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Editorial - Vexame vetado

Confira o editorial do Grupo A TARDE desta quarta-feira

Publicado quarta-feira, 30 de agosto de 2023 às 06:00 h | Autor: Editorial
Golpistas durante invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023
Golpistas durante invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023 -

A fonte inesgotável de absurdos, verificados no convívio entre os brasileiros, foi melhor representada, até hoje, por um embaixador na França, em 1968, ao pensar a célebre frase, tão breve quanto irrefutável: “O Brasil não é um país sério”.

A nova demonstração da tendência ao ridículo, em fase de reversão na atual conjuntura, veio de Porto Alegre, onde o calendário da capital gaúcha havia instituído o 8 de janeiro como o Dia do Patriota, em alusão às invasões em Brasília. Nada demais em venerar a figura daqueles dispostos a amar o seu rincão, o problema é o inusitado de reservar a data do ataque às sedes dos três poderes para marcar a efeméride, em total paradoxo de lógica clássica.

Restituiu o bem da dignidade, surrupiado à nação pelos porto-alegrenses, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, ao acolher pedido da Procuradoria-Geral da República, suspendendo a aplicação da esdrúxula lei.

Além de gerar risco de dano irreparável à ordem democrática, o magistrado interpretou um cenário sem retoques do risco de a população eleger legisladores irresponsáveis, como o deste episódio difícil de acreditar.

No luminoso texto de veto ao desatino, foi citado ainda como a produção de violência pode despertar pulsões de morte contrárias ao processo civilizatório, gerando atos criminosos inconcebíveis em um Estado democrático e de direito.

Mais apropriado, mantida a rima, seria aprovar o Dia do Idiota para vereadores de tamanha estultícia a ponto de reservar uma data para homenagear ações organizadas e praticadas para desestabilizar o país, em uma recidiva de 1964.

Em vez de perceberem o vexame e a vergonha de atacarem símbolos nacionais construídos à custa de sangue e suor, os autores pretendiam promover a exaltação das ruínas, ao prestarem culto à prática abominável.

A Câmara Municipal não encontrou escapatória, exceto reconhecer a infelicidade da proposta, após pressão popular, com a revogação, antes dos outros 10 ministros do Supremo arrazoarem sobre o deslize em plenário.

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