Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > MUITO
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email
23/01/2022 às 18:57 • Atualizada em 23/01/2022 às 19:24 - há XX semanas | Autor: Gilson Jorge

MUITO

Iniciativas fomentam a produção de óperas em Salvador

Ópera dos Terreiros, obra do maestro italiano Aldo Brizzi, atrai para Bahia equipe de televisão francesa

Uma equipe da France Television desembarcou na última quarta-feira em Belém do Pará com objetivo de gravar um especial sobre a Bahia. Não foi um erro de produção. É que a capital paraense recebe até o dia 31 a Ópera dos Terreiros, obra do maestro italiano Aldo Brizzi, com libreto escrito pelo falecido santo-amarense Jorge Portugal.

Uma história de amor à la Romeu e Julieta, com elementos da cultura afro-baiana, de 2017, que foi selecionada em edital para participar do 20º Festival de Ópera do Theatro da Paz, lendária casa de cultura construída no século 19, durante o ciclo da borracha, nos moldes dos teatros italianos.

O maestro, que juntamente com a cantora Graça Reis montou em 2009 o Núcleo de Ópera da Bahia, para explorar as singularidades da cultura local, está otimista com os rumos da iniciativa.

A gravação do espetáculo faz parte de um contrato assinado entre Brizzi e a emissora europeia, que inclui ainda uma apresentação ao vivo de três cantores na TV, no final deste ano, junto com uma orquestra filarmônica.

A ópera, que chegou ao Brasil através do soteropolitano Teatro São João, inaugurado em 1812, na área da atual Praça Castro Alves, busca renascer na cidade e afastar a imagem de uma forma de cultura europeia e elitista. “Antes da invenção do cinema, a ópera era o cinema. E apesar da fama aristocrática, sempre foi uma expressão revolucionária. A ópera de Verdi é um símbolo da unificação italiana”, pontua Brizzi.

Graça, uma soprano que mora na Europa desde 2009, justamente porque não encontrava oportunidades para a carreira no Brasil, conta que a ideia do núcleo surgiu em um jantar com Brizzi, com quem é casada, e amigos. Um dos convidados perguntou por que não se criava uma iniciativa que unisse a música erudita com a cultura afro-baiana. Os olhos do casal brilharam. Assim teve início o núcleo que conta com um total de 20 cantores, que vão se ajustando no elenco, a depender da ópera que esteja sendo encenada.

Peso de ouro

Brizzi elogia a qualidade dos cantores baianos e ironiza as montagens locais que convidam solistas de fora, às vezes, a peso de ouro. “Tem gente que traz cantores da Europa que são desconhecidos por lá, sendo que em Salvador há muita gente talentosa. Temos gente da Liberdade que canta muito bem. Só que iniciar na carreira demanda dinheiro’, comenta.

E foi também para ajudar a suprir a carência de profissionais do canto erudito que a professora paulista Flávia Albano, titular da Escola de Música da Ufba (Emus), montou o Laboratório de Ópera da faculdade, em 2017, pouco depois que assumiu a vaga na Ufba.

O laboratório é um curso de extensão para quem, dentro ou fora da comunidade acadêmica, queira se especializar em canto lírico. O repertório dos cursos ficou a cargo do professor José Maurício Brandão, diretor da escola, e Flávia se encarregou da parte de preparação corporal. “A ópera é uma junção da música com o teatro”.

O núcleo já montou alguns espetáculos no Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória, e o local foi aprovado pela professora. “No início, fiquei com medo, pensando se o público baiano iria a uma ópera fora do Teatro Castro Alves. Mas foi um sucesso, sempre ficava gente de fora”. A confiança na adesão do público é compartilhada por Brizzi: “Se você montar uma ópera com quinze sessões, na 15ª vai ter gente procurando ingresso”.

