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Projeto valoriza produção de artistas visuais negros do Recôncavo

Iniciativa foi pensado para o formato de exposição presencial com o lançamento de documentário e livro

Publicado domingo, 14 de agosto de 2022 às 05:15 h | Autor: Álene Rios
Projeto foi concebido pela multiartista Tina Melo
Projeto foi concebido pela multiartista Tina Melo -

A inquietação em relação à produção artística negra que não recebe a atenção devida foi o que levou a multiartista e mestra em História da África, Diáspora e dos Povos Indígenas, Tina Melo, a iniciar uma pesquisa há cerca de oito anos, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

A vontade de disponibilizar o conhecimento para mais pessoas, principalmente para que tais obras e histórias não ficassem apenas na academia, a impulsionou a expandir o alcance do projeto Traço Negro, lançado no sábado, nos formatos de documentário, e-book e exposição on-line.

Com as diferentes abordagens – imagem, som e texto –,  cada produto apresenta uma dimensão dos artistas que integram o conjunto. “Sei que a minha pesquisa não resolve esse problema, mas é uma busca por uma contribuição nesse sentido”, diz ela.

Inicialmente, o projeto foi pensado para o formato de exposição presencial com o lançamento do documentário e do livro virtual Narrativas Negras nas Artes Visuais de Cachoeira e São Félix, mas a adaptação trouxe novas perspectivas. “Ganhamos nesse sentido de alcance. Na internet, isso pode chegar em outros estados, em outras cidades, para qualquer pessoa poder acessar”.

Tina explica que a produção do conhecimento da arte de pessoas negras sempre se deu por meio do olhar do outro que tentava classificar o que era visto, e não pelo próprio povo negro. Daí a necessidade de assumir a complexidade estética apresentada e afirmar a diversidade de narrativas.

“Não é pelo fato de esses artistas estarem no mesmo território, produzindo muitas vezes a partir de uma mesma linguagem, que vai existir algo que tipifique ou valorize essa arte. Acho que é, justamente, o caso de valorizar cada traço, cada particularidade, e aí tentar contemplar essa riqueza que existe nessa diversidade”, defende.

Maior transmissão

A produtora editorial do e-book, Patrícia Bssa, comenta que a totalidade do trabalho é um pensamento importante de Tina Melo como curadora e aglutinadora de saberes. Ela entende também que o livro, em sua edição virtual, ganha outra importância e potencial de contribuição para o projeto.

“Acredito que seja uma possibilidade ampliada do que seria um catálogo de exposição que a gente conseguia antes da pandemia. Acho que o e-book dá conta desse lugar do catálogo com a possibilidade de maior transmissão, maior divulgação e distribuição”, afirma Patrícia.

Um dos artistas que integra o projeto Traço Negro, Davi Rodrigues, pintor e gravador, cresceu observando uma tia artista e foi desenvolvendo interesse na área. Logo ele começou a fazer gravuras em entalhe sobre o Recôncavo, prática que dedicou aproximadamente 15 anos. Encantado pela cultura popular, o pintor se envolveu cada vez mais com as manifestações culturais ao seu redor.

O artista, que trabalha com xilogravura, distribui os seus trabalhos em arames pelas ruas do Recôncavo e, entre as técnicas que desenvolve, está o pontilhismo. Também tem as suas ilustrações publicadas em diversos livros.

Ele  guia diversos visitantes da cidade para todos os cantos que conhece, e encontra nas paisagens e na efervescência cultural que o cerca, a inspiração para as suas obras. “Essa é a minha contribuição para a nova geração ter um significado do sentimento e da espiritualidade da cultura popular do nosso Recôncavo”, diz ele.

E acrescenta:  “Para mim, isso tem um significado muito grande, porque não vem de uma simples produção, vem com a alma de uma pessoa que tem essa identidade, vem de uma espiritualidade para marcar a nossa presença no universo, que o Recôncavo ainda tem esse traço negro”.

Artistas

Ao todo, 18 artistas compõem a mostra: Aletícia Bertosa, Áydano Jr., Billy Oliveira, Biro, Diego Araújo, Davi Rodrigues, Deisiane Barbosa, Florisvaldo Ribeiro (Flor do Barro),  Carlos Alberto do Nascimento (Fory), Gilberto Filho, Renato Kiguera, Celestino Gama (Louco Filho), Almir Oliveira ( Mimo) e seu filho Ronald Oliveira, Eraldo Souza Jr. (Pirulito), Rita de Cássia, Jonilson Rodrigues (Sininho) e Tina Melo. O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia, através do Fundo de Cultura  e Secretaria de Cultura da Bahia.  Os  produtos estão disponíveis no site www.traconegro.com.

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