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07/01/2024 às 6:30 • Atualizada em 07/01/2024 às 12:20 - há XX semanas | Autor: Marcos Dias

MUITO

Paroano Sai Milhó celebra 60 anos no Carnaval

A folia deste ano promete para o grupo sessentão

Grupo Paroano Sai Milhó
Grupo Paroano Sai Milhó -

No próximo mês, precisamente no dia 9 de fevereiro, o grupo musical Paroano Sai Milhó completa 60 anos. O maravilhoso é que a beleza das apresentações e o sentimento que animaram os integrantes do grupo há seis décadas, permanecem, realmente, como o A TARDE registrou [11 de fevereiro de 1965] no segundo ano que foram às ruas sobre a repercussão da estreia: “Pessoas que acompanharam de perto as apresentações do grupo, durante os três dias de folia, chegaram a afirmar que o Paroano Sai Milhó foi a joia do Carnaval Bahiano de 1964”. E assim tem sido desde então.

Mas não apenas durante a folia. O encantamento provocado pela presença dos palhaços cantores e o modo como elaboram arranjos do cancioneiro popular – isto é, como paroanizam – são um patrimônio cultural de Salvador e tem, como se vê, até um vocabulário próprio.

Paroano Sai Milhó em 1991
Paroano Sai Milhó em 1991 | Foto: Luciano Da Mata/Cedoc A TARDE

A efeméride começou a ser celebrada desde o final de outubro de 2023, com a exposição Há 60 anos cantando histórias, no Salvador Norte Shopping. O Paroano também se apresentou no MAB, em novembro, em homenagem à exposição Mancha de Dendê não sai - Moraes Moreira. E em dezembro, apresentou o show Carnatal, no projeto Estação Rubi (Wish Hotel da Bahia), porque, afinal, o repertório e as performances também se expandem para festas de fim de ano, período junino, comemorações do 2 de Julho e outros eventos.

O Carnaval deste ano promete. No dia 8 de fevereiro, quinta-feira, o Paroano vai seduzir o Rio Vermelho com o magnetismo de seis décadas. No sábado e na segunda de Carnaval, segure na mão de Momo e vá para o Pelourinho, que poderá ver e ouvir os 18 integrantes, os paranoeiros (integrantes efetivos), e ficar por ali cantando e se emocionando com pessoas que acompanham – paranoetes, em geral.

Saúde

A estreia dessa aventura ocorreu quando Antonio Carlos Mascarenhas, o saudoso Janjão, um dos fundadores, reuniu amigos que tocavam instrumentos acústicos e saíram os nove pela Saúde e pela avenida. Na época, Chico Mascarenhas, irmão de Janjão, tinha 16 anos e diz que ficava por ali, “piruano” os encontros, até integrar o grupo. “Acabei ficando e estou aí como único remanescente daqueles nove aventureiros brancaleônicos”, brinca ele, hoje com 76.

A irmã de Janjão e Chico, Mali Mascarenhas Fernandes, foi quem costurou as fantasias da estreia: todos saíram vestidos com uma calça preta e um lenço tipo mexicano, que aparentava um triângulo na frente e nas costas com uma franja na ponta, nas cores mostarda, marrom e bege. “Era singelo mas dava uma uniformidade”, diz ela, lembrando que nem sempre os integrantes se vestiram como palhaços.

“Meus pais [Aloísio e Conceição Mascarenhas] não eram exatamente carnavalescos, mas meu pai também era músico, tocava e a gente nasceu e cresceu ouvindo música. Ele incentivava muito, mas não participava indo para a rua. A casa deles ficou como se fosse a primeira sede, porque tudo ficava lá, roupa, instrumentos, chapéus”, lembra Mali, que nunca deixou de acompanhar o grupo.

Chico revela porque, em 1983, a roupa de palhaços passou a fazer parte da identidade do grupo: “Tem muito a ver com a figura do palhaço como uma representação de alegria exteriorizada. Quando a gente vai a um circo ver um palhaço, não vê o que está por trás desse personagem, que pode estar passando por problemas, mas está ali com a missão de transmitir alegria”.

E também porque sempre ficavam indecisos se perguntando qual seria a fantasia da próxima vez. “No primeiro ano, quando foi apresentado o primeiro modelo de fantasia na casa dos meus pais, o nome veio daí. Alguém disse na época: ‘Ah, tá muito mixuruca’. Aí outro disse: ‘Para o ano sai melhor’. Aí alguém sacou e disse: ‘Olha aí o nosso nome!’. O palhaço resume essa coisa da alegria, da euforia, do prazer e da distração”, diz Chico, que promete um modelo de fantasia e de camisa especial para os 60 anos, mas isso ainda é um segredo.

Outros tempos

Nos 60 anos, obviamente, também cabe uma síntese sobre alguns caminhos do Carnaval em Salvador. Para Chico, o grupo conserva seu propósito inicial de levar a música popular brasileira ao povo, fazendo alegria, fazendo com que as pessoas se confraternizem e se irmanem na amizade.

“Nasci e me criei na Saúde, onde o Paroano nasceu, e fui acostumado com os cordões, as batucadas (aquela batucada que andava em fila indiana pelo meio-fio) e os trios elétricos depois, com uma participação popular muito grande. Isso era, digamos assim, o destaque do carnaval baiano: a participação popular”.

