MUITO
Marcelo Rezende: "A Bienal da Bahia discutirá o Brasil"
Por Eron Rezende

A entrevista é interrompida por Sante Scaldaferri. O artista que fomentou o modernismo na Bahia carrega seu manifesto podado. Chama-o de presente. E assim é recebido por Marcelo Rezende, 44. Porque o texto que foi base para a Bienal da Bahia de 1968, cancelada pela ditadura militar no dia seguinte a sua abertura, é também base para o atual diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Ao reunir vestígios de uma história não contada - folhetos, catálogos, memórias -, ele pretende retomá-la do ponto de parada. "Para narrar algo novo, precisamos abrir essa porta". Marcelo olha para a Bienal de 2014, que desde que foi planejada, em 2009, em substituição ao Salão da Bahia, guarda discussões sobre sua viabilidade e importância. Quer finalizar o hiato de 46 anos com um evento pensado a partir daquele que poucos viram. Por isso a sua sala (que hoje também é espaço expositivo, abriga a mostra Reforma e Reinvenção, com obras de Ana Verana, Oswaldo Goeld, Bené Fonteles, Brígida Baltar, entre outros) será ocupada em junho pela instalação Tupi todos os dias, de Juarez Paraíso. Com o mentor do projeto de 68 nas paredes, preso por liderar a Bienal, espera chegar ao cume do seu diálogo com o passado. "É uma história feita por grandes artistas, mas desconhecida", diz. "Uma nova Bienal tem o dever de reparar esse vazio".
Você assumiu a direção do MAM no final do ano passado com o desafio de tirar da gaveta o projeto da Bienal da Bahia, instituída por decreto em 2009 e prevista para o ano que vem. Quais passos já foram dados para a concretização da Bienal?
Já demos o passo mais importante, que é a constituição de um conselho curatorial. Esse conselho será formado por mim, pela presidente da Funceb (Nehle Franke) e por três representantes da sociedade civil - o (artista plástico) Juarez Paraíso e os outros dois nomes que ainda não posso divulgar porque eles ainda não aceitaram formalmente o convite. Esse conselho é que determinará quais serão as diretrizes da Bienal da Bahia. Queremos chegar, no máximo, até agosto com o projeto curatorial pronto.
A Bienal de São Paulo custa, em média, R$ 20 milhões. A Bienal do Mercosul, R$ 12 milhões. Há recursos para viabilizar a Bienal da Bahia?
Estamos trabalhando com um orçamento de R$ 15 milhões. Esse dinheiro não será apenas uma aplicação da Secretaria da Cultura. A ideia é ter uma rede de parceiros. Um exemplo: queremos ações dentro de projetos educacionais da Bahia, então contaremos com a Secretaria da Educação. Outro exemplo: a Bienal será o maior evento cultural do Estado em 2014, então teremos o apoio da Secretaria de Turismo. Além disso, uma parte da verba virá do Fundo de Cultura do governo federal e outra parte da iniciativa privada. Com essas vivas de recurso, a ideia é viabilizar a Bienal em outubro do ano que vem.
A Bienal de São Paulo e a do Mercosul têm suas vocações bem consolidadas - a primeira, de diálogo com o mundo, e a segunda, com a América Latina. Que lugar a Bienal da Bahia pretende ocupar?
Acho que a Bienal da Bahia está apta a pensar o Brasil. Nossa Bienal discutirá o Brasil. Obviamente, isso não significa se isolar, mas criar uma janela para um Brasil que não está nas outras bienais. Será uma Bienal feita a partir do Nordeste. Então, posso adiantar que a questão central já para a Bienal do ano que vem é: o que é nordeste? Que experiência de vida a gente tem aqui? Que luz é essa? Será que a experiência que temos na Bahia pode ser semelhante à experiência de um cara no Líbano, por exemplo? Será que dá para conversar com um cara do Líbano e entender que lá também pode ser nordeste? Essa última questão leva ao provável tema da Bienal de 2014: tudo é nordeste. Quando eu falo 'tudo é nordeste', eu penso muito na Bienal de Havana. Depois de determinar que o seu tema seria o terceiro mundo, ela começou a convidar artistas norte-americanos que viviam na periferia de Boston, porque lá também é terceiro mundo, entende? Então, tudo é nordeste. Basta a gente identificar que relações são essas.
Leia entrevista completa na Muito deste domingo (12)
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