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Francisco Pacheco: "Este é o ano de cair na real"

Por Tatiana Mendonça

05/02/2019 - 9:00 h | Atualizada em 05/02/2019 - 14:09
Francisco Pacheco começou a estudar astrologia há 28 anos
Francisco Pacheco começou a estudar astrologia há 28 anos -

Por diversas vezes, Francisco Pacheco já tentou desistir da astrologia, mas é ela que não o larga. Para provar a história, conta de quando estava trabalhando de madrugada no Polo Industrial de Camaçari, vivendo a calmaria silenciosa de estar rodeado apenas por máquinas. Do nada, entrou um engenheiro e estendeu um papel à sua frente. “E aí, o que é que você tem a me dizer sobre isso?” Francisco suspirou. Era um mapa astral. Deu-se, então, por vencido. Há quase 30 anos vive assim, conciliando a astrologia com outros afazeres profissionais, como as aulas que dá na Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Nós fomos conversar com ele para saber o que este ano de 2019 nos reserva, para os que creem e também para os que não creem, mas antes disso tratamos de entender se vale a pena confiar em horóscopo e o que ele pensa dessa popularização da astrologia nas redes sociais, marcada por milhares de páginas sérias, picaretas e satíricas, e por uma avalanche de memes inspirados nos signos. Para começo de conversa, Francisco diz que não se deve dar tanta importância assim ao signo solar – e que, principalmente, não vale responsabilizar os astros por suas atitudes falhas ou desastrosas (a culpa fica sendo sua mesmo, tá ok?). Mas, calma, que ele assegura que o mapa astral pode dar dicas para mudar uma característica ou outra que lhe incomode, já que a astrologia, diz, tem tudo a ver com praticidade e transformação, apesar de estar cheia de simbolismos. “Não a transformação que você quer, mas a transformação que você precisa”.

O senhor é graduado em Farmácia. O que estava buscando quando começou a se interessar por astrologia?

Na verdade, a astrologia veio antes da farmácia. Estudo astrologia há 28 anos. É algo muito presente na minha história de vida, caminha em paralelo a outras atividades profissionais. Eu, na verdade, comecei a estudar astrologia porque queria mostrar que ela não servia para nada. Pensava que era um embuste. Queria provar que a astrologia não fazia o menor sentido. Só que fui fisgado, e passei a entender o quanto faz sentido... A astrologia é o entendimento do que nós chamamos de qualidade do momento. É entender a que momento sua vida, do ponto de vista do ciclo pessoal, e todos nós coletivamente, estamos vinculados. São os grandes ciclos, que nós chamamos de eras astrológicas. Aqui, no Ocidente, nós tivemos esse boom de buscas de auto-conhecimento na década de 1960, e se falou muito da passagem da Era de Peixes para a de Aquário. Esse componente dos grandes ciclos foi muito difundido, e depois o foco mudou, passou a ser mais a vida pessoal. Mas é importante lembrar que na astrologia não há determinação, nós não trabalhamos com a noção de destino. Faço sempre a analogia com a questão dos calendários. Se você é pescador, a tábua de marés é um guia importante para você. As fases da lua não são só para olhar e contemplar. É saber qual o momento de ir ao mar, jogar a rede, recolher a rede. No calendário agrícola, tem meses do ano que são mais propícios para determinados cultivos. Da mesma forma, nós temos um calendário cósmico maior, onde há fases da vida e momentos mais adequados que podem ser indicados no mapa astrológico.

Mas o que é que as pessoas buscam quando sentam aqui diante de você? É mais auto-conhecimento ou mais previsão de futuro?

Pela identidade do meu trabalho, é mais no caminho do auto-conhecimento. Quando é que você usa um mapa? Quando está querendo ir para algum lugar. Se você não está indo para lugar nenhum, para que mapa? A ideia do mapa astrológico é justamente você reconhecer um território, olhar para os ciclos do indivíduo. Nós fazemos algumas comparações. O mapa é um registro no tempo e no espaço, um retrato do céu daquele momento. Ele não é o seu mapa, o mapa do seu nascimento, enquanto você não trouxer a sua vida para ele.

É mais sobre o presente, então.

