MUITO
Verão com ciência, cultura e arte: três espaços especiais
Possibilidades de diversão no verão são infinitas, principalmente estando na Bahia
Por Vinícius Marques

As possibilidades de diversão no verão são infinitas, principalmente estando na Bahia. Existem os programas quase obrigatórios, como idas às praias e aos vários shows que são realizados nessa época, mas também há outros roteiros culturais que merecem ser visitados.
Para os turistas e até mesmo para os moradores da capital baiana – que sempre podem renovar essas experiências –, a chance de se surpreender é quase certa, já que alguns equipamentos culturais passaram recentemente por reformas e trazem novidades em seus espaços.
Com um acervo que reúne mais de 20 mil peças, o Museu Geológico da Bahia (MGB), localizado no Corredor da Vitória, passou por uma grande reforma. Após quase três anos fechado, o museu retornou no final de novembro do ano passado e para isso foram investidos mais de R$ 600 mil para a requalificação da estrutura física do local.
A princípio, a reforma seria apenas numa parte das instalações elétricas e na impermeabilização dos pisos, como explica o coordenador de mineração do MGB, Leonardo Mascarenhas: “Alguns pisos estavam com problema de infiltração, e depois seguiu a questão de telhado”. No caso, todo o telhado do prédio principal e parte do telhado do prédio anexo foram renovados. “Isso tomou um tempo inesperado. Você mexe uma coisa, aparece outra e é sempre assim”.
O coordenador destaca que a reabertura não é uma reinauguração, pois mesmo que tenham alterado algumas exposições, foram mudanças mínimas, e não uma reforma das instalações propriamente. O MGB possui em sua estrutura 15 salas temáticas, além de um auditório com 125 lugares para realizações de reuniões científicas e palestras. No prédio anexo, há ainda uma unidade da Saladearte Cinema do Museu, que abriga também um café.
Uma das alterações que o público pode encontrar é a Sala de Gemas, que foi transferida e agora conta com uma ampliação da exposição. “Algumas dessas exposições são bem dinâmicas, outras não. A Sala do Petróleo, por exemplo, a gente não tem como ficar mexendo, mas as demais a gente acrescenta algumas coisas, modifica, então, de tempos em tempos fazemos alguns rearranjos”, explica Leonardo.
Com um acervo grande como o disposto pelo MGB, as possibilidades são diversas. Segundo o coordenador do museu, eles não expõem nem metade dessas 20 mil peças que possuem. As exposições acontecem no formato de rodízio para que tudo consiga ser exibido para o público.
Um desses locais em constante atualização e que vale ficar de olho a cada visita é a sala onde há uma exposição sobre quartzos. Talvez algo novo apareça na próxima ida ao local.
Para a geógrafa e responsável pelas visitas guiadas do MGB, Elizandra Pinheiro, visitar esse museu é “como se fosse um convite para o público conhecer um pouco sobre o solo que pisamos e os recursos que são encontrados ainda hoje no território baiano”. E para além desse olhar direcionado ao solo terrestre, há ainda a chance de conhecer um pouco sobre o universo.
Isso porque é no MGB que está localizada uma réplica do Meteorito do Bendegó, que caiu no sertão da Bahia no século 17 e seu original foi para o Museu Nacional ainda na época de Dom Pedro II. Além da réplica, existe também um fragmento desse meteorito em exibição.
“Somos os únicos aqui na Bahia onde o visitante pode visualizar um meteorito, que, querendo ou não, é uma rocha espacial e é raro encontrar uma dessas”, afirma Elizandra.
Para as crianças, o destaque do Museu Geológico fica para a Sala de Fósseis, que apresenta uma coleção de animais e vegetais pré-históricos que existiram na Bahia. Leonardo conta que há uma confusão porque pensam que essa é uma “sala de dinossauros”, mas ele explica que esses fósseis são de uma vida mais “recente”. “A maioria deles são mamíferos que viveram na chamada Era do Gelo”, conta o coordenador do MGB.
Entre os destaques estão o Mastodonte em duas versões, uma só com o esqueleto e outra uma réplica inteira, contendo pelo, tromba e todas as partes do corpo dele. Há ainda fósseis de outros animais, como o Megatério, que é uma das espécies de preguiça gigante, e o Smilodon, uma variedade de tigre dente-de-sabre que também viveu na Bahia.
Com uma reinauguração ainda mais recente, realizada no último dia 29 de dezembro, a Biblioteca Anísio Teixeira (BAT) saiu do seu endereço provisório, no Pelourinho, e volta para seu local de origem, na Ladeira de São Bento, da Avenida Sete de Setembro. Foram três anos de restauro conduzido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e que contou com um investimento de R$ 7,5 milhões oriundos do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDDD) do Ministério da Justiça.
10 anos
O diretor-geral da Fundação Pedro Calmon (FPC), Zulu Araújo, que em breve deve assumir a chefia de gabinete de Margareth Menezes no MinC, conta que foram mais de 10 anos de espera para que a biblioteca voltasse ao seu local de origem e que hoje ele é “um dos equipamentos mais modernos que o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas da Bahia possui”. Com 11 mil títulos em seu acervo, a BAT ainda conta com um auditório para 120 pessoas e equipamentos de tecnologia, computação e leitura digital disponíveis ao público.
Há ainda a Biblioteca Virtual Consuelo Pondé (BVCP), que está instalada nas dependências da BAT, contendo os acervos históricos e memorialísticos da história da Bahia, principalmente os que se referem à Revolta dos Búzios, aos 200 anos da Independência da Bahia, além da chamada Trezena da Liberdade, que trata da abolição da escravatura no Brasil.
