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Orquestra Sinfônica da Bahia cruza a pandemia com produções virtuais
Por Gilson Jorge
O voyeurismo gerou o argumento de um dos melhores filmes de Alfred Hitchcock, Janela Indiscreta, em que por conta de seu fetiche um homem acaba descobrindo um crime no prédio ao lado. A caminho dos 40 anos, no ano que vem, a Orquestra Sinfônica da Bahia deixou de lado a inibição e, na impossibilidade de subir aos palcos por conta da pandemia, usou a fantasia do cinema para seduzir o público a partir das casas dos próprios músicos.
Vestidos de Incrível Hulk, Frida Khalo ou de assaltante da Casa de Papel, em um vídeo disponível no YouTube, os integrantes da Osba apostam cada vez mais na aproximação com o universo pop para aumentar a sua audiência.
O maestro Carlos Prazeres considera que a Osba sempre foi uma orquestra de vanguarda. “É uma orquestra que questiona a vivência conservadora do meio de concerto, que sempre soube ousar e buscar novos caminhos”, afirma o maestro, para quem a virtualidade explorada pelos músicos durante a pandemia sempre foi uma estratégia para alcançar novos públicos e se engajar com o público jovem, que é o futuro da orquestra. “Não adianta a gente só tocar para as pessoas mais velhas”, pontua.
No vídeo do Cine Concerto em Casa, Prazeres demonstra pouca intimidade com o contexto da roupa vermelha usada pelos assaltantes da Casa de Papel na série de estrondoso sucesso, mas o maestro, que bem poderia ser traduzido como o Professor, o líder do grupo, reconhece a importância da interação cultural para que a orquestra não fique em algum lugar do passado. “O meio musical comenta a facilidade que a Osba teve para se adaptar a esse novo e instigante mundo virtual”, diz.
Nesse espírito jovial, a orquestra produziu documentários , como Solarium e Abraço no tempo, esse com participação de Caetano Veloso e lives com exibição de informação sobre a música sinfônica. “Por isso, a Osba acabou sendo uma orquestra que não experienciou nesse período uma derrocada”.
Primeiro ciclo
A celebração de quatro décadas de existência acontece no ano que vem, que marca também o encerramento do primeiro ciclo da orquestra com gestão terceirizada.
Em 2017, com a publicização da instituição por parte do governo do estado, a administração da Osba passou às mãos, via edital, da Associação dos Amigos do Teatro Castro Alves. A marca continua sendo pública, mas nesses cinco anos toda a parte administrativa e inclusive a de recursos humanos para os músicos que aderiram à mudança ficaram a cargo da ATCA por um período de cinco anos.
O governo garante um orçamento mínimo para as despesas e a gestora da Osba é estimulada a buscar parcerias com a iniciativa privada. O contrato atual vale até 4 de abril de 2022. Um novo edital deve ser aberto até lá.
A diretora executiva da Osba, Alessandra Flores, considera que esse é um modelo que agiliza a gestão: “É a única forma que encontramos, por exemplo, de contratar mais músicos. A Osba tinha 54, dez dos quais eram Reda, 43 idosos já quase se aposentando e a gente não pode fazer concurso”. Uma orquestra precisa de, no mínimo, 72 músicos, mas no momento a Osba tem 68. Quatro músicos concursados da Osba não concordaram com a mudança de gestão e desenvolvem projetos paralelos.
“O ideal seria ter 100, 120, mas queremos atingir 80”, afirma Alessandra, que está preparando uma proposta para o novo edital. A esperança da ATCA é estar presenteem 2021, quando a Osba completa quatro décadas. Fica até uma sugestão para o repertório do Cine Concerto em 2022: a trilha sonora do filme Bem-vindo aos 40.
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