Sempre. A ideia é a qualidade do momento. O próprio significado da palavra horóscopo é ver a hora, é reconhecer a melhor hora de fazer cada coisa. Existe um elemento na astrologia que não é de previsão, mas é de predição. Nós estudamos os ciclos. Amanhã há uma forte possibilidade de entre cinco e sete da manhã o sol nascer. Eu estou prevendo o nascimento do sol? Não. Eu estou simplesmente observando os ciclos. E o que nós temos é um acúmulo milenar de estudos e conhecimentos. Nós trabalhamos com algo entre 10 e 13 indicadores astrológicos para compor um padrão de mapa. Cada padrão de mapa se torna uma identidade única daquele momento. Mesmo pessoas que nasceram no mesmo dia e no mesmo horário vão ter situações diferentes em função de como desenvolvem a sua história.

É importante lembrar que na astrologia não há determinação, nós não trabalhamos com a noção de destino

Nos últimos anos, a astrologia ganhou força nas redes sociais. Os signos inspiraram um mundo de memes. O senhor acredita que esse movimento gerou um conhecimento mais profundo sobre a astrologia, ou as pessoas ainda ficam no rasinho?

Quando comecei a trabalhar com astrologia, nós fazíamos o mapa na mão. Levava horas para confeccionar. Para estudar astrologia, você tinha que estudar astronomia. Hoje, se você observar, nós temos uma imensa dispersão. Rapidez, facilidade, muitos dados. A dificuldade é dar sentido a todas essas informações. Por isso que considero a ferramenta da astrologia tão atrativa para toda essa geração, porque mostra um caminho no meio disso tudo. Ou seja, estou querendo chegar em algum lugar. Então, vamos ver se a gente consegue entender o momento que estamos vivendo. Acho que é isso que tem atraído tanto. Ao mesmo tempo, há uma deturpação. As pessoas ficam muito no superficial, na tipologia, nas características de personalidade. E esse é só um dos aspectos.

Alguns astrólogos dizem que o signo solar é apenas o dado mais fácil de ser identificado, e não necessariamente o mais importante.

Sim, depende da corrente de astrologia. Nós temos várias abordagens. Na esotérica, por exemplo, que trabalha mais no processo de reconhecimento, de missão de alma, da busca interna de sentido da vida, o ascendente, que é o signo que está na linha do horizonte no momento do seu nascimento, é a chave da identidade. Tanto é que se você for buscar na história da astrologia egípcia, só quem tinha o cálculo do ascendente era o faraó. Não era um cálculo feito para a população em geral. Qual era o papel do faraó? Ele era o representante do divino na Terra. Ele era a chave para a evolução do povo. O ascendente dele era o ascendente da nação. Então, à medida que você vai calculando os ascendentes de cada um, você vai dando essa tarefa de cada um achar o seu caminho. Não só o líder externo, não só uma ideia de nação. É uma variação do conhecimento que vai acontecendo também dentro do estudo astrológico. O signo tem um referencial de datas. Aí existem correntes que dizem: as constelações correspondentes no céu já não são mais as mesmas, os signos mudaram... Só que signo é símbolo. Tem um significado que você constrói coletivamente. Nesse universo simbólico, o sistema de valores e crenças permanece. Por exemplo, nós na astrologia começamos nosso ano astrológico entre 20 e 21 de março. Consideramos a entrada do sol na faixa do zodíaco que representa o primeiro signo, que é áries, como o momento do ano novo astrológico. De qualquer sorte, coletivamente, as pessoas saúdam o ano novo entre 31 de dezembro e 1 de janeiro. Essa energia que é movimentada não pode ser ignorada. Então, nós astrólogos olhamos para essa data também.

Você não vai ver ninguém que estuda seriamente astrologia fazendo grandes defesas do horóscopo. Mas serve para divulgação

Mas, dentre todas essas correntes, para o senhor o signo solar é, de fato, o principal leitor do indivíduo, ou não necessariamente?

