MUITO
Museu do Mar: a nova aventura de Aleixo Belov
Por Gilson Jorge

Aleixo Belov começou a viajar pelo mundo aos sete meses de idade, não porque seus pais, um engenheiro agrônomo russo e uma dona de casa ucraniana, fossem aventureiros. Era 1943, Segunda Guerra Mundial, e a pequena cidade onde moravam, Merefa, no interior da Ucrânia, estava sendo devastada pelos nazistas. Depois de circular pela Europa em condições precárias, a família aportou no Brasil em 1949, quatro anos após o fim da guerra.
Aos 16 anos, o menino que não tinha, até então, uma relação particular com o mar ganhou óculos de mergulho de um diplomata brasileiro amigo da família. "Aí, lenhou", descreve sucintamente Belov. A visão da vida submarina na Baía de Todos-os-Santos despertou no jovem imigrante um desejo imediato de se lançar pelo mundo afora.
Formado em engenharia pela Ufba, onde lecionaria depois, participou de três viagens marítimas em grupo até construir o seu próprio barco e viajar sozinho pelos mares da Terra. O barco, as 92 cartas náuticas "salgadas e sebosas", que usou ao longo das viagens, e outros apetrechos de navegação devem estar disponíveis para a visitação ainda este ano.
Um casarão amarelo no Largo do Santo Antonio Além do Carmo está sendo restaurado e reformado para abrigar o Museu do Mar Aleixo Belov. O imóvel, adquirido junto à família Rique, terá 540 metros quadrados de exposição permanente, com destaque para o barco Felicidade, e 110 metros quadrados para exposições temporárias, além de uma cafeteria.
Coração
Em seu mais recente livro, Alaska, muito além da linha do horizonte, o engenheiro dos barcos escreveu que "viajar é jogar o coração lá na frente e ser obrigado a ir resgatá-lo". O museu, com a experiência de Belov à exposição, é uma forma de ajudar a colocar outros corações à deriva.
"Eu tive várias fases na vida. Primeiro, eu naveguei com os outros para aprender. Depois, eu dei três voltas ao mundo sozinho e um barco pequeno para consolidar o que eu tinha aprendido. Depois, quando ganhei mais um pouquinho de dinheiro, como fui muito feliz no mar, fiz um barco-escola", afirma o homem que se orgulha de ter oferecido a 56 jovens a oportunidade de viajar pelos oceanos, totalmente de graça.
De uns tempos para cá, sentiu que ia chegando o momento de aprofundar a transmissão de seu legado, eventualmente passar mais tempo longe dos negócios e ficar livre para uma nova jornada marítima, ainda sem roteiro definido.

Belov não sorri ao contar uma piada ou fazer um comentário supostamente jocoso, deixa a interpretação a cargo de seus interlocutores. Ao sugerir um canto da casa para fotografias, menciona um lugar onde os funcionários da construtora "fingem que estão trabalhando". Em silêncio, os operários hesitam se devem ou não permanecer no lugar para a fotografia.
Recentemente, quando o Iphan desautorizou sua pretensão de que o mastro do veleiro extrapolasse o teto do casarão, resignou-se a cortar o mastro ao meio, mas brincou que batizaria o café de veleiro sem mastro. "Eu estava procurando um lugar e encontrei esse casarão. Achei que o Iphan permitiria fazer uma claraboia. Não permitiu e eu tive que cortar o mastro, mas não me arrependi. O casarão é muito bonito", afirma.
Estruturas
O velejador tem uma empresa especializada em engenharia portuária e subaquática, que participa da obra de reforma do restaurante do Museu de Arte Moderna, no Solar do União. Mas, para o seu empreendimento, ele contratou a Cosplan, empresa de engenharia de um ex-aluno seu, Maurício Pitangueiras.
"Minha empresa fez a estrutura metálica, mas o resto quem fez foi a Cosplan, eu não entendo de vidro, ar-condicionado, elevador, nada disso", justifica.
"A gente está misturando a arquitetura clássica do casarão com uma arquitetura moderna, está ficando muito interessante ", afirma Alexandre Lira, engenheiro responsável pela obra.
Belov não abre as cifras de quanto está sendo investido no museu, mas menciona "muito dinheiro". Pelos seus cálculos, quando estiver em funcionamento, o museu vai ter uma despesa diária de cerca de R$ 3 mil.
A entrada custaria em torno de R$ 20, segundo estimativa inicial, o que demandaria um público médio de 150 visitantes por dia para pagar as contas. "Estou buscando apoio de empresas", declara.
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