MUNDO
Argentina define presidente em disputa acirrada entre Massa e Milei
Eleição está sendo avaliada como a mais incerta e acirrada do país
Por AFP
Os argentinos comparecem às urnas neste domingo, 19, para o segundo turno da eleição presidencial, uma disputa entre o ministro da Economia, o peronista Sergio Massa, e o candidato libertário e de extrema-direita Javier Milei, em uma disputa marcada pela grave crise econômica e em um clima de extrema polarização.
"Há desigualdade e escutam muito pouco o que a população tem a dizer. Os políticos precisam sair às ruas para ver a realidade, deveriam reservar algum tempo para viver como qualquer argentino, para ver se conseguem pagar o aluguel e comer", criticou Evelyn Ortiz, uma recicladora de 39 anos.
Com uma inflação de 143% em termos anuais e a pobreza que afeta 40% da pobulação, a Argentina enfrenta a pior conjuntura econômica nas últimas duas décadas.
A campanha eleitoral oscilou entre os sentimentos de irritação com a política tradicional representada por Massa e de medo com as ideias disruptivas de Milei.
As pesquisas mais recentes apontaram um empate técnico entre os candidatos, com um setor importante que votará sem convicção ou em branco.
No primeiro turno de 22 de outubro, Massa, centrista, recebeu 37% dos votos e Milei 30%. Terceira colocada, com 24%, a conservadora Patricia Bullrich, candidata da coalizão de centro-direita Juntos pela Mudança, anunciou apoio ao candidato libertário, assim como o ex-presidente liberal Mauricio Macri (2015-2019).
Os centros de votação abriram às 8H00 e a jornada eleitoral prossegue até 18H00 (mesmo horário de Brasília). O país tem 35,8 milhões de eleitores registrados.
Crise econômica
Para recuperar a terceira maior economia da América Latina, Massa (51 anos) e Milei (53) apresentam propostas antagônicas para uma sociedade que oscila entre a polarização e o desencanto.
Milei propõe medidas drásticas como a eliminação do Banco Central e a dolarização da economia para acabar com a emissão monetária e a inflação, enquanto Massa defende um Estado "forte e protetor" e um sistema gradual para ajustar as contas.
"As medidas de Milei seriam todas rápidas e simultâneas. Com Massa seria um processo paulatino", declarou à AFP o economista Víctor Beker, da Universidade de Belgrano.
"O que para Milei levaria dois meses, para Massa levaria quatro anos: chegar ao final do mandato com a taxa de câmbio liberada e equilíbrio nas contas", acrescentou.
A Argentina tem um acordo de crédito desde 2018 com o Fundo Monetário Internacional (FMI) de 44 bilhões de dólares, negociado pelo então presidente Macri, e desde 2019 um sistema de controle cambial.
Massa afirmou que se vencer pretende revisar o empréstimo, que já foi renegociado em 2022 com um compromisso para reduzir o déficit fiscal a 0,9% do PIB em 2024. Para Milei, que propõe cortar os gastos públicos em 15%, as metas do FMI não são suficientes.
"Porém, cortar o gasto social é complicado, porque tem impacto sobre a pobreza", alertou a economista María Laura Alzua, da Universidade de La Plata, que calcula que os subsídios para os serviços de energia elétrica, gás e transportes representam 2% do PIB.
Polarização
As eleições são marcadas por profundas divisões políticas e um clima de tensão após as denúncias do partido de Milei, A Liberdade Avança, sobre uma suposta tentativa de fraude, que finalmente foi negada pelos dirigentes da legenda.
"Estamos diante de uma das campanhas mais agressivas já presenciadas e a sociedade ficou ainda mais polarizada", declarou à AFP a consultora política Paola Zubán, que prevê um resultado muito apertado. "Será uma eleição voto a voto", destacou.
Neste ambiente de polarização, Milei foi vaiado e aplaudido pela plateia no Teatro Colón, ao qual compareceu na sexta-feira com a noiva Fátima Flores. E cinco pessoas foram detidas nos últimos dias por ameaças a Massa e sua família.
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