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“Precisamos demonstrar que Salvador tem um potencial enorme”, diz Leonardo Régis

Publicado domingo, 07 de novembro de 2021 às 06:00 h | Autor: Gilson Jorge
Leonardo Régis
Leonardo Régis -

Leonardo Régis foi um dos empresários que apostaram na renovação do Centro Histórico de Salvador. Em um mesmo casarão, no Terreiro de Jesus, instalou uma unidade do restaurante Mariposa e uma revenda de sandálias Havaianas. Junto com outros comerciantes, formou a Associação do Centro Histórico Empreendedor (Ache), da qual se tornou vice-presidente, em um movimento que trouxe uma nova liderança empresarial para uma região que teve como porta-voz, durante décadas, a Associação dos Comerciantes do Pelourinho (Acopelô), comandada por Clarindo Silva, da Cantina da Lua. Mal deu tempo de comemorar a empreitada e veio a pandemia, fechando quase todos os negócios por meses. Com a retomada das atividades, veio também uma novidade. Desde o mês passado, Leonardo é também o presidente do Convention & Visitors Bureau Salvador, órgão que se atribui a tarefa de fomentar o turismo em todas as suas nuances, não apenas no Centro Histórico, mas em toda a cidade. Nesta entrevista, o empresário fala do que espera para o seu mandato de dois anos e do setor de turismo em geral.

O Convention & Visitors Bureau Salvador agora tem status de associação. O que muda?

O que muda é que a gente vai ter velocidade como entidade associativista para poder gerar uma integração entre os diversos setores que desenvolvem o turismo na cidade do Salvador. Conseguimos, com essa retomada, tornar o volume de negócios mais promissor. A retomada do Convention Bureau é para focar nos variados níveis de turismo e nas características que eles absorvem. Comercializar e demonstrar o destino Salvador para quem queira visitar a cidade, independentemente do seu formato de visitação.

Qual a diferença do trabalho do Bureau para a Salvador Destination?

A Salvador Destination fomenta o turismo de negócios para a cidade e o Convention Bureau fomenta o turismo em geral. São entidades que vão em determinado momento interagir uma com a outra, e até confundir um pouco a depender do segmento, mas trazemos um processo de fortalecimento da imagem de Salvador como destino. Temos que saber diferenciar o que se faz em Salvador e o que se faz no seu entorno. Litoral Norte não faz parte de Salvador e, às vezes, isso fica confuso para quem está visitando a cidade.

Até porque tem gente que desce no aeroporto e vai direto para Sauípe…

Exatamente. Essa é umas das desmistificações que a gente quer fazer. Acho que o papel do Salvador Convention Bureau é fortalecer a cidade do Salvador quando o viajante aterrissa na cidade e tem total possibilidade de integrar da hospedagem ao bar, ao restaurante, ao evento que acontece dentro da cidade. O que acontece no entorno vai ser responsabilidade de outras entidades.

O trade turístico trabalha com 16 categorias de turismo, dos quais apenas no caso de turismo rural Salvador não se encaixa. Temos o turismo cultural, o gastronômico... Quais são os nichos mais promissores para a cidade?

Sem dúvida, o turismo cultural e o religioso. Existe um potencial na cidade de Salvador enorme e muito bem preparado e elaborado pela prefeitura e pelo governo do estado, que fizeram um bom trabalho de organização do espaço público e isso tem sido pouco explorado. A cidade tem uma qualidade muito grande para o turismo de massa, o turismo festivo, e o de sol e praia, que vem sendo retomado. Hoje você tem a presença de diversos beach clubs na cidade sendo restruturados e, de fato, procurados pelo turismo. Isso é muito bom. O turismo náutico também vem se fortalecendo, percebemos um aumento das atividades que acontecem na Baía de Todos-os-Santos, mas diferentemente de outras capitais no Nordeste, temos um potencial cultural e religioso muito grande para ser explorado, essa é uma das bandeiras que serão levantadas pelo Convention Bureau.

