a exibição do filme não foi à toa. “Essa aliança com o MAM marcou a vida de meu pai”, diz Candida. Chico foi diretor do museu entre 1979 e 1991.
Também foi coordenador do Departamento de Imagem e Som do Estado da Bahia e foi homenageado como Doutor Honoris Causa pela Fundação Ibero-Americana, em 2006.
O trabalho como gestor cultural casa com a descrição que Alba faz do marido: “Ele tinha uma capacidade de sempre seguir adiante e estimular qualquer pessoa a se expressar”.
Na vida privada, ela diz que o maior prazer da relação com o artista era o diálogo, sempre aberto, positivo e estimulante, nas palavras da viúva. “Ele não cansava de conviver”.
João relata que sente falta da “força catalisadora” do pai, capaz de unir toda a família em torno dos projetos que tocava. Em A Vida é da Cor que Pintamos, Alba e os filhos se juntaram mais uma vez, agora, para contar a história do próprio Chico.
“A proposta inicial desse projeto era ter a família trabalhando junto, como ele sempre defendeu. A de sangue e a dos amigos”, diz Ingra.
Confira o trailer:
SERVIÇO – Filme
O que: exibição do documentário A Vida é da Cor que Pintamos, sobre o artista plástico Chico Liberato
Quando: lançamento para convidados no dia 7 de dezembro e, para o público geral, até o dia 13 de dezembro
Onde: Saladearte Cine MAM Bahia, Solar do Unhão, Avenida Contorno, Salvador
Como: a venda de ingressos é feita no local e via WhatsApp, pelo número (71) 99936-5760, diariamente, a partir das 13h
Quanto: R$ 12 (meia-entrada) e R$ 24 (inteira), de segunda a quarta; R$ 17 (meia-entrada) e R$ 34 (inteira), de quinta a domingo e feriados
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