Além do vasto acervo, a Anísio Teixeira é, por si só, um espetáculo arquitetônico que merece ser visitado. O casarão foi doado pela família de Mariana Vianna ao Governo Estadual em 1956 com a condição de ser uma escola ou uma biblioteca, e assim foi feito. Os visitantes podem passear por toda a estrutura, que possui um jardim e, em breve, um café-teatro. A diretora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas, Tamires Neves, acredita que essa arquitetura preservada é um dos grandes diferenciais do local, que está acessível para pessoas com deficiência, contendo rampas e elevadores.
“A proposta é que esse seja um local sempre dinâmico e o diferencial da Anísio Teixeira é essa mescla que encontramos no local, o antigo e o novo na sua arquitetura, e a possibilidade de atender a todos os públicos, que é o objetivo de todas as bibliotecas do nosso sistema”, destaca Tamires.
Diversas atividades culturais estão sendo pensadas para serem abrigadas nesta biblioteca, que não quer ficar conhecida apenas como um local para empréstimos de livros. Segundo Tamires, a proposta é que companhias de teatro possam atuar no local, além de sediar conversas com escritores e criar um diálogo com as escolas públicas da região.
“Queremos aproximar e trazer para a comunidade essa ideia de pertencimento, para que eles possam usar esse espaço, que tem salas multimeio, e assim possamos criar novos conteúdos sobre leitura”, afirma a diretora.
O espaço, recém-aberto, atualmente conta com visitas guiadas com o objetivo de mostrar para o público o que é esse novo local. Há um espaço dedicado às crianças que também está funcionando, com outras salas ainda sendo montadas. Os interessados em utilizar o auditório e, futuramente, o espaço do café para eventuais saraus, leituras dramáticas e bate-papos, podem entrar em contato com a biblioteca para mais informações e, assim, ajudar a montar essa agenda cultural.
Já o diretor-geral da FPC espera que a BAT seja a porta de entrada do conhecido Quarteirão das Artes, formado pelo Espaço Cultural da Barroquinha, Teatro Gregório de Mattos e do Cine Metha Glauber Rocha. “Agora nós temos a Biblioteca Anísio Teixeira quase que abrindo alas para esse corredor cultural”, pontua.
Projeção internacional
E há pouco tempo, em novembro, também foi reinaugurado, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), o Espaço Rubem Valentim, dedicado ao artista baiano, nascido em Salvador, e que foi o primeiro artista afro-brasileiro a ter uma projeção internacional, com participações na Bienal de Veneza e exposições em Roma.
O local, que antes era chamado de Sala Rubem Valentim, ganhou uma nova expografia pelas mãos do curador do MAM, Daniel Rangel. Desde 2021 no cargo, ele afirma que essa foi sua primeira urgência. “Reabrir era necessário porque é um espaço que a cidade, de certa forma, já tinha uma relação. O objetivo era trazer de volta para Salvador essa coleção que é o conjunto de obras mais importante de Valentim, que é o Templo de Oxalá”, diz o curador.
O conjunto a que ele se refere é formado por 20 esculturas e 10 relevos que o artista produziu entre os anos de 1975 a 1977 e foram exibidos na Bienal de São Paulo e depois doados ao MAM-BA pela esposa do artista, Lúcia Alencastro, em 1997. A reabertura do espaço fez parte das celebrações ao centenário do artista, que nasceu em 1922.
“Foi um projeto longo que começou ainda em 2021 e teve início com o restauro das obras, que depois passaram por uma exposição em São Paulo e uma outra em Brasília. Durante esse período que as obras estavam circulando, o Ipac assumiu e fez a reforma inteira do espaço”, conta Daniel.
Ele revela que entre as novidades da nova expografia estão uma linha do tempo e uma vitrine com uma série de documentos históricos sobre a vida e obra de Valentim. “A ideia era de não ser apenas uma sala, mas um espaço mesmo. Um espaço para se pesquisar a obra dele e um espaço de referência”.
Entre os documentos expostos estão cartas, manuscritos, folders, medalhas, prêmios, carteirinhas e objetos pessoais, coletados desde o final dos anos 1940, quando ele iniciou a carreira artística, até o final de sua vida.
Conexão
Além desses destaques, talvez a maior diferença neste novo local dedicado ao baiano seja a conexão dessas obras com a religiosidade do artista. Segundo Daniel, eles fizeram uma disposição das esculturas reproduzindo duas obrigações da festa de Oxalá, uma delas seria as Águas de Oxalá e a outra o Xirê, que é a festa do orixá.
“A montagem está sugerindo essa relação das obras com a questão espiritual também, como o próprio Valentim falava: ‘Não chame de esculturas, não chame de objetos, não dê nome’. Ele tinha um pouco essa relação com as obras dele, com essa questão de serem tótens, de serem coisas espirituais que tinham valor energético muito forte”, conta Daniel.
Para o curador, destacar esse aspecto das obras e do artista é mostrar que Valentim ia além da questão geométrica: “Antes de ser um artista geométrico, um artista abstrato, ele era um artista que tratava sobre questões espirituais, sobre questões que estavam além do entendimento formal da arte”.
Daniel sempre pede para quem for ao Espaço para ir em silêncio, porque, para ele, é um local que você tem que entrar e reverenciar as esculturas que estão ali: “A gente tem que aprender a valorizar realmente os nossos artistas, porque se a gente não fizer isso, com certeza outros não farão”.
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