EDITORIAL
A lama da negligência
Confira o Editorial do Jornal A TARDE deste sábado, 27
Por Editorial
Impossível esquecer e deixar de cobrar por justiça, quando a indignação cresce pari passu com a impunidade, como se pode lamentar, cinco anos depois da lama do vazamento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais.
Foram 272 vidas brutalmente ceifadas, doando mais ritmo a uma longa série de ocorrências, todas unidas por hífen, o da negligência ou compreensão demasiada, dada a nulidade das penas, incentivando o descaso e novas dores.
Não se tem notícia de condenados pela gigantesca mortandade, assim como ocorrera, também nas Alterosas, em Mariana, reforçando a plausibilidade de hipótese lançada na França, nos anos 1960: “o Brasil não é um país sério”.
Como demonstra a evidência de descontinuidade no trabalho de fiscalização, não se consegue aprender com erros, pois um e outro desastre guardaram distância nas categorias “espaço”, de 150 quilômetros, e de “tempo”, três anos.
Além do relaxamento moral de uma nação incompleta, há falta de memória, mas com certeza não será este o caso de mães dos 242 jovens mortos e 636 feridos com queimaduras na Boate Kiss, em Santa Maria, Rio Grande do Sul.
A coletânea dos episódios de desprezo pela segurança poderia candidatar a nação ao livro dos tristes recordes, se acrescentado o incêndio resultando em 10 juvenis do Flamengo do Rio de Janeiro indo a óbito na concentração “Ninho do Urubu”.
A recomendação atribuída aos estoicos desde o século 1, de antever o mal a fim de prevenir sofrimento, está longe de chegar à mentalidade dos responsáveis pelas gestões, pública e privada, ao invés, as omissões pululam.
Como se as imagens fossem captadas em câmera lenta, associada ao mecanismo de um macabro “replay”, a cidadania assiste, perplexa, à escalada de falhas, apesar de todos os indícios, saindo no lucro funerárias e cemitérios.
Diante de um jeito de ser mais ou menos responsável; mais ou menos atento; mais ou menos cuidadoso; resta proceder exame de consciência para admitir o único veredito possível diante de tanto escárnio. Conclusão: o país é culpado!
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