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15/01/2024 às 8:00 - há XX semanas | Autor: Celso Cunha Neto* | Arquiteto e artista visual [email protected]

OLHARES

Mariadaísmo

Maria Adair é dona de um estilo tão pessoal que se identifica fácil apenas pelo traço

A artista visual Maria Adair
A artista visual Maria Adair -

Poucos são os artistas capazes de serem identificados apenas ao olhar suas obras.

Dentre eles, se destaca a querida dama das artes plásticas baianas, Maria Adair, dona de um estilo tão pessoal que se identifica fácil apenas pelo traço. Um traço dinâmico, preciso, disciplinado. Ela nasceu nos idos de 1938, na cidade de Itiruçu (BA), filha de Geir Magalhães, fazendeiro e político que por duas vezes foi prefeito dessa cidade, e de Adalgisa França Magalhães, exímia costureira e datilógrafa que também gostava muito de plantar.

Maria Adair teve uma educação esmerada, seja em Itiruçu, na Escola Sete de Setembro, da professora Dona Iaiá, onde estudou o curso primário, e mais adiante em Salvador, onde estudou no Ginásio Bom Jesus, das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, instalado na antiga residência do Comendador Bastos, na Avenida Barão de Cotegipe, no aprazível bairro da Calçada, em Salvador.

O ginásio era comandado pela Madre Emília, que era uma exímia pintora, e trabalhou em interferências sobre pinturas clássicas numa parede e teto da casa do comendador. Ela recebeu a notícia de que nas tardes dos dias de sábado iria dar aulas de pintura para as alunas interessadas no colégio. Aí, Maria Adair logo se interessou e começou a se descobrir pintora, na medida em que seguia dando pinceladas, copiando o visual dos cartões-postais que a madre oferecia.

Quando o curso no Bom Jesus acabou e seus pais chegaram para levá-la com a sua irmã, Ana Lúcia, para Itiruçu, Maria Adair pediu para primeiro passarem numa loja de material de arte onde, então, foi comprado todo o material necessário para pintura. Quando na fazenda chegaram, Maria Adair logo escolheu um lugar para instalar o cavalete, as tintas e a tela no meio da paisagem, e transportou aquele visual para a superfície da tela.

Foi assim que nasceu a pintura Marimbondo, o nome da fazenda do seu pai, uma tela que Maria Adair guarda com todo carinho no seu quarto da casa/oficina, no bairro da Graça, onde atualmente mora e trabalha na cidade do Salvador.

Depois das férias na fazenda e na casa de Itiruçu, onde a família já tinha duas belas telas pintadas pelo artista alemão Bunge, que morava na cidade vizinha de Maracás, a família se mudou para Salvador. E ali também sobre as novas telas compradas Maria Adair seguiu dando as suas pinceladas.

Nos dois anos seguintes, Maria Adair e sua irmã, Ana Lúcia, cursaram o Pedagógico no Iceia – o Instituto Central de Educação Isaías Alves – onde, além das aulas regulares, Maria Adair se encantou com as aulas de Artes Industriais, de Desenho Técnico e Artístico e dos recortes em vários materiais que estimulavam sua forte vocação para as Artes Plásticas.

No ano de 1958, Maria Adair se casou com o cirurgião dentista Roque Brocchini, proprietário de duas fazendas no município de Itiruçu e de Maracás, que por um ano havia estudado no Rio de Janeiro, outro em Minas Gerais, mais outro em Salvador, onde se formou. Depois, para também poder administrar as suas fazendas, fixou residência na cidade de Itiruçu. Foi ali, então, onde Marco Antônio, Moema, Mozart, Marcelo e Murilo, os seus cinco filhos nasceram.

No início dos anos 70, a família Brocchini se mudou para Salvador e Maria Adair passou a ensinar no Colégio 2 de Julho pela manhã e numa escola da rede estadual à tarde. No ano de 1972 ingressou na Escola de Belas Artes da Ufba, onde se formou em Licenciatura em Desenho e Plástica. Desde 1973, ainda estudante, ela já estava ensinando Educação Artística no Colégio Marista de Salvador, depois que recebeu o convite do Irmão Daniel para criar o programa e ser a professora desta disciplina para os alunos da primeira à oitava série do colégio.

