Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > MUITO
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email
27/08/2023 às 3:00 - há XX semanas | Autor: Antonia Damásio*

CRÔNICA

Sobre o ser flexitariano

Confira a crônica da Revista Muito

Imagem ilustrativa da imagem Sobre o ser flexitariano
-

Que a vida é um risco, um sopro ou uma mordida, todos mais ou menos intuem. Cada um no seu quadrado, retângulo ou pentágono. A vida é complexa, como a álgebra, a trigonometria, a geometria espacial. Para compreender as posições que a gente assume na vida, é preciso mais que pilates, regra e compasso. Muitas vezes precisamos recorrer a epopeias e outras narrativas.

Foi assim que me encontrei flexitariana, um ser mitológico metade boi, metade cogumelo. Ficou fálico esse negócio. Foco no conceito. Aquele que encontra o meio termo, o ponto de equilíbrio, a maturidade, o consenso, encontra a cola que junta tudo. Aí saímos do campo da neutralidade (aquele que garante que a Terra não é redonda). Segue o barco, Osíris. Eu sou redonda. E já me perdi nesse mosaico.

Melhor focar nos amigos. Quem tem amigos pacificadores tem uma vida menos atribulada, mas sem garantia de que será mais emocionante. É o território dos mediadores ou dos incuráveis gulosos que não perdem uma boquinha, seja ela verde-rúcula (que difere tangencialmente do Rufallo, já que esse último não amarga) ou vermelho-beterraba encarnado.

Os apaixonados, vibrantes e enérgicos ocupam as faixas gastronômicas mais extremas. Carnívoros convictos, veganos militantes. De um lado ou de outro, o prenúncio apocalíptico de algum modo permitiu a existência de modos de vida menos delimitados, mais fluidos. O amigo infame que frequenta o churrasco à moda dos veganos, trucidando uma melancia t-bone no final do dia, pode oferecer um salmão sunset para os mais chegados. É como possuir um greenredcard. Você transita por mundos opostos, é sócio de clubes distintos e não tem que dispensar nada. Sua despensa é multicolorida, fusion e de bem com todas as possibilidades da vida nutricional.

Tenho um código de ética muito particular para a comilança. Antropofágica, sempre devorei meus amores. Se você não se parece com um pão francês quentinho, coberto com manteiga derretida (pode ser clarificada), uma bela lasca de queijo Gouda e prosciutto do bom, pode ficar em paz. Agora, se for do tipo casca crocante por fora, macia e tenra por dentro, robusto como um bom cacetinho (calma, rapaz… ainda estamos no território da boulangerie), recheado de queijo coalho… Pense bem. Melhor manter a distância regulamentar.

A vida é para ser mordida, apreciada, dilatada. E é preciso distinguir texturas, destilar consistência. A posição mais complicada é a que exige equilíbrio, propriocepção e força. Tudo junto e misturado, como aqueles pictóricos do Kama Sutra. A vida é o Shiva dançarino, gracioso e delicado, mas pronto para o combate. A ternura pode ser implacável, se aplicada uma força G a mais. O fluxo segue do bonitinho ao ordinário.

Diminuir o percentual proteico, como protesto à indústria, como protetivo aos bichos fofinhos, tudo isso faz parte da agenda das pessoas mais admiráveis. Eu concordo com tudo isso. Nada de relacionamento íntimo com um bichinho que você vai ver crescer e depois ornamentar para devorar. Isso só vale para outra categoria do mundo animal. Lançada a controvérsia, já vou para outro parágrafo.

A essas alturas, o mar já deve estar agitado, as nuvens encobertas e seus sentimentos rumando a estados limite. Engraçado, mas cruel. A hermenêutica poderia salvar o mundo. Leia novamente. Talvez não seja exatamente o que eu quis dizer. Encontre o caminho do meio. Nesse território você está por sua própria conta e muitos riscos. Parafuseando McLuhan, o meio é a mensagem, a chave é a fenda.

Depois do fogo, do comprometimento da bile, vamos aterrar. Pise firme os pés no chão, visualize raízes, fuja das proteínas. A carne é traiçoeira como as superfícies movediças. Finque os pés na areia e sinta a brisa do mar. A maresia é uma sensação difícil de descrever. Um prenúncio de dia bom, de onda que quebra, de vinho espumante. A vida também nos quebra, nos risca e rabisca. E a gente olha pra ela em posição de paGod e requebra. Na real? A associação é livre. O choro, também.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Cidadão Repórter

Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro

ACESSAR

Publicações Relacionadas

A tarde play
Play

Filme sobre o artista visual e cineasta Chico Liberato estreia

Play

A vitrine dos festivais de música para artistas baianos

Play

Estreia do A TARDE Talks dinamiza produções do A TARDE Play

Play

Rir ou não rir: como a pandemia afeta artistas que trabalham com o humor

x

Assine nossa newsletter e receba conteúdos especiais sobre a Bahia

Selecione abaixo temas de sua preferência e receba notificações personalizadas

BAHIA BBB 2024 CULTURA ECONOMIA ENTRETENIMENTO ESPORTES MUNICÍPIOS MÚSICA O CARRASCO POLÍTICA