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Projeto Casa Verde Itapuã começa hoje com programação até agosto

Programação do Projeto Casa Verde vai mesclar tradição com talentos emergentes

Por Gilson Jorge

03/03/2024 - 5:00 h
Espaço Casa Verde, que se destina à preservação da memória do bairro de Itapuã e à promoção do bem estar. Na foto: o pesquisador José Manuel de Assis Souza
Espaço Casa Verde, que se destina à preservação da memória do bairro de Itapuã e à promoção do bem estar. Na foto: o pesquisador José Manuel de Assis Souza -

Poucas pessoas em Itapuã são tão respeitadas pela comunidade como o músico Amadeu Alves. Ex-diretor da Casa da Música, no Abaeté, o artista transita sem dificuldades entre pescadores, compositores populares, bordadeiras, sambistas e quase todo mundo que faz do bairro um "principado" dentro de Salvador, como definiu o falecido menestrel Juca Chaves, um dos mais ilustres itapuãzeiros de todos os tempos.

Hoje, Amadeu inicia um novo capítulo na sua relação com a vizinhança ao abrir o imóvel de número 102, da Avenida Dorival Caymmi, antiga moradia da família Alves, para uma variada programação cultural e social que se estende até agosto, com o auspício da Lei Paulo Gustavo.

Batizado de Casa Verde, o imóvel acolhe manifestações culturais de Itapuã desde 2010. Mas agora inicia uma nova fase, que além de arte e artesanato, abarca um brechó, aulas de yoga e terapias integrativas, cursos de música, shows e um podcast, com entrevistas a moradores emblemáticos do bairro.

Um dos convidados da programação de estreia do projeto é o fotógrafo José Manoel de Assis, o Nel, filho e neto de pescadores, que hoje às 14h divide uma mesa com o pescador Bal das Pembas, dentro da série Bate-papo musicado, com o tema Pescadores de Itapuã. A conversa tem a mediação de Amadeu.

O evento é gratuito, será transmitido pelo Instagram (@casaverdeitapua), mas para presenciar a conversa é necessário retirar um convite através do site www.sympla.com.br.

Graduado em história e turismo, Nel enaltece a nova programação da Casa Verde. "Eu acho essa iniciativa uma ferramenta muito importante para Itapuã, pois aproxima a comunidade do seu próprio conhecimento, trazendo pessoas que nasceram no bairro, que labutam com pesquisa ou no seu dia a dia para falar sobre suas especificidades", afirma o fotógrafo.

Nel ressalta também as qualidades do arquiteto do projeto: "Amadeu vem fazendo um trabalho brilhante. Eu como nativo de Itapuã e pesquisador da questão da pesca me sinto lisonjeado por poder falar hoje de um tema tão pouco abordado, que é a pesca em Itapuã".

A programação do Projeto Casa Verde vai mesclar tradição com talentos emergentes. No dia 21 de março, por exemplo, acontece o Sarau da Casa Verde, que terá como atração principal o sambista Regi de Itapuã. Há a possibilidade, ainda por confirmar, de que esteja presente uma artista prodígio de Itapuã. Ela ainda é uma criança, mas com seu talento acumula mais de 230 mil seguidores nas redes sociais. Um mar virtual que não tem tamanho, Vinícius...

E no dia 18 de abril a Casa Verde recebe Dona Salvadora, uma tradicionalíssima cantora e rezadeira, dessas que lhe aquecem o coração com suas histórias. Sua ligação com a música começou na infância, no município de Serrolândia.

Ela cantava enquanto tinha que trabalhar raspando mandioca em uma casa de farinha e criava melodias. "Eu aprendi a compor sem ninguém. Foi Deus que me deu o dom", exalta a cantora.

Filha de um trabalhador rural, Dona Salvadora se acostumou a mudar de cidade com frequência, acompanhando o ritmo da família. "Papai era andejo, mas todo mundo foi criado na honestidade, trabalhando na roça", conta a cantora, que nunca deixou pela estrada o prazer pela música.

Na verdade, Dona Salvadora mora no bairro vizinho de São Cristóvão, perto do Clube de Golf Mugfi. "Eu amo aquele lugar", declara a senhora, com a mesma empolgação com que se levanta para buscar um ramo de aroeira, com que faz suas rezas e bendições, para presentear o repórter.

Bordado

Outra atividade impulsionada pela casa é o bordado. Desde 2018, um grupo de oito mulheres se reúne para tecer panos e histórias. O coletivo foi batizado de Bordadeiras de Itapuã e deve trabalhar, a partir de agora, com temas ligados ao bairro. As reuniões são lideradas pela artesã Geane Guimarães, casada com Amadeu.

Durante a pandemia, as reuniões aconteceram online. "Depois, a gente entrou com um projeto para fortalecer a tradição do bordado e também trabalhar a questão terapêutica. Alguns bordados daqui participam agora em março de uma exposição com mulheres estrangeiras em Verona, na Itália", explica Geane.

