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Marca baiana de maiôs faz sucesso entre famosas
Por Luis Fernando Lisboa

Há sempre uma peça, no armário de homens e mulheres, que é escolhida com frequência para sair de casa, ganhando de lavada no favoritismo do cotidiano. Pode ser a boa e velha calça jeans, uma prática camiseta branca ou, no caso das irmãs Pâmela e Camila Lucciola, os maiôs. Por isso, desde o verão de 2015, elas apostaram na criação da marca Iara como um modo de desaguar o desejo de encontrar os sonhados designs de maiôs sem dor de cabeça. Cansadas das mesmices, começaram a empreitada no mundo da moda como hobby, que logo ganhou cara de trabalho.
Numa projeção online acelerada, hoje, a dupla soma mais de 19 mil seguidores no perfil do Instagram (@_i_a_r_a_), atendendo a pedidos de entrega em todo o Brasil. O maior número de clientes está concentrado em três capitais: Salvador, Rio e São Paulo. Pedidos internacionais já estão em andamento. Numa época em que marcas consolidadas tentam compreender como redes sociais podem impulsionar as vendas, a dupla de baianas encontrou terreno fértil para crescer com a ajuda dos likes angariados nos perfis de amigas. Camila é atriz e mora no Rio de Janeiro, Pâmela é jornalista e apresentadora da TVE, com vida instalada em Salvador.
Por conta de uma diversa e bem articulada rede de contatos, que vai desde as atrizes Carolina Dieckmann e Fernanda Paes Leme até Liniker, Karina Buhr e Anelis Assumpção, um boom de curiosidade incrementa a demanda. As 20 peças dos únicos seis modelos da primeira coleção esgotaram num piscar de olhos.
Camila acredita que a praticidade do ambiente digital, associada a uma nova onda na moda, foi indispensável para a marca acontecer com agilidade. “O consumo mudou, as pessoas estão mais conscientes, reciclam, reúsam. Infelizmente, estamos com menos tempo. Você faz tudo no celular, de mercado a faculdade. Hoje em dia, as mídias sociais têm muita influência para uma rápida divulgação”. As amigas, incentivadoras desde o primeiro papo na piscina, seguem como clientes ou difusoras do estilo que a Iara quer expressar.
Produção artesanal
A produção dos maiôs é tão artesanal quanto a divisão de tarefas. Lá do Rio, Camila fica responsável por desenhar as peças e atender a demandas de clientes que entram em contato pelo Instagram ou e-mail. Enquanto isso, na capital baiana, Pâmela acompanha as etapas de confecção: compra tecidos, encomenda materiais, confere as peças-piloto na oficina de costura. “Somos mulheres com outras profissões que respondem e-mails, criam roupas, supervisionam a execução, despacham pelos Correios”, conta Camila.
A atriz Fabiula Nascimento passeia no Pelourinho com maiô da Iara
Se, para Pâmela, a modelagem e o acabamento dos maiôs são aspectos fundamentais para o conforto, estão postos motivos para acompanhar com cuidado o cotidiano no ateliê, localizado na Lapa. Sob a batuta da costureira Isabel Jesus Santos, os modelos são feitos com esmero técnico em pequenas tiragens: são apenas oito criações em cada coleção. Por isso, não saem de lá mais de 20 peças por modelo. A procura é tanta que rapidamente se esgotam nos estoques.
As irmãs Lucciola, no entanto, não esquentam a cabeça. Pâmela diz que a ideia é manter a coisa assim, pequena, com unidades limitadas e crescendo aos poucos, com cautela. “Nossa relação com moda está ligada ao conforto. Não tem relação com tendência”. Ela aproxima o ritmo de produção ao conceito de slow fashion, uma alternativa à moda que vive sem freios de consumo. “Recebemos muitos pedidos, mas vamos atendendo às solicitações na medida em que chegam. Não queremos produzir em grande escala e encher as pessoas de mercadoria”.
Camila encorpa o coro ao comentar que o processo criativo pode surgir a qualquer hora, nascer de qualquer lugar e, por isso, não há pressão por novidades. Segundo ela, a marca se afasta da rigidez dos lançamentos pautados nos calendários do grande mercado. Até porque, para as Lucciola, não há uma associação dos maiôs como peça usada exclusivamente na temporada primavera-verão. Ainda que a estação seja o grande foco de vendas. “É lógico que nós aumentamos a produção no verão, porque é quando vendemos mais, no entanto, ainda assim, fazemos tudo sempre no nosso ritmo”.
Camila Lucciola e a apresentadora Fernanda Paes Leme
A curta, mas intensa, trajetória da Iara já permitiu a experiência de uma lojinha temporária em Caraíva, no sul da Bahia, há dois anos. Camila estava indo aproveitar o verão na praias da região, encontrou um espaço comercial disponível e as irmãs decidiram que seria um bom momento para experimentar vendas presenciais. “Foi uma loucura. Tive que dizer: ‘Menina, para de vender aí que eu já não tenho mais maiôs para mandar’”, diverte-se Pâmela, ao lembrar o ritmo agitado de vendas.
Referência doméstica
Mas as clientes de Salvador sempre dão um jeitinho de falar que sentem falta de uma loja física, onde tenham tempo para experimentar maiôs sob a curadoria das próprias criadoras. “Pode ser que o espaço aconteça em algum momento, mas ainda não conseguimos dar conta de tudo”, diz Pâmela. Além disso, ela explica, o planejamento é um elemento cada vez mais fundamental na Iara e, por isso, não querem dar um passo maior antes de ganhar mais segurança logística. “Queremos que tudo seja devagar mesmo”.
Num passeio pelo catálogo da marca, aparecem estampas (xadrez, poás, listrados), misturas de cores (rosa com laranja, verde com azul) e tecidos diversos (malha UV e suplex, por exemplo). Por ali, também estão os modelos mais básicos, que contemplam a velha parceria preto x branco. É uma marca de maiô, mas também já produzem biquínis. “E estou começando a criar as roupas que uso no dia a dia. Depois que comecei a trabalhar com a Iara, já não me vejo só como jornalista, mas também como integrada à indústria da moda”.
O batismo da marca vem mesmo de uma lenda do folclore brasileiro: uma índia guerreira da Amazônia é jogada no rio, por conta da inveja dos irmãos, mas é salva e transformada em sereia. Nada mais justo que os maiôs também recebam nomes indígenas, como Jurema, Erê, Tupã e Aruana. “Também é um modo fácil de identificar as peças, já que nossa venda é por e-mail”, acrescenta Camila. Os valores podem chegar até R$ 198.
Depois do momento da criação, uma peça só é definitivamente integrada ao catálogo quando as irmãs debatem sobre o modelo e se imaginam ali vestidas. Além de fotos das Lucciola, o Instagram traz repostagens do perfil de clientes usando maiôs Iara na piscina, no Pelourinho ou na composição da fantasia de Carnaval. Como diz Camila, “desde o início, presentamos quem realmente quer e gosta. E, claro, quem tem a ver com a gente”.
Na criança do negócio, a dupla teve referência de gestão bem-sucedida na marca Lucciola Bolsas, comandada há quase dez anos por outra dupla de irmãs: Dineia Cravo e Darlene Lucciola, respectivamente mãe e tia de Pâmela e Camila. “Pegamos essa referência de modelo de pequena empresa que estava ali, dentro de casa, além do exemplo de liderança feminina”, diz Pâmela.
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