Um ponto a ser resolvido é a existência de um teatro na cidade que seja efetivamente propício à ópera. Pelo menos é o que pensa a soprano Graça Reis. “A melhor acústica que tínhamos era a do Teatro Acbeu, na Vitória”, lamenta a cantora, que se poupou de continuar a frase e verbalizar a destruição do imóvel, que vai dar um lugar a um empreendimento imobiliário.

O tenor Igor Garcia tem uma opinião mais positiva sobre o uso do TCA para a ópera. “A gente tem um teatro que, na minha humilde opinião, é de primeira grandeza, consegue atender a outras demandas, tem espaço favorável, acústica favorável”.

Garcia lamenta a perda de outras instituições, como a Associação Lírica da Bahia que, entre 1982 e 2013, promoveu concertos internacionais e espetáculos de ópera, até no Circo Picolino, como forma de manter Salvador no circuito.

Sua história com a música é bem particular. Recebeu da família um piano de presente aos 13 anos, tarde demais para quem vai seguir carreira clássica, mas dedicou-se a estudar Chopin, Bethoveen e outros clássicos. Afastou-se do teclado por um tempo e, aos 22 anos, descobriu que o que queria, na verdade, era cantar.

Agora, com a maturidade dos 42 anos, sabe-se um tenor spinto e vive de música, tanto como professor de canto quanto em apresentações. No último dia 7 de janeiro, integrou o elenco da Ópera da Liberdade, encenada no município de Itaparica, como evento de abertura das comemorações pelos 200 anos da declaração de Independência do Brasil, às margens do Rio Ypiranga.

Coro da igreja

Outro talento da ópera baiana, Carlos Morais também tem um vínculo peculiar com a arte. É neto de um boêmio, desses de cantar na noite, mas filho de um casal que não o incentivava a ser músico. Seus irmãos chegaram a tocar em bandas desconhecidas de axé music, mas ele enveredou pelo rock na adolescência. O interesse pela música clássica surgiu depois que ele aceitou cantar no coro da Igreja do Bonfim: “Passei um ano fazendo aula, teve muita gente que me ajudou, inclusive dando aulas gratuitas, como Cirene Papparotti”.

Nesse momento, ele está em Belém, se preparando para, no próximo dia 28, entrar no palco de outro lugar sagrado, o Theatro da Paz, onde interpreta Nzailu, um jovem bantu que se apaixona por uma moça nagô.

A ópera baiana vai se movimentando. “Sempre achei que Salvador é uma cidade com muito potencial e uma tradição musical excelente. É incrível que não haja uma tradição recente de ópera”, diz Brizzi, que já fez parcerias com Gilberto Gil, inclusive em 2017, quando o Cortejo Afro homenageou o tropicalista e levou parte da Ópera dos Terreiros para cima do trio, como parte da festa. O criador do Cortejo Afro, Alberto Pitta, aliás, foi quem desenvolveu o figurino da ópera.

Em março, o Núcleo de Ópera vai lançar um CD com oito releituras de novenas, chamado Oratório de Santo Antônio. E a Bahia, que em 1994 dava ao Brasil a primeira ópera negra, Lídia de Oxum, de Ildásio Tavares e o maestro Lindembergue Cardoso, segue dando régua e compasso. Agora em tons líricos.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Cidadão Repórter

Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro

ACESSAR

Publicações Relacionadas

A tarde play
Play

Filme sobre o artista visual e cineasta Chico Liberato estreia

Play

A vitrine dos festivais de música para artistas baianos

Play

Estreia do A TARDE Talks dinamiza produções do A TARDE Play

Play

Rir ou não rir: como a pandemia afeta artistas que trabalham com o humor

x

Assine nossa newsletter e receba conteúdos especiais sobre a Bahia

Selecione abaixo temas de sua preferência e receba notificações personalizadas

BAHIA BBB 2024 CULTURA ECONOMIA ENTRETENIMENTO ESPORTES MUNICÍPIOS MÚSICA O CARRASCO POLÍTICA