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03/12/2023 às 1:12 - há XX semanas | Autor: Evanilton Gonçalves*

CRÔNICA

Urgente!

Toda guerra é insana

A urgência climática vem com força. Nos abraça. Abraço apertado. Sufocante. Provoca calor que esquenta a cabeça. Produz delírios. Fim de ano. Época em que se fala sempre em fim de mundo. Tem quem queira escapar. Quem ache tudo bem. A urgência se impõe pelo céu, pela terra e pelo mar. Olho pra cima. Pro noroeste do país. Manaus encoberta por fumaça. Vem do desmatamento criminoso o fogo que joga fumaça nos olhos e pulmões manauaras. Questão de tempo. Formigas metálicas, impacientes, entopem as veias das cidades. Querem avançar. Não há espaço. Brigam entre si e se matam até. Não há espaço. Tão mais distante também há fumaça. E há fogo e desespero vermelho rubi. É que Israel joga bombas contra inocentes na Palestina. Aos montes. Fazendo com que milhares de seres humanos deixem de existir pela vontade alheia. Em resposta à brutal chacina perpetrada pelo Hamas, a subjugação brutal de um povo. Toda guerra é insana. E quem nada tem a ver com a fúria dos homens é encaixotado nos efeitos colaterais. Repito: efeitos colaterais. Discurso antigo dos homens que brincam de matar. Toda brincadeira possui regras. Riso cínico. Histórias ridículas. Num gesto simples (simples?), porque se pode (se pode?), umas vidas têm mais direito à existência do que outras. Há sempre que se levantar e lutar contra injustiças e é o que fazem milhares de pessoas ao redor do mundo ao pedirem um cessar-fogo urgente. Estou no sul global e vejo tudo de perto, mesmo estando longe. Sou um ignorante, disso eu sei. Posso ver da pequena janela reluzente o que a distância sempre impossibilitou de imediato. O vulcão Kilauea desperta no Havaí. Vejo a lava brilhar e avermelhar o céu. Penso na trágica e emocionante imagem do casal eternamente abraçado em Pompeia. Eu vi, pela janela em minhas mãos, que uma nova ilha se formou no meio do mar, no arquipélago de Ogasawara, no Japão. O espanto. Sou essa ilha. Mas não quando você pega em minha mão com alegria. Assim percebo o quanto é raro esse encontro diante da vastidão do tempo e da imensidão do universo. Circunstâncias de uma vida. Sou o menino franzino de São Caetano que chutava bola de papel com entusiasmo olímpico. Sou o adolescente que gostava de poesia e nunca namorou no tempo da escola. Sou o homem que deseja a utopia. Pequenas colagens de uma vida. Mais um corpo frágil no mundo. Avaliando o entorno das coisas, o amor não é calmaria? Reinvento um cais. Apesar dos apertos da vida, estou na Cidade Baixa, aproveitando os dias de férias sentado na areia da praia de Boa Viagem, em Salvador. Céu anil. Brisa leve. Ainda assim, tenho a impressão de sentir um cheiro perturbador que vem de longe. Você não sente? Sou capaz de imaginar cinzas caindo do céu. Faço uma viseira com a mão. Sol forte. Nesse instante, estou tomado pelas urgentes questões do amor que me afetam. Meu corpo, curvado na areia, dá sinais de que não está muito bem. Tem algo no ar que adoece a cidade. As pessoas na cidade. Enquanto o mar não avança sobre mim, acompanho a lenta travessia do ferryboat rumo à Ilha de Itaparica. Foi lá onde o escritor João Ubaldo Ribeiro nasceu, recordo. Como controlar o fluxo dos pensamentos? Ainda penso no Chile. Brasileiros no Chile. Momentos felizes sob o frio. Talvez seja isso. Queria viver tranquilamente. Deve ser por isso que às vezes escuto Djavan: “E que a gente volte a rir de tudo / E que a vida seja longa e tudo / Num mundo de paz”.

*Evanilton Gonçalves é autor de O coração em outra América (Paralelo13S)

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