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Lambe-lambe volta a invadir as ruas de Salvador

Por Bruna Castelo Branco

05/10/2016 - 17:26 h | Atualizada em 20/10/2016 - 19:09
Estudantes de design, Juliana Argollo, Júlia Lago e Luize Araújo criaram um painel no Rio Vermelho
Estudantes de design, Juliana Argollo, Júlia Lago e Luize Araújo criaram um painel no Rio Vermelho -

Em todo canto da cidade, colado em cada muro, rua, esquina, lá está ele. Mensagens motivadoras, críticas sociais, poemas ou apenas uma ilustração isolada, mas cheia de significado. Feito a partir de uma técnica de colagem a baixo custo, o lambe-lambe mistura-se às paisagens urbanas da cidade e enche o cotidiano de poesia.

Inicialmente, a técnica se popularizou no meio comercial, por ser uma maneira rápida, prática e barata de propaganda para lojas pequenas. Só no final dos anos 40 e início dos 50, os reclames publicitários, como eram chamados, passaram a compor os cenários dos principais espaços urbanos do mundo. Ainda hoje, nos pontos mais movimentados das grandes cidades, é quase impossível não encontrar um cartaz colado em um poste que seja, oferecendo algum serviço ou produto.

Mas, fugindo desse aspecto mais utilitarista, artistas e designers vêm se apropriando da técnica para fomentar a arte de rua. O coletivo Motora é um desses exemplos criativos. Formado pelas estudantes de design Júlia Lago, Juliana Argollo e Luize Araújo, surgiu com o objetivo de tirar a arte da cabeça e espalhar literalmente pela cidade. A primeira ação aconteceu em abril deste ano, no muro da Nossa - Casa Colaborativa, no Rio Vermelho.

Os cartazes, todos coloridos, estampam mensagens pensadas por mulheres que ocupam a Casa Colaborativa. A arte foi toda feita pelo coletivo, desde as fotografias das flores que ilustram as mensagens até a impressão e colagem dos cartazes, que levou quatro dias para ser concluída.

A principal característica do lambe, que é o que o faz ter esse nome, é a forma como é colado na parede. O primeiro passo, depois de pronto o cartaz, é preparar a cola caseira, feita com maisena ou farinha e água. "A gente realmente cozinha a cola, no fogão, como se estivesse fazendo comida. Pega a maisena, em uma panela grande, e mistura com água. Não pode parar de mexer. Quando chegar ao ponto, que é quando a mistura começa a grudar, pronto. Depois, ainda precisa deixar a cola descansar por um dia e, no final, misturar com um pouco de cola branca, para aumentar a consistência", explica Júlia.

Alguns artistas também optam por usar vinagre na receita, para evitar que o trabalho final seja corroído por bactérias. Depois, com tudo em mãos, o cartaz é colado com a ajuda de um rolo, que lambe o papel. Daí o lambe-lambe. Mas, para finalizar a arte feita pelo Motora, foi usada uma técnica um pouco diferente. "Ficaria bem mais caro imprimir os cartazes com tinta colorida. Então, nós decidimos colorir a cola, ao invés de já imprimir colorido. Essa escolha acabou dando ao material uma textura bem diferente e deixou o trabalho todo colorido", conta Luize. Para fazer com que o lambe das meninas sobreviva por mais tempo ao calor e às chuvas, o mural pronto foi todo coberto por verniz.

Mensagem rápida

Para o artista plástico Alfredo Gama, o lambe-lambe tem uma relação direta com o grafite. "Os dois querem passar uma mensagem e, ao mesmo tempo, deixar uma marca na cidade. Mas o lambe foi feito para ser rápido, você vai ao local e só cola. Em cidades em que a arte de rua é proibida, o lambe é ainda mais seguro, já que o grafite exige mais tempo para ficar pronto. Mas, no mundo, infelizmente sempre houve uma ideia de criminalidade em relação a quem faz arte de rua". E o pôster, por ser feito antes, também permite uma riqueza maior de detalhes, que em muitos casos não é possível com o grafite.

Cada artista é livre para usar a técnica que preferir para confeccionar os pôsteres. Mas, atualmente, a mais utilizada é a impressão digital, produzida normalmente em impressoras que permitam que a produção seja feita em folhas maiores que A4. "A pessoa faz o trabalho de arte e design em um computador, depois, em uma impressora grande, imprime". A escolha do papel e do local em que o lambe será colado é o que define quanto tempo o trabalho vai sobreviver na rua.

"Depende muito da gramatura do papel. Quando a folha é muito grossa, a tendência é descolar mais fácil na chuva. Quando é mais fina, acaba aderindo às texturas da parede. Mas, se a cola for preparada direitinho, o lambe pode durar entre cinco e seis meses no muro. Normalmente, o que mais desgasta é o vandalismo. As pessoas veem, chegam a mão, arrancam uma pontinha...".

O Lambe SSA, idealizado por Caio Sá Telles em parceria com os amigos Pedro Magalhães e Uala Vandeik, surgiu inicialmente com o objetivo de incentivar os próprios membros a fazerem arte. Desde o início deste ano, o coletivo vem realizando ações em alguns bairros e em ruas do centro da cidade, como Dois de Julho, Carlos Gomes e Rio Vermelho, por exemplo.

A ideia, segundo eles, era criar um coletivo em que cada um pudesse continuar produzindo seus trabalhos de acordo com a sua própria linha. "Por isso, não temos um conceito criativo que nos defina. O que temos em comum é que queremos fazer essa arte de rua em Salvador, que é uma cidade que já carrega muita linguagem em si mesma. Nosso objetivo é entender a cidade também como um meio, como mídia, que pode comunicar", diz Caio.

Por estarem na rua, os artistas que trabalham com lambe-lambe não passam despercebidos pelos olhares dos passantes. Enquanto colava os pôsteres no Rio Vermelho, o trio do coletivo Motora era observado e questionado sobre o que estava fazendo. "As pessoas, em geral, ficaram muito curiosas, querendo saber o que era aquilo que estávamos colocando ali. Alguns achavam as frases engraçadas, outros, que estávamos ali fazendo uma ação junto à Casa de Jorge Amado. A técnica também despertou muita curiosidade. Mas, realmente, fomos perguntadas muitas vezes", diz Luize Araújo.

Debate no meio da rua

Para Caio Telles Sá, a interação com quem está na rua é um dos momentos mais preciosos para quem trabalha com lambe-lambe. "Primeiro, elas param para olhar, perguntam o que são aqueles pôsteres que estamos colando. Depois, começam a trocar ideia, perguntar sobre a técnica, como é que se faz a cola, ou então ficam discutindo sobre arte visual mesmo. Quando percebemos, já estamos fazendo um debate ali na rua".

Caio conta que alguns falam sobre o que acham bonito e apontam aquilo que acham feio e, então, começa uma discussão sobre o porquê disso ou daquilo. "Essa é uma das melhores partes de se trabalhar com lambe, e é também o principal objetivo desta arte urbana. Levar as pessoas a prestarem mais atenção na cidade, a se envolverem com ela".

Para além da técnica, Caio acredita que, ao levar a arte para rua, é fomentada a discussão sobre onde ela deveria realmente estar. "Assim, podemos dessacralizar a imagem do museu. Não que o museu não seja também um espaço importante para a arte, mas não é o único, não precisa ser hegemônico. Dessa forma, podemos lembrar que a expressão artística também faz parte do cotidiano de uma cidade. Com o lambe-lambe, mostramos que na vida de todo mundo também tem arte".

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