A gente trabalha com três referenciais principais de construção da identidade, além dos outros indicadores que compõem o mapa: o signo solar, que é esse amplamente conhecido; o signo lunar, que é a posição da lua no momento do nascimento; e o ascendente. Então, sol, lua e ascendente trazem o cerne da identidade. Uma metáfora que eu gosto de usar é a de um carro com o motorista e o copiloto. Se você está olhando daqui, passa um carro. Eu vi o carro, não vi o motorista, nem o copiloto. Esse carro é o signo ascendente, o eu social, a persona, a identidade que eu uso para me comunicar. Quem dirige esse carro, o motorista, é o signo solar. E quem está ajudando a dirigir é o copiloto, é o signo lunar. Então, é a combinação inicial de sol, lua e ascendente que nos traz algumas primeiras impressões interessantes. Só nesses três elementos eu já tenho um padrão bem mais amplo que só 12 signos.

Dá para acreditar em horóscopo? Os astrólogos acreditam ou não?

Existe uma abordagem que é a chamada astrologia horária, que seria a essência da ideia do horóscopo, que é ver essas projeções dentro de cada momento. Existem padrões gerais que podem, sim, ser sugeridos. Em tese, eu teria que ler meu signo solar, o signo lunar e o ascendente, só pra começar. Aí, se eu for ler esses três, eu vou achar um pouquinho de mim em cada coisa. E se eu ler os 12, todos têm a ver (risos). Você não vai ver ninguém que estuda seriamente astrologia fazendo grandes defesas do horóscopo. Mas serve para divulgação. A pessoa começa a perceber que ali pode ter alguma coisa. E aí vai investigar.

As pessoas muitas vezes botam a culpa das suas ações nos signos ou na conjuntura astral. Como o senhor vê isso?

Se você prestar atenção, em geral são os defeitos. A gente quer alguma justificativa para o que nós consideramos nossas características que são falhas. Desculpa a gente vai achar sempre. Se você quiser não assumir a responsabilidade sobre a sua vida, você vai atribuir a alguma coisa: aos astros, à conjuntura política, à situação econômica, ao pai, à mãe, à tia, ao cachorro do vizinho. O amadurecimento é você não atribuir externamente essa responsabilidade e entender que a responsabilidade é sua. Quando começo a trabalhar com o mapa, eu pergunto sempre o que trouxe a pessoa aqui. Como disse, o mapa é um território. E as três coisas fundamentais que preciso para usar bem esse território é saber onde a pessoa está, onde ela quer chegar, o melhor caminho entre os dois pontos. É aí que entra a chave da astrologia. Ela não diz: seu caminho é esse. Diz: olha, aqui tem uma estrada asfaltada, bem sinalizada; aqui tem um caminho tortuoso. Todos vão te levar para esse lugar. Você escolhe qual? Tem quem escolha o caminho tortuoso, tem quem prefira cair no buraco.

Ainda é caro fazer mapa astral. Como a astrologia poderia ser mais acessível?

