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MUITO

Impactos da digitalização do ato de escrever

Ao invés de copiar a matéria à mão, é muito comum que os alunos façam fotos da disciplina na lousa com o celular

Por Pedro Hijo

17/11/2024 - 10:00 h

Alunos correndo para copiar a matéria antes de o professor apagar o conteúdo da lousa é uma cena que ficou no passado. Com a chegada das ferramentas digitais, os cadernos estão cada vez mais vazios de anotações e as memórias dos celulares cada vez mais cheias de fotos do quadro.

Ao invés de copiar a matéria à mão, é muito comum que os alunos façam fotos da disciplina na lousa com o celular e estudem a partir do registro. A mudança de comportamento tem movimentado discussões entre especialistas sobre o uso excessivo da digitação por crianças e jovens.

De acordo com a psicopedagoga Josana Baqueiro, a nova geração de alunos está deixando de escrever à mão. Ela acompanha crianças e adolescentes em sala de aula e aponta que a substituição do lápis e caneta pelo celular tem afetado o desenvolvimento cognitivo e a coordenação motora fina dos alunos.

"Planejar uma escrita exige repertório, o que afeta diretamente numa redação, por exemplo", diz Josana, que é especialista em Neuropsicologia e Educação Infantil.

A estudante Katherine Porciúncula, 15 anos, diz que os resumos e anotações que faz à mão no caderno são a melhor forma de assimilar o conteúdo. Ela também faz registros da rotina em um diário todos os dias.

"Funciona para eu memorizar as informações e ajuda na hora de escrever um texto, faço com mais fluidez", diz. A estratégia parece bem-sucedida. Katherine ficou em primeiro lugar no concurso de redação da Rede Jesuíta de Educação no ano passado.

Os métodos seguidos por Katherine não são acompanhados pelos colegas da sala em que estuda. De acordo com a jovem, a maior parte dos alunos recorre a celulares e outros aparelhos eletrônicos para realizar as atividades. A escrita é uma delas. "É uma dependência mesmo", opina.

Josana testemunha a relação cada vez mais próxima entre alunos e eletrônicos na escola em que trabalha como orientadora educacional. Para ela, a inserção do celular em sala de aula afeta na qualidade do aprendizado, da saúde mental e até do convívio: "Andar em grupo é importante para que o adolescente organize a aprendizagem de sociabilidade e estar no celular o afasta disso".

Acessibilidade

Apesar das críticas, nas últimas décadas artigos e livros científicos têm apontado outro lado do avanço tecnológico no campo da escrita e da leitura. Estudiosos demonstram que o letramento digital da população pode ser usado como uma ferramenta para promover inclusão e acessibilidade.

Entre os exemplos mais comuns estão as ferramentas digitais para a alfabetização de pessoas com dificuldades motoras ou cognitivas, os softwares de tradução automática para conectar povos de diferentes idiomas e o uso de audiobooks e dispositivos eletrônicos de leitura pela população analfabeta.

Um dos responsáveis por propor e disseminar o conceito foi o sociólogo francês Pierre Lévy, ainda na década de 1990, abrangendo não apenas a habilidade de usar as tecnologias, mas também a capacidade de analisar e produzir informações por meio de plataformas digitais.

Desde então, pesquisadores têm se debruçado sobre o assunto, apontando tanto o potencial da tecnologia para inclusão quanto a necessidade do fornecimento desse letramento digital para toda a população. Do contrário, apontam, há o risco de que exclusões sejam ainda mais aprofundadas.

Para a estudante Giulia Oliveira, 15 anos, um meio não substitui o outro e ela usa tanto a escrita à mão quanto os aparelhos eletrônicos para estudar. “Para pesquisar, é muito mais simples fazer isso no computador”, conta.

Nas aulas, no entanto, Giulia prefere fazer as anotações em cadernos, um comportamento cada vez mais incomum na escola onde estuda. “Meus colegas me dizem que leva menos esforço estudar pelo notebook, mas as canetinhas e o caderno costumam ser meus fiéis aliados quando vou estudar”, diz.

Giulia pretende cursar Relações Internacionais em setores de resolução de conflitos externos e luta pelos Direitos Humanos. Enquanto a intensa fase dos estudos não chega, tem se dedicado a escrever um livro, que pretende publicar em breve.

As anotações à mão que faz em sala de aula a ajudam no projeto, já que ao escrever Giulia não tem acesso a um corretor automático, o que acontece ao digitar em um aparelho eletrônico. “É uma forma de desenvolver vocabulário e a norma padrão da língua portuguesa”, conta.

O hábito da escrita vem de família. A mãe de Giulia, a gestora executiva de negócios Madalice Moura mantém uma extensa biblioteca e gosta de fazer resumos dos livros que lê. “Minha filha é o resultado de uma família que gosta muito da escrita e da leitura, porque o pai e o avô também amam ler”, diz.

Sala de aula

Para Madalice, a família que restringe o uso de aparelhos eletrônicos em casa deve contar com o apoio das escolas. “É inegável que a tecnologia veio para ficar e que facilita a vida do aluno, mas, é preciso que haja controle em sala de aula”, comenta. No entanto, Madalice pondera que a proibição dos celulares nas escolas pode ser um obstáculo na comunicação entre alunos e responsáveis.

A psicopedagoga Josana Baqueiro assume que a tarefa de estimular jovens a abrir mão dos aparelhos eletrônicos dentro da sala de aula tem sido cada vez mais difícil. “Está muito cansativo”, admite. Para Josana, a escola deve atuar como um amplificador da educação dada primeiramente pela família. “O aluno dependente dos eletrônicos, vidrado no celular, é uma responsabilidade que as famílias precisam tomar mais conta”.

No Colégio Antônio Vieira, onde Josana é orientadora educacional, os celulares são liberados a partir do oitavo ano. Mas, a profissional pontua que é a favor de que as atividades feitas à mão sejam empregadas na maior parte do tempo escolar. “É preciso que a educação nas escolas seja voltada para a diminuição das provas online e que a gente volte com os livros, cadernos e lápis coloridos para que os jovens se sintam mais estimulados a abrir mão do celular”.

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