O turismo religioso aqui engloba tanto o ligado ao catolicismo, com o Memorial Irmã Dulce e a Igreja do Bonfim, quanto os cultos de matriz afro-brasileira. São dois caminhos fortes. Você tem algum sonho específico aí para essa área do turismo religioso?

Sim. Existe uma série de eventos que já são promovidos pelos receptivos responsáveis por fazer essa movimentação, mas talvez não haja uma ferramenta integradora que faça com que esse destino seja vendido para esse público, que busca as informações sobre a cultura religiosa da nossa região e o papel quando você tem uma noção de onde você vai se hospedar, de quem vai te guiar, transportar, demonstrar toda essa cultura, de onde você vai ter uma boa opção de compras após a visitação, uma boa opção de lazer, de gastronomia e até a integração com o turismo de massa e o turismo festivo, de sol e praia. A cidade de Salvador tem conteúdo para as pessoas passarem quatro, cinco, sete dias e não conseguir fazer tudo que tem para ofertar. E muitas vezes a gente perde para outros destinos. Salvador, às vezes, é caracterizada como uma cidade de passagem. O visitante passa um dia ou dois, pernoita muito pouco tempo na cidade, e o objetivo é criar um atrativo para que ele possa obter o máximo de lazer na cidade como um todo.

Pensando no trajeto religioso na Cidade Baixa, é possível imaginar o desenvolvimento de negócios do turismo ali em Itapagipe, como pousadas, restaurantes, para quem vem nesse segmento. É viável desenvolver aquela região a partir do turismo?

É sim, é totalmente viável. Não podemos ter a Bahia sendo referenciada só pelos outros destinos que existem no nosso entorno e no interior. Precisamos demonstrar que Salvador tem um potencial enorme. Quando você aumenta o número de diárias e fortalece a rede hoteleira da cidade você vai precisar de mais opções para desenvolver o turismo, e quanto mais gente você tem pernoitando na cidade, mais fortalece os bares, restaurantes, a rede de hotéis, os receptivos. De fato, existia uma rota elaborada pelo próprio Convention Bureau e multiplicada para todas as entidades para vender o destino Salvador como um lugar para se passar no mínimo uma semana e não apenas visitar rapidamente alguns lugares que a cidade oferta.

No Porto da Barra já há uma agência oferecendo mergulho guiado em função dos ferries que foram afundados. Sabemos que esse é um processo que demora até se criar um novo destino. É possível imaginar quando aquelas embarcações no fundo do mar vão se tornar um atrativo relevante?

Esse é um dos papéis de qualquer Convention Bureau no mundo. Entender as opções e fortalecer a venda desse produto fora de Salvador para que as pessoas já venham conscientes ou programadas para fazer esse tipo de passeio. É superinteressante a colocação que você fez porque a cidade oferta, já é um passeio que se movimenta, mas precisa ser mais conhecido, mais divulgado, mais estruturado. Quando você vende o destino da cidade, não vende só para quem vem por uma característica. Aquelas pessoas que gostam de fazer turismo náutico e de mergulho no país precisam ter a consciência do que Salvador oferta e de uma maneira muito legal, muito bacana, pois não é qualquer lugar que você tem o naufrágio efetuado com toda essa possibilidade. E o papel nosso é integrar essas opções de lazer da cidade e que a pessoa no final da sua decisão coloque mais uma noite, mais um dia na cidade porque ele vai fazer um mergulho, a rota gastronômica, o turismo cultural e religioso, sol e praia. E que, de repente, se estiver fazendo uma viagem de negócios, que estenda os negócios dele por ter conhecimento de que a cidade é um celeiro de opções.

Uma das queixas que ouvimos de viajantes é a ausência de uma vida noturna mais consistente. Não há muitos lugares onde o turista possa ver uma roda de samba, casas de shows, até para dançar forró. Claro que isso depende da iniciativa privada, mas há caminhos para ajudar a incrementar a noite?