Há muito estudo e muita dedicação para fazer uma análise criteriosa. Se vou fazer um atendimento de uma hora, uma hora e meia, tenho pelo menos mais duas, quatro horas de estudo sobre isso. Mas a maioria dos profissionais que conheço tem a prática de tornar acessível. Se a gente percebe que a pessoa não tem condições de pagar aquele valor, a gente pode dividir, pode fazer um valor diferenciado, desde que a pessoa realmente valorize o que está sendo oferecido a ela. Muitas vezes você não valoriza o que lhe é dado de graça. Um exemplo clássico é quando alguém vem aqui, gosta do trabalho, e aí quer dar um mapa astral de presente. Costumo evitar isso. Essa busca pode não fazer sentido para quem recebe esse presente. Às vezes, não é a questão do valor que dificulta o acesso, mas o propósito. Você também precisa ter um certo acúmulo em termos de conhecimento dos seus processos, precisa saber se quer realmente olhar para dentro de si. Se eu não tenho a clareza da busca, eu me perco. Nessa busca mais profunda, a pessoa abandona a jaulazinha do signo. ‘Ah, eu sou touro, então eu sou teimoso’. Essa máscara passa a não servir mais. Ela vai ver que touro é um arquétipo, um símbolo. Vai reparar que não é um signo, mas uma pessoa, e nenhum modelo vai contemplar sua complexidade, nenhuma interpretação vai dar conta de tudo que ela é. Agora, o que pode ser útil nesse reconhecimento? ‘Ah, eu tenho uma forte tendência a adiar as coisas. Eu começo e não termino. Como eu trabalho isso em mim?’. Aí é mais fácil eu botar o nome de Touro nisso e dizer: vamos olhar para esse Touro aqui, ele atrapalha a minha vida! (risos). Vamos ficar, então, amiguinho de Touro? Vamos ver como a gente pode trazê-lo para nossa realidade? Aí você começa a entender as características: perseverança, consistência, continuidade. Como é que eu trabalho isso em mim? A astrologia tem um caráter muito prático, apesar de ser ricamente carregada de símbolos. Olha, tem pouco elemento terra no seu mapa. A materialização para você é mais difícil. Vá para terra. Pisa no chão. Mexa com a terra. Faça modelagem. Construa pequenas coisas, um passo de cada vez. E você vai trabalhando em você aquela característica e você reforça simbolicamente isso. Você passa a ter em sua mão uma série de ferramentas de ordem prática para mexer em características que você quer aprimorar. Agora, se tudo que eu quero é uma plaquinha na frente da minha jaula, porque eu não quero mudar... A gente brinca, não é, é a síndrome de Gabriela: eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim... A astrologia não serve para isso. A astrologia envolve mudança. Ela tem como regência Urano, que simbolicamente, para nós, fala de transformação. Não a transformação que você quer, mas a transformação que você precisa. É aí que está. Nem sempre o que você quer é o que você precisa. Às vezes, você vem buscar numa consulta astrológica a validação de uma atitude que você quer tomar. Então, eu não acho que a astrologia seja de pouca acessibilidade com relação a valores financeiros, mas à disposição em querer mudar.

Agora vamos ao que todo mundo quer saber, até quem não acredita em astrologia. Esse ano de 2019 vai ser mais sossegado? Vim em busca dessa resposta.

Primeiro ponto: não atire no mensageiro (risos). Nós só estamos trazendo o recado. E o resultado é o seguinte: astrologicamente, 2019 faz parte de um ciclo maior que já vem se desenvolvendo nos últimos anos. É um ano ainda de transição. Temos alguns aspectos bem importantes. Temos Júpiter, que representa a expansão, no signo de Sagitário, do qual é regente. Temos Saturno, o planeta que fala da ordem, da estrutura, no signo de Capricórnio, do qual também é regente. E temos Netuno, o planeta do sonho, da fantasia, da intuição, da espiritualidade, em Peixes, do qual também é regente. Essa combinação das três regências mostra que o tom do ano vai passar muito por esses indicadores astrológicos. Júpiter é expansão, então é um ano bom para viagens, contato com a natureza, respirar, se sentir aliviado. Que beleza se só tivesse Júpiter no céu. Aí vamos falar de Saturno e Capricórnio. Saturno e Capricórnio é acerto de contas. É cobrança, é disciplina. Então, o período que nós estamos vivendo, que se estende para esse ciclo de Saturno até 2020, é concluir projetos, finalizar coisas, encerramentos, fechamentos. Saturno é, literalmente, assim: chegou a hora de pagar a fatura. Mas não é a fatura de 2019. É a fatura dos ultimos sete, 12 anos. O que é que você veio alimentando como projeto, como possibilidades, que culmina em 2019? ‘Poxa, eu sempre quis fazer isso, todo ano eu digo que vou fazer isso’. Esse ano é o ano de cair na real e dizer: você não vai fazer isso. Já percebeu que não vai fazer? Vamos mudar o projeto? Vamos mudar o plano? Encerra isso que não avançou na sua vida nesses últimos anos para dar abertura para o novo. É um sentimento duplo: um otimismo de que alguma coisa nova vai acontecer depois, mas agora é a hora dura do fechamento. E aí vem Netuno em Peixes. É o momento da desilusão. Que é muito bom. É deixar de estar iludido. É, de novo, cair na real. Conclua os projetos que não tiveram bons frutos. Perceba que ao concluir esses, novos virão. Mas enquanto eu não concluir esse, não adianta abrir novas frentes e me dispersar mais ainda na minha energia. Não é um ano fácil, mas é um ano necessário.

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