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ME Ateliê de Fotografia realiza a 4ª edição da exposição Antônios

Exposição Antônios, em 49 versões, pode ser vista até 30 de julho, de quinta a domingo, das 16h às 19h

Por Gilson Jorge

12/06/2022 - 16:31 h
Mario Edson é de Alagoinhas, onde o santo é padroeiro
Mario Edson é de Alagoinhas, onde o santo é padroeiro -

Quando se mudou para o Santo Antônio Além do Carmo, levando o seu ME ateliê, o artista visual Mario Edson tratou de circular pelo novo bairro e se apresentar aos vizinhos. Acabou tocando na campanhia de mais de uma dezena de senhoras que, descobriria depois, compartilhavam com ele uma relação com Santo Antônio, um dos nomes mais populares da Igreja Católica.

Nessa parte do Centro Histórico de Salvador, a popularidade de Antônio, que já foi motivo para trezenas em distintas residências, hoje se apresenta mais modesta, com algumas senhoras expondo em suas janelas a imagem do santo no dia 13 de junho, a ele dedicado.

Meio em respeito ao novo bairro, meio em tributo às suas próprias origens, o alagoinhense Mario realiza a cada ano em seu ateliê, na Ladeira do Boqueirão, a exposição Antônios, com obras que retratam o santo ou o culto, com oratórios, quadros e fotogrfias.

É que quando era criança, em sua cidade natal, que tem Antônio como padroeiro, Mario presenciava a trezena feita por seus pais em casa, dos quais ainda guarda na memória os aromas das alfazema e os enfeites de papel crepon.

"Muito tempo depois, eu comecei a ler sobre ele e me apaixonei. A figura humana era muito mais importante do que o santo", considera o artista.

Mario destaca que suas leituras o levaram a separar o que era folclore em torno da figura religiosa do que comprovadamente aconteceu. Em contraposição à crença de que ele é o santo casamenteiro porque uma mulher teria conseguido marido depois de atirar a sua imagem na cabeça de um homem, Mario se apega ao fato de que Antônio, que fez voto de pobreza sendo de família abastada, teria roubado dinheiro da própria igreja para ajudar casais apaixonados.

"Naquela época para casar era preciso ter dote. Ele via o brilho nos olhos de pessoas apaixonadas, mas sem dinheiro, e roubava para dar a elas", afirma.

Independentemente da fé de cada um, não há como um nordestino com mais de 40 anos ficar incólume aos registros da fé em Antônio, o santo casamenteiro do qual Irmã Dulce, a primeira santa brasileira, era devota.

Curadoria

Ao longo dos seis meses em que se dedica à curadoria, e depois que abre o edital, Mario conversa com artistas que se interessam pela temática e também convida outros, provocando-os a apresentar uma leitura do santo a partir do que conhece do trabalho de cada um deles.

Às vezes, não dá muito certo, às vezes, ele pede autorização para fazer pequenas intervenções conceituais ou adaptações necessárias, como a pequena lâmpada que precisou instalar no interior do oratório da paulista Ana Uzeda, para que os elementos da obra ficassem todos visíveis à noite.

Filha de uma portuguesa, cuja família é historicamente devota do santo nascido em Lisboa, em 1195, Ana inspirou sua obra na lenda em torno do religioso que, à falta de interessados em ouvir seus sermões, teria se habituado a pregar sozinho às margens do Rio Tejo, atraindo para perto de si inúmeros peixes. "Essa passagem é conhecida como o ‘milagre dos peixes’, por isso usei vários tons de azul para representar o rio , no altar coloquei vários peixes em metal e pedras", explica Ana. A cortina foi feita em cristais azuis e o Santo Antônio em porcelana branca pintada à mão, em azul e ouro.

Soteropolitano, Leo Furtado recorreu às memórias da infância em Jacobina para compor o seu trabalho. As trezenas, a festa em homenagem ao santo, missas, procissões e da Marujada de Jacobina, festa tradicional em louvor a São Benedito, mas que também presta homenagem a Santo Antônio. "Para o oratório, uni as lembranças de infância com a rica arte dos santeiros que é muito forte em nosso Recôncavo", declara Leo.

Nada contra

Lilian Morais não é lá muito católica. Declara respeito às crenças das pessoas e não tem nada contra Santo Antonio em si. Mas o passado da Igreja, a Santa Inquisição, o acúmulo patrimonial do Vaticano e sua ligação com o colonialismo e as práticas escravagistas e machistas a inspiraram a construir um oratório político, feminista.

"Ele permanece no templo do patriarcado perverso, malvado e injusto. Um lugar onde só ele e os seus estão protegidos", diz ela.

Para compor seu oratório, Lilian tomou emprestado, ou em suas palavras "roubou" o chão quadriculado típico da maçonaria, que oficialmente representa a oposição entre o bem e o mal. Na ressignificação, o xadrez remete ao impedimento de espaços de liberdade para a mulher.

A exposição Antônios, em 49 versões, pode ser vista até 30 de julho, de quinta a domingo, das 16h às 19h. "Mais do que arte, é uma exposição de conteúdos, para promover o debate ", afirma Mario.

Lilian Moraes criou um oratório político: “Templo do patriarcado”

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Tags:

exposição, antonios

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