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11/07/2021 às 6:00 - há XX semanas | Autor: Yumi Kuwano

MUITO

Skatistas baianos apostam em mais valorização do esporte a partir da Olimpíada de Tóquio

Felipe Oliveira: estilo e performance no pelourinho | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE
Felipe Oliveira: estilo e performance no pelourinho | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE -

É até difícil imaginar que o que começou como um improviso para os surfistas da Califórnia lá por volta da década de 1950, que não podiam surfar por causa das condições desfavoráveis das ondas, pudesse virar um esporte olímpico. Assim surgiu o skate, quando surfistas tentavam imitar as manobras das ondas usando rodas e eixos montados em pranchas de madeira. As piscinas vazias eram um excelente lugar para a brincadeira.

O skate é um dos cinco novos esportes nos Jogos Olímpicos deste ano junto com beisebol/softbol, karatê, escalada e surfe, que ainda estão em fase de teste, portanto, não fazem parte de forma definitiva do quadro de esportes. Mas o surfe no asfalto já tem vaga garantida nos Jogos Olímpicos Paris 2024.

O skate é um esporte radical que pode ser considerado como atividade recreativa, um estilo de vida, uma profissão ou até um meio de transporte. E cada um enxerga a prática de uma forma diferente.

Felipe Oliveira é um dos nomes de destaque da atualidade no Brasil. O baiano de 26 anos começou aos 11 e nunca deixou de praticar. Hoje, o skatista mora em São Paulo, onde a cena do skate consegue ser mais promissora do que nos estados nordestinos.

Assim como os surfistas do passado, Felipe chama a atenção pela sua criatividade. Entre os seus lugares preferidos de Salvador para andar de skate estão as praças do Pelourinho, a pista dos Barris (na época da sua construção), e o Jardim dos Namorados, onde ele diz que se “criou” no skate.

Capoeira

Um dos motivos que tornam seu estilo único é a conexão que Felipe faz entre o skate e a capoeira, que costumava praticar quando mais novo. Recentemente, ele lançou um tênis em parceria com a Converse inspirado nas duas práticas. E nos últimos anos tem estado mais próximo da moda, com a sua marca de roupas Worldxit.

Um dos projetos de que Felipe participa por aqui é a criação de um espaço de arte e cultura, no Pelourinho, montado pelos amigos da capoeira e do skate. Lá, poderão divulgar trabalhos e projetos em diferentes áreas, como fotografia e tatuagem.

“A relação que encontrei nos estudos sobre a história da capoeira é que, antigamente, os melhores capoeiristas, povo preto, sofriam muito com a repressão, e mais de 100 anos depois percebo a mesma situação com os skatistas”, conta. Para Felipe, o skate é mais que um esporte: “Andar de skate é mais uma libertação do que uma prática que leva à competição, como os esportes convencionais”.

MANOBRAS DO TEMPO

Para muitos jovens, o skate pode ser uma forma de encontrar o seu caminho no mundo. Wellington Nero, 18, faz parte da nova geração do skate baiano. Ele diz que a prática o ajudou nesse processo de autoconhecimento. Morador da periferia, conta que muitos colegas acabaram entrando para o tráfico e até perderam a vida. Na adolescência, ele descobriu o skate e começou a praticar aos poucos. Hoje, não larga mais: “Se não fosse o skate, eu nem sei onde estaria agora. Ele me afastou de influências ruins”.

Ruan Assis, 20, considera o skate um hobby, porque a sua paixão pela arte, mais especificamente pela ilustração e a tatuagem, fez com que escolhesse a arte como profissão. Mas o que proporcionou esse conhecimento artístico foi o meio do skate, que Ruan frequenta há quatro anos: “Eu amo o skate. Ele me ajudou a me socializar mais, mexer com arte, conhecer outros artistas”, comenta.

Para Felipe Oliveira, a cena de skate em Salvador é parecida com grande parte do cenário do skate do Nordeste: “É uma coisa muito mais ligada à prática realmente pelo amor e pela diversão”.

Ele lembra que a precariedade também esteve presente na sua adolescência, mas comemora as conquistas dos mais jovens, principalmente pelas oportunidades que chegaram com a internet.

Imagem ilustrativa da imagem Skatistas baianos apostam em mais valorização do esporte a partir da Olimpíada de Tóquio
| Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE
Ruan e Wellington na Praça da Sé: hobby e honra | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE

Provações

Pode até parecer, mas a prática do skate não é exclusivamente dos meninos. Apesar de esse universo ainda ser um espaço machista, as mulheres estão há muito tempo na cena lutando por um lugar com mais respeito e igualdade.

A arquiteta Gabriela Souza foi uma das primeiras mulheres de Salvador a entrar no mundo do skate. Aos 38 anos, conta que passou por muitas provações até chegar onde está, com o objetivo de viver novas experiências.

Ela descobriu a sua paixão pelo skate lá no fim da década de 1980, quando um tio presenteou cada enteado com um skate, e um deles não se interessou tanto como ela. Costumava andar com os primos no bairro, mas por ser criança e menina, conta que era muito complicado praticar. Gabriela era empurrada dos obstáculos e pega em armadilhas pelos meninos.