Depois de formada, recebeu outro convite para atuar como professora de Arte. Desta vez, da artista-professora Dagmar Pessoa, da Escola de Belas Artes da Ufba, para lecionar como professora substituta naquela escola. Na mesma época, lecionava artesanato no período noturno numa escola do Estado.

Nos anos de 1980-81-82 Maria Adair viveu nos Estados Unidos da América, depois que se candidatou e ganhou uma bolsa de estudos da Fulbright-Laspau. O primeiro ano, estudando inglês na Universidade de Pitsburgh. Nos outros dois, cursando o Mestrado em Arte na Universidade de Iowa. Período em que também montou várias exposições individuais de seu trabalho em Iowa City, Pittsburgh, Washington DC, e participou de uma mostra coletiva com artistas americanos, numa galeria de New York.

E a partir dessa época, trazendo consigo toda a ampla experiência teórico-prática do Mestrado na School of Art and Art History da Universidade de Iowa, a professora Maria Adair passa a compartilhar esses conhecimentos com seus privilegiados alunos da Escola de Belas Artes da Ufba, já que em 1983, de volta a Salvador, assume seu cargo de professora na rede pública, e agora efetiva, na EBA\Ufba.

Em paralelo, continua sua produção artística, valendo-se de múltiplos suportes físicos e nada convencionais tais como móveis, gamelas, grandes colheres de pau, garrafas e painéis de vidro, cabaças, papelão e papel kraft, objetos de cerâmica, dentre outros, oportunamente encomendando a confecção de cubos de compensado cobertos de tela para também serem usados como suportes para a pintura em tinta acrílica, a óleo, nanquim, e aplicação de folhas de ouro, de prata, de cobre e outros metais variados. Afora incursões na fotografia, no uso da caneta esferográfica.

Em sua primeira fase orgânica, sinuosos desenhos e pinturas abstratas, oriundas da natureza, transformam-se, naturalmente, nas intricadas, dinâmicas e disciplinadas tramas, urdumes e vieses, de pura poesia visual. Da sua fantástica tessitura gráfica multicolorida e facilmente identificável.

Esse estilo que, num primeiro contato, seria geralmente classificado como grafismo, segundo Maria Adair, ao ser perguntada, estaria mais para um estilo “Mariadaísmo”, donde provém o título desta matéria.

A partir do ano de 2022, Maria Adair começa a enfrentar um grande drama em sua vida como pintora: a proibição de usar tinta devido a restrições e recomendação médica em função da intoxicação e sensibilidade às substâncias químicas tóxicas presentes na composição da maioria dos pigmentos dessas tintas.

Essa drástica restrição e limitações subjacentes poderiam resultar em desânimo ou quiçá abandono e encerramento de sua longa trajetória artística, afinal, seus mais de 80 anos de vida por si já justificariam sua aposentadoria, sobretudo com esses precedentes.

E, surpreendentemente, Maria Adair, como fênix, agora nos oferece um trabalho renovado, uma mudança drástica no seu mundo extremamente colorido e com um vigor juvenil nos oferece surpreendentes exemplos de como utilizar essa paleta espartana de variações na aplicação do preto, com obras de beleza excepcional prescindindo da multiplicidade da riqueza cromática que sempre foi presente e marcante em sua longa produção.

Sua capacidade de se reinventar e surpreender é o que nos aguarda brevemente, em sua nova e memorável exposição individual já intitulada Preto é bonito!

A carreira da professora-artista Maria Adair vai além de sua trajetória como artista plástica. Revela sua luta e garra enquanto cidadã e mulher independente, sendo, portanto, uma fonte inspiradora de persistência e dedicação à educação e diante dos desafios.

Seu importante legado para as Artes Plásticas e para a Educação é, inegavelmente, significativo. E sua capacidade de superar obstáculos e se reinventar artista são referências para as novas gerações de artistas, assim também como para todos nós.

*O conteúdo assinado e publicado na coluna Olhares não expressa necessariamente a opinião de A TARDE

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