Desde o ano passado, a professora universitária aposentada Maria Suzana Moura, que também borda, coordena o trabalho terapêutico na casa. Em uma atividade chamada O Brasil que queremos, Suzana utiliza a técnica de visualização criativa.

"A gente faz movimentos de respiração e imaginação para que saiam os temas, tem a questão indígena e a preservação da natureza, por exemplo", afirma Suzana.

A Casa Verde por si já tem seus encantos que merecem uma visita, uma respeitável flora tropical, ambientes ventilados, vestígios da cultura do bairro, como instrumentos de percussão utilizados pelas Ganhadeiras de Itapuã, e um sistema de captação da água da chuva, que leva a tanques plásticos água suficiente para a limpeza do imóvel. "Nos tanques há peixes que comem larvas e impedem a criação do Aedes aegypti", expilca Amadeu.

Mas, além disso, a casa passa por reformas com a implantação de telhas de isopor, que possibilitam um melhor isolamento térmico. E o piso de cimento do quintal será trocado por madeira, para permitir a prática de yoga.

Missão

Nas palavras de Amadeu, a missão da Casa Verde é o trabalho para a preservação da memória do bairro, das culturas populares, a produção e o desenvolvimento artístico e cultural. "Isso inclui também as perspectivas ligadas à saúde e ao bem-estar".

Com um olho na tradição e outro na modernidade, a Casa Verde hospeda também o podcast Gene-papo, um trocadilho com a fruta, muito presente no bairro. Somente na Casa Verde há quatro pés e em Itapuã existe o Largo do Jenipapeiro.

"Eu estava buscando um nome para o podcast , e queria também um nome que ligasse à cultura indigena", explica Amadeu, que convive com a fruta desde a infância. A fruta começa com j, mas na hora de batizar o programa, Amadeu escolheu o G.

"Pensei em Gene, de genética, de gênese, pois cada convidado traz seu DNA", explica o músico. No podcast que foi ao ar esta semana, por exemplo, o DNA da principal atração é polonês.

Em uma conversa de pouco mais de uma hora, Roman Polan, morador do bairro, conta sua trajetória no Brasil desde a chegada ao Rio de Janeiro até a instalação na Bahia. Os podcasts podem ser assistidos no canal de Amadeu Alves no YouTube.

O estúdio fica na Casa Verde e a gravação aconteceu na última segunda-feira, logo depois que terminaram as atividades com um grupo de bordadeiras do bairro e uma aula de música.

Sobre o convívio de tantas atividades sob um mesmo teto, Amadeu afirma: "É essencial você pensar que um espaço físico possa trabalhar também nessas duas vertentes. Tanto das novas tecnologias, das necessidades atuais da comunidade, e ao mesmo tempo o fortalecimento das raízes culturais", afirma o músico.

Uma mistura que tem muito a ver com o perfil diversificado das pessoas que frequentam as atividades da Casa Verde. O curso de música por exemplo, contempla alunos que vão desde um experiente seresteiro até um rapaz que acabou de começar a mexer no violão. O compromisso que move a todos é a ideia de que ao final do ano cada aluno vai ser capaz de ler uma partitura.

O menino da Bíblia

O professor de violão, Fábio Shiva, começou a carreira na música em 1995, no Rio de Janeiro, tocando em uma banda de heavy metal. "Antes disso, eu era o menino da Bíblia. Dos 8 aos 11 anos participei na TV do programa Chão e Paz, um programa católico. Eu nem podia brigar na escola porque era o menino da Bíblia. Resultado, me retei e virei metaleiro", brinca Fábio.

Professor na Casa Verde, ele considera que a música tem um grande poder sobre o ânimo das pessoas: "O rock destrói coisas que não prestam e isso é importante porque tem um monte de coisa que não presta por aí. Mas eu agora estou mais interessado na música que constrói coisas boas".

O professor coordena o projeto Muita música, que tem como lema "Vou aprender para ensinar meus camaradas". No esquema jogral, Fábio faz perguntas aos alunos durante a entrevista na expectativa de obter respostas em uníssono. "Nosso objetivo é que quem aprende algo ensine a quem chegue depois. Não é amanhã, é dez minutos depois", diz Fábio. E acrescenta: "Eu acredito no coletivo. Como professor de violão, afirmo que meu melhor aluno particular não aprende em uma hora o que se aprende coletivamente".

Músico desde 1980, Amadeu considera que está escrevendo um novo capítulo em sua vida. Houve também capítulos com o Circo Piccolino, com as Ganhadeiras de Itapuã, com a Rede Sonora, com o teatro. "Agora há esse capítulo da Casa Verde sobre esse potencial, que não é meu. Eu tenho essa tendência de criar redes", afirma o músico.

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