Não que exista uma ausência de opções de lazer na cidade. Talvez o que exista é uma ausência de se permitir o planejamento para essas pessoas. Não podemos ficar limitados ao visitante descobrir as opções da cidade na recepção do hotel. Precisa descobrir as opções no seu lugar de origem para que venha preparado. Um dos papeis do Convention é, justamente, ser um centralizador dessas rotas para que, além da agência de receptivos que já oferta, e oferta muito bem, esses serviços, o consumidor possa ter essas informações também sem estar ligado ao receptivo. Há pessoas que viajam e não querem estar atreladas ao receptivo e isso é um direito. Ela não pode estar limitada a descobrir as opções da cidade simplesmente por um mecanismo digital, que é importante, mas que possa ter uma velocidade por veículos integradores que são comuns no mundo todo, como é o papel do Convention Bureau desenvolver os destinos de cada região.

Moradores de bairros que integram o circuito do Carnaval, como a Barra, costumam se queixar que esse modelo de turismo, de folia, tende a se reproduzir ao logo do ano, sufocando outras possibilidades. O senhor tem algum receio de que Salvador fique muito vinculada ao turismo de folia?

O turismo de massa é a essência da cidade e ele precisa continuar, é muito importante para a cidade, mas termina gerando uma concentração de visitas. Você tem todo o dado turístico levantado anualmente, mas com a concentração dele à alta estação. De fato, um dos desafios é descentralizar essa concentração. Não tornar Salvador uma cidade de tanta sazonalidade, ter opções de lazer para que as pessoas comprem o destino Salvador, se hospedem em Salvador, independentemente do foco no turismo de massa, ou no turismo de outras regiões que estão no nosso entorno. A pessoa vir para Salvador curtir o turismo náutico, o esportivo, quando tiver, o próprio turismo de estudo que já é fomentado pelo governo do estado na cidade do Salvador, e o nosso papel é ter uma melhor comunicação. Quando você comunica melhor, vende um destino melhor para essas variadas características. Salvador tem tudo para se tornar não só uma grande referência do turismo de massa, mas do turismo em diversas esferas. Não tenha dúvida de que os empresários estão sedentos por oportunidades de atender melhor os turistas e que eles não fiquem limitados só às festas, os eventos de massa que a cidade oferta e que terminam verticalizando muito a movimentação econômica e impedindo que mais empregos sejam gerados, mais empresas ligadas ao setor sejam formadas e mais negócios sejam gerados na nossa cidade.

Já há um plano de comunicação? Como esse trabalho será feito?

Sim. Iniciamos uma visita com os diversos setores ligados ao turismo, tanto do poder público quanto da iniciativa privada, exatamente para causar esse entendimento do papel do Convention Bureau, demonstrar que nós somos uma associação com referência nacional, isso é muito bom também, porque a partir do momento que a gente perceba que as coisas não funcionam ou não estão na velocidade adequada, conseguimos recorrer à entidade nacional e chegar inclusive à Embratur. Isso é muito importante para ter o nosso destino reconhecido como um destino organizado, preparado para passar boas experiências para qualquer tipo de visitante.

Vamos aproveitar que o senhor é vice-presidente da Ache e falar um pouco do Centro Histórico, uma das joias da cidade. Agora durante a pandemia alguns casarões desocupados foram invadidos. Alguns comerciantes estão apreensivos. O senhor tem acompanhado a situação?

Nós temos conhecimento. O papel nosso é ser apoiador do poder público no que se refere à organização. Qualquer tipo de ocupação precisa ser organizada também. As diretrizes do poder público precisam ser respeitadas e é papel nosso apoiar pela melhor experiência, não só dos visitantes, mas dos moradores que também têm a sua força de trabalho ou base de moradia no Centro Histórico. Nós vamos sempre apoiar a melhor organização do principal destino turístico da cidade. O destino que reverbera para fomentar negócios na cidade toda.

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