PERFIL
Martha Maria e a resolução de conflitos com Constelação Familiar
Confira o perfil da terapeuta baiana
Por Jorge Pereira

Uma mulher sorridente e de voz suave põe o rosto para fora da porta em um imóvel no primeiro andar de uma rua na Pituba, assim que ouve a campanhia. Ao enxergar a equipe de reportagem, aperta o botão que abre o portão do anexo de um restaurante. Lá em cima acontecem sessões terapêuticas do método Constelação Sistêmica e Familiar.
Trata-se de uma técnica desenvolvida na década de 1970 pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger, que considera as experiências traumáticas de cada ser humano um acúmulo de energias transmitidas por gerações dentro de uma família. Uma ideia que o europeu, um ex-padre morto em 2019, teve a partir de sua vivência com uma comunidade zulu na África do Sul e que ganhou adeptos também no Brasil, como a terapeuta baiana Martha Maria.
Aberto o portão, ela sinaliza para que a reportagem passe adiante. Depois de subir um lance de escadas e tirar os sapatos, entra-se em um recinto levemente colorido e com doze cadeiras dispostas em forma semicircular, e um batente branco do qual ela costuma conduzir as sessões com quem a procura para resolver questões familiares – aborto, violência sexual, desentendimentos, entre outras.
Tudo pode ser tratado sob a forma de dramatização do ocorrido para uma plateia de voluntários, que depois emitem suas opiniões sobre o assunto. O foco é a resolução dos conflitos entre os familiares, sem entrar na discussão sobre as agressões sofridas ou decisões tomadas.
A opinião que as pessoas têm sobre o aborto, por exemplo, não é levada em conta. O que importa na Constelação Sistêmica e Familiar é cuidar do trauma. "Não focamos na questão moral", afirma Martha. Os voluntários que participam das sessões são pessoas desconhecidas dos pacientes. Alguns assumem os papéis de familiares do protagonista da sessão e participam da dramatização do evento ocorrido. Os outros observam para emitir suas opiniões ao final.
Pensamento
A essência do pensamento desenvolvido por Bert Hellinger são as chamadas três leis do amor: pertencimento, ordem e equilíbrio. Com a lei do pertencimento, Hellinger afirma que nós não viemos do nada e recorre à ancestralidade como uma fonte fundamental da nossa essência.
A lei da ordem, ou hierarquia, assinala que devemos respeitar quem chegou antes de nós, pais, avós e irmãos mais velhos. A lei do equilíbrio, ou balanço, aponta um sistema de trocas, em que cada vez que tiramos algo de alguém devemos lhe dar algo de volta.
Embora a terapia não seja reconhecida pelos conselhos federais de Medicina e Psicologia, a aplicação da Constelação Sistêmica e Familiar como terapia alternativa é uma das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) do Sistema Único de Saúde (SUS), e está autorizada desde 2012.
O envolvimento de Martha com a Constelação Sistêmica e Familiar foi o ápice de um processo de busca por terapias alternativas que começou em 1986. Bibliotecária por formação, ela teve uma inflamação na garganta que não se curava com benzetacil [antibiótico]. Fez uma consulta com um iridólogo e passou a usar medicina natural. Com os bons resultados na saúde de sua garganta, passou a adotar alimentação natural, fazer massagem terapêutica, Reiki, massagem ayurvédica e outros processos alternativos.
Até que entrou em contato com a Constelação e ficou impressionada com a terapia. "Achei muito incrível o efeito, como ela nos humaniza. Percebemos que a minha dor é a mesma dor sua, de certa forma. Nós somos seres humanos e temos experiências de aprendizado", afirma a terapeuta, que se capacitou para exercer a Constelação com cursos feitos em Salvador, ministrados por palestrantes estrangeiros. Um do Hellinger Institut em Landshut, na Alemanha, e outro do Institut of Core Energetics, nos Estados Unidos.
Leis
Além de ser utilizada como terapia alternativa, a Constelação tem sido utilizada no Poder Judiciário, especialmente em varas de família, na resolução de conflitos. Um dos adeptos de sua utilização, o juiz Sami Storch, da Vara de Família de Itabuna, define a Constelação Familiar como um método fenomenológico de facilitação do olhar.
"Ela permite que a pessoa possa observar as dinâmicas ocultas por trás de um determinado padrão de sofrimento ", afirma o juiz, que aplicou a metodologia também quando atuou nas varas de Infância e Juventude, cíveis e criminais. Storch declara que ao conhecer as Constelações Familiares percebeu que elas abordam de forma humana questões típicas da justiça, como divórcio, guarda dos filhos, disputas patrimoniais e divisão de bens.
"Com o conhecimento das leis sistêmicas que Bert Hellinger descreveu de forma tão genial, a solução dos conflitos fica facilitada", afirma o juiz. Sobre Martha, a quem conheceu há 17 anos, ele declara: "Além da simpatia pessoal, ela é uma pessoa dedicada aos estudos dos métodos de cura, de terapias".
O consultor e professor Almir Nahas, de São Paulo, trabalha há mais de 20 anos com Constelação Sistêmica e Familiar, nos âmbitos pessoal e de negócios. Ele descreve Martha Maria, com quem mantém parcerias, como uma pessoa séria e cuidadosa. "Infelizmente, há pessoas nesse segmento que não fazem um bom trabalho e prejudicam a imagem de todos os profissionais. Mas existe muita gente séria. Quando estávamos procurando pessoas para levar o nosso curso em outros estados, encontramos Martha na Bahia. Ela foi muito atenciosa e profissional", afirma Nahas.
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