MUNDO
Ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, morre aos 100 anos
Kissinger ordenou bombardeios no Camboja e em Laos, mas acabou agraciado com Nobel da Paz
Por AFP
O ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, considerado um dos principais nomes da diplomacia dos Estados Unidos na era pós-Segunda Guerra Mundial, faleceu nesta quarta-feira, 29, aos 100 anos, anunciou sua associação.
"O Dr. Henry Kissinger, um respeitado acadêmico e estadista americano, faleceu hoje em sua residência em Connecticut", declarou nesta quarta-feira à noite a Kissinger Associates em um comunicado.
Artífice de uma aproximação com Moscou e Pequim na década de 1970, esse ganhador do Prêmio Nobel da Paz também teve sua imagem manchada por capítulos sombrios da história dos Estados Unidos, como o apoio ao golpe de Estado no Chile em 1973, a invasão do Timor-Leste em 1975 e, acima de tudo, a Guerra do Vietnã.
Kissinger, que celebrou seu centenário em maio, manteve a atenção de personalidades mundiais muitas décadas depois de deixar suas responsabilidades nos assuntos internacionais. Por exemplo, em julho, ele viajou para Pequim para se encontrar com o presidente chinês, Xi Jinping.
Vietnã
À frente dos esforços de Nixon para acabar com a desastrosa guerra dos Estados Unidos no Vietnã "com honra", Kissinger ordenou de maneira sigilosa bombardeios nos vizinhos Camboja e Laos com a esperança de cortar as linhas de abastecimento de Hanói.
Alguns historiadores calculam que centenas de milhares de civis morreram nos ataques.
Kissinger obteve um cessar-fogo no Vietnã em janeiro de 1973 após negociações em Paris e foi anunciado, com muita polêmica, como o vencedor do Prêmio Nobel da Paz, que o representante de Hanói nas conversações, Le Duc Tho, se recusou a aceitar.
O governo de Saigon, aliado dos Estados Unidos, caiu mais de dois anos depois - acredita-se que Kissinger buscava um "intervalo razoável" após o acordo de Paris para minimizar a percepção de uma derrota dos Estados Unidos.
Nobel da Paz
Heinz Alfred Kissinger, judeu alemão nascido em 1923 na Baviera, naturalizou-se americano aos 20 anos. Filho de um professor, ingressou na contraespionagem militar e no Exército americano antes de estudar em Harvard, onde mais tarde lecionou.
Com seus característicos óculos grandes, ele se tornou o rosto da diplomacia global quando o republicano Richard Nixon o chamou para a Casa Branca em 1969 como conselheiro de segurança nacional e, posteriormente, como secretário de Estado, cargos que ocupou de 1973 a 1975.
Kissinger continuou sendo um mestre da diplomacia até 1977, durante a presidência de Gerald Ford.
Foi então que iniciou a distensão com a União Soviética e o degelo nas relações com a China de Mao Tsé-Tung, durante viagens secretas para organizar a histórica visita de Nixon a Pequim em 1972.
Também liderou, sempre em segredo e paralelamente aos bombardeios em Hanói, as negociações com Le Duc Tho para encerrar a Guerra do Vietnã.
A assinatura de um cessar-fogo lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz, compartilhado com o diplomata norte-vietnamita em 1973, um dos mais controversos da história do prêmio.
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