Já na adolescência, ela apresentou o skate para outras amigas e assim foi formando a primeira geração de meninas skatistas em Salvador. “Nunca foi fácil, as peças eram muito caras, às vezes eu precisava de um shape, conseguia trocar, e faltava o tênis, que só durava três meses. Sempre faltava algo”, lembra.

Foi necessária uma pausa no skate por quase 11 anos para organizar a vida pessoal. Há seis, ela voltou para as pistas, mas agora de forma mais séria. Em 2019, participou do Campeonato Brasileiro Feminino de Skate em São Paulo e acredita que não é tarde para realizar o seu sonho de se tornar uma skatista profissional.

No seu retorno, criou, ao lado de Hannah Carneiro, o coletivo Dendê Crew para fomentar o skate feminino na Bahia. “Depois de passar por assédios no skate que me desanimaram, não queria que outras meninas passassem pela mesma situação”.

Piadinhas e comentários machistas são comuns, mas Gabriela conta que há também uma diferença de tratamento nas competições. De acordo com ela, a categoria feminina sempre ficava com os piores horários na disputa, com muito sol, quando o público não costuma dar muita atenção. Os prêmios também eram muito ruins. Esse cenário caminha para a mudança, mas ainda tem muito que evoluir.

“Já fizemos alguns campeonatos e premiações justas, visando a valorização da mulher no skate. Estávamos planejando criar um circuito de campeonato de skate feminino baiano para dar mais segurança às meninas que não se animavam em competir, mas estão aí construindo a cena lindamente”. Em 2019, elas conseguiram ir para o campeonato em São Paulo, a partir de uma vaquinha online para pagar os custos da viagem.

Sonho e medo

No passado, Gabriela conta que teve oportunidades para sair de Salvador e investir na carreira de skatista, mas não seguiu com o sonho por ser muito nova: “Eu tinha medo e deixei que os meus medos fossem maiores que a minha fé. Por isso quero ajudar essa nova geração”.

Gabriela faz parte da comissão técnica na categoria feminina na Federação de Skateboard do Estado da Bahia (Feseb) e também é a representante baiana da comissão brasileira de skate street feminino da Confederação Brasileira de Skate (CBSk). A expectativa da valorização do skate com a Olimpíada é alta. Não é para menos. Com a visibilidade que o esporte vai ter, o olhar daqueles que estão de fora certamente irá mudar.

De acordo com o presidente da Feseb, Windson Romero, o legado dos jogos olímpicos não vai trazer benefícios só para os skatistas de alta performance, os que participam de competições, mas pode trazer também modelos de boas pistas das modalidades street e park para a Bahia, atendendo também os skatistas que andam por diversão.

As duas modalidades que farão parte dos jogos olímpicos são a street, que simula os obstáculos da rua na pista, e a park, uma bacia gigante, que lembra as piscinas, com paredões e também obstáculos do street.

Representatividade

Construção de novas pistas, olhar do poder público e adesão de novos praticantes estão entre as apostas do presidente da Feseb para a Bahia. “Nos últimos cinco anos mais que dobrou o número de skatistas no Brasil, e, com a movimentação das olimpíadas, isso vai aumentar ainda mais”, comenta.

Romero assumiu a gestão em maio deste ano e ressalta que um dos seus objetivos é levar representatividade para dentro da federação. “Entendemos a dificuldade da mulher em ter o seu espaço e buscamos essa representatividade feminina também. O skate é muito acolhedor e pretendemos oferecer esse acolhimento para todos os grupos minoritários da sociedade”. Para ele, é importante incluir as mulheres não só na prática do skate, mas também nas áreas burocráticas e de preparação de competições.

Apesar de a Bahia ter skatistas reconhecidos nacional e mundialmente, os praticantes sofrem com a falta de equipamentos para o esporte. Romero explica que o fato de os skatistas usarem as praças públicas, ainda mais no passado, fazia com que a imagem deles fosse um pouco deturpada.

Com novas pistas para treino, o skate vai ganhando uma imagem mais positiva. Uma nova pista da modalidade park será construída em Stella Maris, com previsão de conclusão para o primeiro trimestre de 2022. Para Gabriela, o Brasil tem uma relação muito delicada com a manutenção dos seus patrimônios: “A gente constrói o patrimônio, mas o complicado é manter”.

Ela cita as pistas da cidade que precisam de manutenção, como a dos Barris e a do Parque da Cidade, além de ressaltar a proibição do funcionamento durante a maior parte da pandemia da pista do Parque dos Ventos, a melhor de Salvador atualmente, segundo ela. “Há anos reclamamos sem ver nenhum resultado, mas acho que as Olimpíadas vão ajudar”. A competição, que contará com 80 skatistas – 12 deles brasileiros –, poderá ser vista a partir do dia 25 de julho. O esporte encerra suas atividades na Olimpíada no dia 5 de agosto.

Imagem ilustrativa da imagem Skatistas baianos apostam em mais valorização do esporte a partir da Olimpíada de Tóquio
| Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE
Gabriela Souza: "Quero ajudar essa nova geração" | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE

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