OPINIÃO
Editorial - O mau exemplo da Índia
Por Da Redação
Comete o erro de desmesura todo aquele governante despreparado, ética ou cognitivamente, para seguir recomendações de ordem sanitária e científica, revelando teimosia típica dos turrões, ao permitir-se guiar por vieses político e ideológico. O mau exemplo da vez vem da Índia, onde o governo decidiu considerar controlada a pandemia, autorizando festas de casamento e presença de torcida nos jogos de críquete, esporte popular herdado da colonização britânica.
As desafiadoras aglomerações, rebaixando o coronavírus a adversário vencido, ampliaram-se em longas filas nas eleições e a permissão para celebrar o Kumbh Mela, ritual no qual os indianos costumam banhar-se aos milhões, nas águas consideradas sagradas do rio Ganges. Admirado pela espiritualidade, o povo indiano chora efeitos de tamanho desdém pela infecção, ao acender das piras, para cremar em qualquer canto de rua, cadáveres insepultos de pessoas queridas, cujo capítulo final foi escrito na agoniada falta de ar.
Embora em proporção menor ao Brasil, o país do pacifista Mahatma (Grande Alma) Gandhi, líder da independência, já consegue isolar-se na vice-liderança das piores gestões da saúde pública do planeta. A tendência é ultrapassar a média brasileira, com a sinalização do triste avanço, 3,5 mil óbitos no sábado e mais de 400milnovosportadoresdocoronavírus, como agravante de criação de nova cepa, imitando, também neste item, o gigante adoecido da América do Sul.
Mesmo sem referir-se à doença como “gripezinha ou resfriadinho” ou fazer propaganda de vermífugo e remédios ineficazes, o primeiro-ministro Narendra Modi não poderia ter arriscado tanto, uma vez já saber, pelo fiasco brasileiro, como não se deve enfrentar a peste. Apostou errado, expondo a população ao medo e adiando uma improvável volta à normalidade, ao inverter o sonho em pesadelo, vivido em vigília de aflição, representada pela falta de oxigênio para os doentes, leitos e medicamentos, lição possível de já ter sido aprendida.
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