MUITO
Karina Buhr: o som que vem de onde
Por Eron Rezende

O que produzia o som que chegava aos soluços - deuses, santos? Karina nunca soube. Lembra apenas que, naquela tarde candente na casa do avô, aos 8 anos, foi tomada por uma bela e ordeira percepção de vida. Fez música e descobriu que tal condição, "de estar em sintonia com o todo", a visitaria toda vez que repetisse o gesto.
"Nunca compreendo o que estou tentando dizer até ficar pronto", ela fala, com sorriso miúdo, constante nas conversas. "Mas, depois de feito, vem essa sensação de paz". Suas canções, musicadas com apreço à palavra, são peças dramáticas de muitas imagens.
Há referências à própria arte de criar versos ("cada palavra cala"), declarações brandas e brutas de amor ("não me ame tanto, eu tenho algum problema com amor demais, eu jogo tudo no lixo, sempre"), uma canção de ninar ("dorme, antes do míssil passar").
Karina, 38, está vestida com uma blusa simples de algodão, mas decide trocá-la. Aproveita para trazer a maquiagem e a pose. Avisa que já fez muita matéria em que depois se viu "desbotada, um arremedo". Agora, é uma "self-made girl", ciente de que é preciso ser dona do espaço para poder se comunicar.
É a postura de quem lançou Eu Menti pra Você (2010), seu primeiro álbum, e se viu na lista de "melhores" da "nova" música nacional (as aspas, ela enfatiza, devem ser colocadas, porque os termos nada dizem) e seguiu assim com Longe de Onde (2011), o seu trabalho mais recente. Com este, ganhou resenha positiva em jornais europeus - o espanhol El País fez referências a soluções sonoras impactantes e ao seu ímpeto criativo; o suplemento cultural inglês Loud and Quiet a classificou como ótima a mistura de melodrama, popular e punk.
O show que apresenta desde meados de 2012, com repertório dos dois álbuns, tem sido elogiado pela crítica nacional, ora por sua performance, ora pela banda base que conseguiu reunir, formada pelos guitarristas Fernando Catatau e Edgar Scandurra (ex-Ira!), o trompetista Guizado, o baixista Mau, o tecladista André Lima e o baterista Bruno Buarque.
"É gente que se encontrou e se curte", ela diz, olhando para a Baía de Todos-os-Santos, background para as fotos desta matéria e espaço para achar a palavra que a une aos músicos e ao trabalho. "Liberdade; há um clima total de entrega sem amarras".
E justo ela, que chegou até aqui produzindo a si própria, criando sua lógica, tem recebido agora propostas de grandes gravadoras. Elas oferecem esquemas de divulgação e a quase liberdade. Karina louva o esforço do mercado fonográfico em se atualizar, associando-se a artistas sem que isso resulte num eclipse da criação, mas diz que não encontrou assim o seu jeito.
Leia a matéria completa na edição da Muito deste domingo.
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