OPINIÃO
De Iya Obá Biyi a Iya Ode Kayode: reis nascidos para alegrias
Por Gildeci de Oliveira Leite

O ofício de professor recomenda que eu explique nomes que compõem o título deste texto. Iya significa mãe, palavra yorubá como as outras que serão traduzidas neste início. Obá Biyi é o uruko de Mãe Aninha, fundadora do Terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá. O uruko é nome pelo qual se identifica a pessoa iniciada nos candomblés da tradição nagô-ketu. Portanto, o uruko de Mãe Aninha é "o Rei nasceu aqui" e o de Mãe Stella de Oxóssi é Ode Kayode: "o caçador traz alegria". Por isso o trecho "Reis nascidos para alegrias". Elas são mulheres, então Iya antecede as identificações dos orixás são masculinos.
Se Mãe Stella é atual soberana do Ilê Axé Opô Afonjá, temos ainda que recordar da sucessora da fundadora: Mãe Bada de Oxalá; da terceira matriarca: Mãe Senhora, Mãe de Santo de Mãe Stella, e de Mãe Ondina de Oxalá, mas conhecida como Mãezinha, antecessora da atual matriarca. As alegrias trazidas por todas essas senhoras e por aqueles que proclamam e seguem os ensinamentos de Xangô Afonjá podem ser vistas em diversas conquistas de comunidades negras ao longo de tantos anos fora de África. Mas, agora quero lembrar especialmente de duas grandes celebrações, que simbolizam um conjunto de vitórias da afro-brasilidade. Uma delas concretizou-se em 13 de julho de 2013, no dia da comemoração dos 144 anos de nascimento de Mãe Aninha. A outra se consolida neste 12 de setembro de 2013, quando Mãe Stella completa 74 anos de iniciada. No sábado, dia de Oxum, orixá de Mãe Senhora, último 13 de julho, os Correios lançaram o selo comemorativo aos 103 anos do Afonjá.
Conforme Mãe Stella, a data foi escolhida por tratar-se no aniversário de nascimento de Iya Obá Biyi. Nesta segunda quinta-feira de setembro acontece a posse da primeira sacerdotisa afro-brasileira em uma Academia de Letras. Quinta-feira é dia de Oxóssi. Nem é preciso falar da importância no cenário brasileiro e universal e repetir que estas alegrias consolidam vitórias que a cultura afro-brasileira tem conseguido ao longo de anos, apesar do preconceito e da perseguição.
A celebração é do reconhecimento. Mãe Stella e o Afonjá possuem representatividades e ressonâncias sociais com as honrarias advindas da ancestralidade e dos orixás. Os títulos da Casa da Energia de Xangô Afonjá e todos os outros atribuídos às pessoas de Axé já os qualificam como autoridades e agraciados. Portanto, se as homenagens e os títulos da sociedade civil podem soar como um agraciamento àqueles que os recebem, neste caso quem recebe a graça são os que oferecem as homenagens.
O reconhecimento traduz-se na assunção da importância do papel de destaque do Ilê Axé Opô Afonjá e de Mãe Stella para o cenário cultural. Sendo assim, se a comunidade afro-brasileira ganha com estas vitórias, todos aqueles que negaram o reconhecimento à cultura afro-brasileira, até hoje, ganham também. Ao aceitar as homenagens e honrarias da sociedade civil são doados a estes organismos valores afrodescendentes incomensuráveis, deixando associar valores negro-brasileiros às representações que pouco ou nada reconheciam a religiosidade e a cultura negras.
Um jogo de trocas necessário ao convívio em comunhão e com fraternidade. Os Correios, a Academia de Letras da Bahia e tantos outros simbolicamente pediram e pedirão a bênção a Mãe Stella e a todas as suas antecessoras, nela representadas. Assim, já fizeram a Ufba e a Uneb, reconhecendo a atual matriarca Afonjá Doutora Honoris Causa. Pedir a bênção faz mais bem a quem pede do que a quem a concede. Mas certamente, ouso-me a inferir, Mãe Stella com sua humildade, agradecerá por ter abençoado aqueles que pedem a força e a presença da energia Afonjá.
Felizes aqueles que recebem o Axé de todas essas mulheres representadas em Ode Kayode. Além do anel no dedo e sempre aos pés de Xangô, o povo de Axé agora possui selo nos Correios, brasão impresso em cartas do Brasil e o fardão da Academia de Letras da Bahia. Salve Xangô! Salve Mãe Aninha, Mãe Bada, Mãe Senhora, Mãe Ondina, Mãe Stella e todo o povo de Axé!
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