OPINIÃO
Cadê os votos da esquerda em Salvador?
Confira o texto opinativo do professor Cláudio André de Souza
Por Cláudio André de Souza*
Alguns fatores ajudam a explicar o resultado catastrófico da esquerda em Salvador. Em primeiro lugar, esta foi a primeira eleição municipal na capital baiana desde a ascensão do PT ao governo estadual nas eleições de 2006 que a tese da pulverização de candidaturas da base na capital foi descartada, vencendo a nova estratégia de unificar a base em torno da candidatura do vice-governador Geraldo Júnior (MDB).
Em segundo lugar, a escolha de Geraldo Júnior contemplou o MDB como um aliado importante, mas o que levou o senador Jaques Wagner (PT) a liderar a estratégia foi “embaralhar” a candidatura de Geraldo no campo ideológico do centro e da direita em Salvador, contando certamente com a transferência de votos da esquerda em uma conta simples que buscasse atingir um piso acima dos 35,49% de votos recebidos por Jerônimo no segundo turno na capital baiana.
Há ainda um terceiro elemento: a força do lulismo em Salvador dava como certa o potencial de Geraldo capturar o eleitorado mais à direita até mesmo próximo das lideranças pós-carlistas em Salvador, já que os votos dados a Lula e a ACM Neto (União) em 2022 chancelaram um viés pragmático no comportamento eleitoral dos soteropolitanos.
O grande imbróglio desta estratégia veio com um sinal trocado: enquanto a pré-campanha tardia de Geraldo patinou nos primeiros meses de 2024 para torná-lo mais conhecido dos públicos lulista e petista, o vice-governador não conseguiu sequer aprofundar uma relação de representação política com o público da esquerda, Bruno Reis surfou na estratégia de conduzir uma pré-campanha de reeleição voltada a capturar o eleitorado lulista mediante o convencimento em torno da continuidade da atual gestão municipal. Claramente, a imagem do prefeito reeleito na propaganda eleitoral e nas redes como “gente da gente” teve como objetivo aproximá-lo da semiótica popular adotada pelo lulismo com foco na população com menor renda e escolaridade.
Qual foi o erro tático? Diante de um candidato adversário muito forte, mais uma vez a base governista liderada pelo PT deixou para se apresentar ao eleitorado de forma tardia sem que a liderança de Geraldo fosse vista como genuína do campo da esquerda. Por esta razão, o crescimento na reta final de Kleber Rosa (PSOL), conquistando 10,43% dos votos válidos foi um recado claro de que o eleitorado de esquerda rechaçou a estratégia do PT em Salvador.
O impacto eleitoral negativo veio a galope. O PT obteve na eleição de 2020, 94.775 votos a vereador e 67.382 votos em 2024, uma redução significativa de 28,92% de votos nas urnas. O partido perdeu três cadeiras na Câmara Municipal, enquanto o PSOL saiu de uma para duas vagas. Diante deste fracasso, como recomeçar o trabalho partidário da esquerda em Salvador?
*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB).
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