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Eleições na África do Sul encerram décadas de liderança do ANC

Com mais de 99,5% dos votos apurados, o ANC, obteve apenas 40,21% dos votos nas eleições legislativas

Por AFP

01/06/2024 - 13:16 h
Comissão eleitoral conta os votos em uma assembleia de voto em Joanesburgo, em 29 de maio de 2024, durante as eleições gerais sul-africanas
Comissão eleitoral conta os votos em uma assembleia de voto em Joanesburgo, em 29 de maio de 2024, durante as eleições gerais sul-africanas -

O Congresso Nacional Africano (ANC), no poder desde o fim do regime de segregação racial do apartheid e a eleição de Nelson Mandela em 1994, perdeu pela primeira vez a sua maioria absoluta no Parlamento e terá que procurar alianças para continuar governando a África do Sul.

Com mais de 99,5% dos votos apurados, o ANC, liderado pelo atual presidente Cyril Ramaphosa, obteve apenas 40,21% dos votos nas eleições legislativas de quarta-feira, uma queda considerável face aos 57,5% de 2019, segundo dados oficiais divulgados neste sábado,1º.

Este é o pior resultado para o partido que chegou ao poder em 1994 com o emblemático líder da luta contra o apartheid Nelson Mandela e que governa com maioria absoluta desde então.

"Temos conversado com todos, mesmo antes das eleições", disse na sexta-feira a vice-secretária-geral do ANC, Nomvula Mokonyane, afirmando que o órgão de decisão do partido definiria o rumo a seguir após o anúncio dos resultados finais.

"Tudo deve ser baseado em princípios e não em um ato de desespero", acrescentou, referindo-se à busca de futuros parceiros para governar este país com grandes minas de ouro, platina e diamantes.

Em segundo lugar, com 21,79% dos votos, está a Aliança Democrática, neoliberal, que carrega a imagem de um partido de minoria branca.

É seguida, com 14,61%, pelo partido Umkhonto We Sizwe (MK), criado há apenas seis meses pelo ex-chefe do ANC e ex-presidente Jacob Zuma, que foi a grande surpresa nestas eleições.

Em quarto lugar está a esquerda radical Fighters for Economic Freedom (EFF), com 9,48%.

A Comissão Eleitoral planeja anunciar os resultados finais no domingo.

Os 400 deputados da nova legislatura devem eleger este mês o novo chefe de Estado do país, que faz parte do grupo de potências emergentes Brics (juntamente com Brasil, Rússia, Índia e China).

"Ideais diferentes"

Os cinco líderes que se sucederam desde 1994 pertenciam ao ANC.

Se Ramaphosa, de 71 anos, quiser permanecer à frente do país, terá de decidir se procura aliados à direita ou à esquerda do espectro político.

Uma aliança com a DA, liderada pelo político branco John Steenhuisen, poderia encontrar resistência dentro do ANC. O seu programa, que apoia o mercado livre e o fim dos programas de empoderamento econômico para a população negra, está no extremo oposto do partido no poder.

"As negociações entre as partes ainda não começaram, mas foram abertos canais, conversas cara a cara", disse à AFP Helen Zille, membro do comitê diretor da DA.

O neto de Mandela, Mandla Mandela, deputado do ANC, destacou que a DA tinha "ideais diferentes" que complicavam uma aliança e que era mais provável que colaborasse com a EFF ou MK. No entanto, estas opções também poderiam provocar rejeição nos setores de mais moderados do ANC.

Para a analista Susan Booysen, as exigências da EFF de Julius Malema, um ex-militante do ANC, são vistas como "muito erráticas" e "imprevisíveis".

"Não estamos desesperados e não cederemos às nossas exigências ou aos nossos princípios", declarou Malema em uma coletiva de imprensa neste sábado.

Uma reaproximação entre Ramaphosa e Zuma, de 82 anos, que foi forçado a renunciar à presidência em 2018 devido a acusações de corrupção, também não parece fácil.

O porta-voz do MK, Nhlamulo Ndhlela, concordou. "Faremos compromissos com o ANC, mas não com o ANC de Cyril Ramaphosa", disse ele.

O ANC mantém a lealdade de muitos eleitores pelo seu papel de liderança na derrubada do regime de segregação. Mas para muitos eleitores, o partido que durante muito tempo encarnou o sonho do acesso à educação, à moradia e a outros serviços básicos não cumpriu com as suas promessas.

A sua queda é explicada, segundo analistas, pelo aumento da criminalidade, da pobreza e da desigualdade, em um país com desemprego em 32,9%, uma das taxas mais altas do mundo. Os casos de corrupção envolvendo autoridades do partido também minaram a confiança já gravemente prejudicada.

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