O grupo saía da Saúde, desfilava pelo Centro, ainda quando as pessoas prendiam suas cadeiras em postes e árvores para assistir, até que precisaram evitar o som dos trios (é um grupo acústico, afinal). Foram para o Pelourinho, mas num certo momento as pessoas evitavam estar por lá depois das 22h30 por causa da segurança e acabaram entendendo que o Rio Vermelho poderia comportar a sonoridade e a participação que tanto prezam.

“O Carnaval mudou, evidentemente, tudo na vida muda. Mas, de alguma forma, está havendo uma retomada de grupos como o Paroano, que é o mais longevo grupo vocal depois do Demônios da Garoa. Nós temos, por exemplo, O Povo Pediu, que tem uns 40 anos, no mesmo estilo do Paroano, música em canto coral com instrumentos leves, sem amplificação, com o povo ao lado, ao redor, acompanhando, cantando”, diz Chico.

E o povo, ele acrescenta, inclui artistas como Caetano Veloso, que nos anos 90 disse que “o Paroano é um oásis no Carnaval baiano”e também tem o reconhecimento de Gilberto Gil, Daniela Mercury, Margareth Menezes, Luiz Caldas, Moraes Moreira, Paulinho Boca, “pessoas que viram no Paroano um estilo muito próximo e próprio de um carnaval das antigas”.

O músico Tuzé de Abreu, por exemplo, considera uma honra ter sido diretor musical do segundo disco do grupo (Paroano Sai Milhó, 1999): “O grupo tem uma unidade e um tipo de empatia formidável, que é impressionante porque eles criaram um jeito de fazer carnaval. O Paraoano é uma coisa carnavalescamente ímpar e maravilhosa, formada por pessoas que têm muito amor, um grupo que tem basicamente o amor àquilo como motor de sustentação”.

Utopia democrática

Para o pesquisador e músico Álvaro Lemos, que defendeu em 2014 a tese de doutorado Paroano Sai Milhó - 50 anos: percurso histórico e identidades no Carnaval de Salvador, arrisca uma interpretação para a permanência do grupo, que considera uma “verdadeira utopia democrática”: “Nos grandes grupos do carnaval-turismo existem reis e súditos, no Paroano todos são plebeus. Esse talvez seja um dos segredos da sua longevidade e um dos fatores de não ocorrerem disputas entre seus integrantes. Todos tocam e cantam por amor ao Carnaval e pelo prazer e alegria que ele proporciona a cada um dos integrantes como experiência coletiva”.

Mali, que é psicanalista, considera que há o desejo de cada um, mas tem o desejo coletivo que dá um impulso muito grande à capacidade do grupo permanecer e atrair novos fãs.

“Acho que tem a ver, em primeiro lugar, com o amor que os integrantes têm pelo Paroano, e o fato de os mais antigos permanecerem. Acho que tem a memória do meu irmão também, Janjão, como se fosse uma forma de preservar isso. E tem uma coisa de um repertório muito bom que a gente praticamente não ouve, acho que isso mantém aquele público cativo que está sempre acompanhando. Temos laços afetivos profundos”, diz ela.

Um dos membros do Paroano, o arquiteto, urbanista e professor universitário aposentado Chico Ulisses é desses paranoeiros que se encantou com o grupo quando ainda desfilava pela rua Carlos Gomes.

Ele já tocava e cantava na noite, mas entrou no grupo em 1987 e três ou quatro nos depois tornou-se o puxador oficial (até 2015, quando precisou sair do país para um pós-doc), e contribuiu também para a renovação do repertório e estimulando o Paroano a cantar também no São João e no Natal.

“O Paroano é a materialização da diversidade social, econômica, cultural e de personalidades, porque somos 18, e nenhum é parecido com o outro. A soma das capacidades individuais é maior do que os indivíduos. A diversidade é uma das riquezas do Paroano, que é conviver em prol de um objetivo comum, que é cantar”.

Outro integrante do grupo musical é o médico Archibaldo Daltro Barreto Filho, o Quico, que se aproximou do grupo quando cursava o primeiro ano da graduação, em 1971, e até hoje, depois de ter morado fora algum tempo, participa da arte do grupo: “Não posso prescindir do Paroano. Já estou com 77 anos e não tenho a menor ideia de quando eu vou parar e, assim como eu, vários companheiros”.

Ele costuma dizer que “uma vez paranoeiro, sempre paranoeiro”. E atribui isso a uma ‘magia’ que ocorre quando estão cantando: "A gente canta em círculo nas ruas, então, quando a começamos acontece uma energia tão boa, que é contagiante. Somos um coral, temos arranjos e a primeira, segunda e terceira vozes. É uma trança das vozes. Isso cria em cada um algo muito forte e fica todo muito feliz, quem participa disso fica definitivamente carimbado”.

Foi Quico, inclusive, que produziu o primeiro disco do Paroano, em 1994 [a discografia está disponível no Spotfy], e é autor do livro Paroano Sai Milhó, histórias de amor à música, à alegria, às cores e à vida (2011), sobre história do grupo.

Tudo indica que, em breve, vai lançar um segundo, uma espécie de fotobiografia desses 60 anos. “O que nos propomos a fazer são esforços pessoais para resultados coletivos. Isso, para mim, é o mais encantador. Só acredito no coletivo. É a força do coletivo que consegue fazer com que as pessoas se sintam bem, felizes e alegres”.

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