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02/04/2023 às 6:00 - há XX semanas | Autor: Luisa Sá Lasserre*

CRÔNICA

Vamos a la playa

Confira a crônica da edição deste domingo

Imagem ilustrativa da imagem Vamos a la playa
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“Vamos a la playa, oh, oh, oh, oh, oh..."

Ela me acordava cantando. Não sei se você conhece ou se lembra dessa música, sucesso na década de 80. Sempre achei que fosse uma composição espanhola, mas é, na verdade, de uma dupla italiana de Turim, veja só.

Pois essa simples canção é uma das memórias afetivas que tenho da infância, quando minha tia dormia lá em casa e me acordava cedinho para irmos caminhando até a beira do mar. Apesar de morarmos perto, a praia nunca foi muito “a praia” dos meus pais, então, eu só costumava ir quando essa minha tia ou outros tios apareciam.

Acordar cedo não era a coisa mais fácil para mim (nunca foi), mas chegar lá sempre valia a pena. Até hoje é assim. Eu continuo morando perto do mar e adoro, mas ainda reluto um pouco a vencer o portão e a rua. Quando vou, é sempre um deleite. Adoro caminhar, observando o céu azul riscado de branco, a espuma que cobre a areia, a tinta dourada derramada sobre o dia.

Aprecio, principalmente, a tranquilidade de uma segunda ou terça-feira pela manhã, quando quase ninguém está perdendo tempo na praia. Todos estão muito ocupados fazendo as engrenagens da cidade rodar, e eu ali gastando as horas na faixa larga de areia, cheia de espaço livre para caminhar ou correr, sem precisar me desviar das pessoas.

Passo reparando nos garis recolhendo quilos de plástico. Mais do que me espantar com a quantidade de lixo produzido, me abisma a capacidade que algumas pessoas têm de largar sujeira no meio da praia (ou da rua) como se fosse evaporar por milagre.

Devagarzinho, correndo, um senhor cruza o meu caminho, outro leva na coleira o cachorro ao lado. Uma mulher acompanhada de uma amiga passa conversando. Lá no meio do azul, um grupo de surfistas espera pela onda. Tem sempre uma criança sem aula brincando no rasinho.

Continuo a caminhada, ora altero com breves corridas. Mais à frente, uma pequena aglomeração invade a cena. São pescadores puxando do mar a rede de peixes que serão vendidos na colônia mais tarde. Uns três ou quatro embarcam numa canoa e tomam o rumo da maré. É hora de trabalhar.

Dou, então, o meu esperado mergulho antes de seguir para casa, e não esqueço da vida. Posso esquecer de todo o resto, mas me lembro bem dela, ali inteira, presente, fluida. Submerjo na vida, ou na água, como queira, e por um instante nos tornamos apenas uma. A cidade grita lá fora, e eu silencio em mim. Boiar no mar é uma das melhores sensações que eu conheço.

Sou mesmo meio bicho do mato, quer dizer, do mar. Gosto de praia vazia, de silêncio para ouvir o barulho das ondas, o canto de um pássaro, o roçar dos pés descalços nos microgrãos de areia. Não dá para ter praia deserta na cidade, mas não deixa de ser um oásis comparado ao frisson de um domingo de verão em Salvador. Melhor dia para ficar distante da praia.

Na minha cabeça ainda sigo cantando “vamos a la playa, oh, oh, oh, oh, oh”. Embalo meus próprios passos na areia. Na internet, procuro a música que permeia a minha memória marejada de infância. Quero ouvir de novo. Ué, não era uma canção animadinha e dançante para celebrar a ida à praia? Só então descubro que não: era uma crítica à bomba atômica e à radioatividade. Quem diria?!

O refrão era tão grudento, repetindo em looping na nossa mente, que acho que ninguém prestava atenção ao restante da letra. Descobrir isso agora me faz pensar...

Não, não penso nada. Amanhã vou à praia!

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