MUNDO
Irã nega que avião ucraniano tenha sido derrubado por míssil
Por AFP

O Irã negou categoricamente nesta sexta-feira, 10, a tese de que o avião ucraniano que caiu na quarta-feira perto de Teerã tenha sido derrubado por um míssil, como afirmam vários países, como Estados Unidos, Grã-Bretanha e Canadá.
A causa da tragédia, em que morreram 176 pessoas, a maioria iraniano-canadenses, mas também britânicos, suecos e ucranianos, será anunciada no sábado, após uma reunião da comissão investigadora "na presença das partes (iranianas) e estrangeiras", segundo a agência de notícias Fars.
O incidente ocorreu na madrugada de quarta, logo após o Irã disparar mísseis contra bases militares utilizadas pelos militares americanos estacionados no Iraque em resposta ao assassinato pelos EUA contra um general iraniano em um ataque com um drone americano em Bagdá.
Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Holanda disseram ter informações de que o avião ucraniano, um Boeing 737, foi derrubado por um míssil iraniano, provavelmente por engano, e foram publicados vídeos nas redes sociais apontam para essa hipótese.
"Acreditamos que provavelmente o avião tenha sido derrubado por um míssil iraniano. Vamos deixar que a investigação se desenvolva antes de seguir uma determinação final", disse o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo.
O voo PS752 da companhia Ukraine Airlines International (UAI) decolou de Teerã rumo a Kiev e caiu dois minutos depois.
"Uma coisa é certa, este avião não foi atingido por um míssil", disse o presidente da Organização de Aviação Civil Iraniana (CAO), Ali Abedzadeh, em uma entrevista coletiva em Teerã.
Um vídeo de cerca de 20 segundos mostra imagens de um objeto luminoso que sobe rapidamente para o céu e toca o que parece ser um avião.
O vídeo, que não foi formalmente autenticado pela AFP, foi publicado por vários meios de comunicação, como o jornal "The New York Times".
"Vimos alguns vídeos", disse Abedzadeh. "Confirmamos que o avião ficou em chamas por cerca de 60 ou 70 segundos", embora, segundo ele, "não seja correto cientificamente que foi atingido por algo".
Um conselheiro do presidente iraniano, Hesamodin Ashena, pediu aos veículos de comunicação que publicam no exterior em farsi, idioma falado pelos iranianos, que "não participem da guerra psicológica" contra o Irã neste caso.
No início desta noite, Kiev anunciou que os especialistas ucranianos enviados ao Irã conseguiram acesso às caixas-pretas.
Canadá e Reino Unido disseram que o avião, um Boeing 737, foi abatido por um míssil iraniano, provavelmente por engano, e vários vídeos que apontam para esta tese foram postados nas redes sociais.
Ucrânia tem acesso às caixas-pretas
"As informações nas caixas-pretas são absolutamente cruciais" para a investigação, disse Abedzadeh. "Qualquer declaração antes da extração dos dados não é uma opinião de especialistas", ressaltou.
Cerca de 50 especialistas ucranianos chegaram a Teerã na quinta-feira para participar da investigação e da análise das caixas-pretas. Uma equipe canadense de dez pessoas está "a caminho" para tratar de questões relacionadas às vítimas.
"Nossa equipe tem agora acesso às caixas-pretas", afirmou nesta sexta o ministro ucraniano nas Relações Exteriores, Vadym Prystaiko.
Autoridades dos Estados Unidos entregaram ao presidente ucraniano Volodimir Zelenski "dados importantes sobre a catástrofe", segundo anunciou Kiev.
"Junto com o presidente Zelenski nos reunimos com autoridades americanas e recebemos informações que serão tratadas por nossos especialistas", disse no Twitter o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Vadym Prystaiko.
A Comissão Europeia pediu, por sua vez, uma "investigação confiável e independente". "Ainda não há provas conclusivas do que causou o incidente", assegurou o porta-voz europeu Stefan de Keersmaecker.
O secretário-geral da Otan, El secretario general de la OTAN, Jens Stoltenberg, apoiou a tese do míssil. "Não temos razões para não acreditar os relatórios que vimos de diferentes capitais aliadas", afirmou nesta sexta.
Uma equipe canadense de dez pessoas viajou ao Irã para se ocupar de questões relacionadas às vítimas, segundo Teerã.
A agência canadense de segurança nos transportes aceitou um convite da autoridade de aviação civil iraniana para participar da investigação.
Apenas alguns países do mundo, incluindo Estados Unidos, Alemanha e França, têm a capacidade de analisar caixas-pretas.
Na quinta, 9, o Irã convidou a Boeing, fabricante americana de aeronaves, para participar da investigação.
A Agência de Segurança dos Transporte dos EUA (NTSB, na sigla em inglês) anunciou que também participará.
Na França, o Escritório de Investigação e Análise para Segurança da Aviação Civil (BEA, na sigla em francês) disse que recebeu um aviso oficial do Irã e "elegeu um representante credenciado para participar da investigação".
Segundo o relatório preliminar da aviação civil iraniana, várias testemunhas observaram um incêndio no avião.
A aviação civil deu a entender que, entre as testemunhas, havia pessoas que estavam no chão, mas também outras que estavam em outra aeronave acima do Boeing.
Esta é a pior catástrofe da aviação civil no Irã desde 1988, quando o Exército americano alegou ter abatido por engano um Airbus da Iran Air. Nesta tragédia, 290 pessoas morreram.
É também o acidente mais mortal com a presença de vítimas canadenses desde 1985, quando o ataque a um Boeing 747 da Air India em 1985 matou 268 canadenses.
A Suécia suspendeu todos os voos diretos ao Irã, e companhias aéreas como Luthansa e Austrian Airlines também cancelaram os voos rumo a Teerã.
A tragédia ocorreu em meio a graves tensões entre o Irã e os Estados Unidos.
Washington anunciou nesta sexta novas sanções contra oito funcionários do regime iraniano, e os maiores produtores de aço, alumínio, cobre e ferro do país.
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